O jovem francês Pierre Avia conseguiu arrancar elogios nas publicações especializadas em música eletrônica como Muzik, iD e DJ Mag, com o seu single, "Avia", quando lançado em 1999. A música virou "single da semana" em todas estas publicações e chegou a fazer parte dos sets de DJs tão díspares como Gilles Peterson e Laurent Garnier. Mesmo assim, o disco não fez sucesso comercial.
Três anos depois, Avia lançou seu primeiro álbum solo "I see that Now..." (
Catalogue, 2002), e, no mesmo ano, assinou a trilha de "As Invasões Bárbaras (Les Invasions Barbares)" do diretor canadense Denys Arcand, concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro e roteiro original, em cartaz em São Paulo.
Mesmo com esta visibilidade, o álbum de Avia continua fora das listas de mais vendidos. Se mantém como disco de vanguarda, restrito ao público que costuma fuçar as prateleiras de música eletrônica. Uma pena para os não-iniciados. O álbum traz uma mini odisséia eletrônica. Há incursões no ambient, no trip hop e, como sugere a capa, um mini giro pelo mundo em forma de som. O álbum traz faixas para chacoalhar o esqueleto, outras para esquentar o coração e ainda outras para alimentar a alma.
Além de uma ilustração do mapa mundi com pontos que indicam os títulos das 11 faixas, não há nenhuma pista no encarte sobre o que o álbum traz.
Não há créditos ou ficha técnica. Ouça a estranha, mas deliciosa,
"Why Should I Cry" em
alta ou em
baixa velocidade. A batida é sincopada, downtempo, e traz o vocal filtrado em um vocoder do próprio Avia. A letra é esta: "Why Should I Cry / Now You're Gone". Há uma quase batida tocada num violão acústico, contrastando com scratches nas pick-ups.
Há só mais uma faixa com vocal neste álbum, o resto é instrumental. A bela "Love & Rise", com o alemão
Raz O'Hara nos vocais. Ouça aqui em
alta ou em
baixa velocidade. A turma dos ingleses de
Alpha aparece nesta e em várias outras faixas do álbum como mixadores e produtores.
No álbum de Avia, assim como nos álbuns de Alpha, há várias faixas que fariam boas trilhas sonoras de dramas íntimos, cenas introspectivas. Ouça a triste "Exil Exit" em
alta ou em
baixa velocidade. Esta versão é retrabalhada por Corin Dingley do Alpha. A versão original está no EP "All That Jazz" que Avia lançou em 1998.
Outra forte referência ao cinema no álbum fica por conta da faixa "Nakeima", que cita a trilha sonora de
Vladimir Cosma para o filme francês "Diva", de 1981, do diretor
Jean-Jacques Beineix. Ouça "Nakeima" em
alta ou em
baixa velocidade.
Na mesma linha, a faixa "Westernize" é dramática e irônica. A batida é Motown, anos 60, embora mais lenta, com uma simples melodia tocada no sintetizador e alguns acordes de piano acompanhando. Soa como alguém que está tentando acertar o "Motown Sound" num teclado qualquer, sem muito sucesso. Ouça "Westernize" em
alta ou em
baixa velocidade.
O som de Avia é suave sem ser o clichê "lounge", traz elementos sonoros de vários lugares, e é mais abstrato do que qualquer ligação com algo étnico. O álbum é uma prova de que a música eletrônica continua desafiando classificações fáceis e que vai muito (bem) além das pistas. Além do mais, é uma prova de que não só de Air e Cassius vive a música eletrônica francesa. Agora é só esperar que Avia tenha um tempinho para compor e juntar material novo para um próximo álbum. Pierre Avia