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27/10/2007 - 04h45
Mesmo aborrecido, Arctic Monkeys triunfa no Rio de Janeiro

GUSTAVO MARTINS
Enviado especial ao Rio


Publius Vergilius / UOL

Alex Turner, cantor e guitarrista do Arctic Monkeys, no Rio de Janeiro (26/10/07)

Alex Turner, cantor e guitarrista do Arctic Monkeys, no Rio de Janeiro (26/10/07)


Com a mesma velocidade que surgiu e mudou tudo no mundo pop, os Arctic Monkeys parecem já ter se aborrecido dele --ou pelo menos da parte que recomenda ser simpático nos shows. Não adiantou a platéia lotada do Tim Festival carioca cantar todas as músicas (o vocalista Alex Turner e banda já estão acostumados com isso na Europa e Estados Unidos), a fleuma britânico se manteve durante todo o show, com direito a poucos "obrigados" e um ou outro "vocês estão bem?" em inglês.

Após toda a animação demonstrada pela cantora Björk no mesmo palco algumas horas antes, não custava exercitar um pouco de bondade. Mas não faltaram boas músicas e momentos de euforia para a longa fila de fãs que cruzava o pátio da Marina da Glória, entre eles gente que esperava desde as 9h da manhã da sexta para conseguir o lugar mais próximo da banda no show --que só começou à 1h10 de sábado.

O set list foi exatamente o mesmo do show na Argentina na última quarta-feira (24), incluindo a introdução instrumental "Sandtrap" (que ninguém entendeu direito) seguida de "This House Is a Circus", do segundo e mais recente disco da banda, "Favourite Worst Nightmare" (2007). A energia da platéia apareceu na versão brutal de "Brianstorm", primeiro single desse mesmo disco, na qual o público fazia um raro "coro de baixo" cantarolando as linhas do instrumento.

Até o fim de "Still Take You Home" (essa do disco de 2006, "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not"), nenhuma palavra com a platéia. Alex Turner, cuja guitarra soava um pouco mais baixo do que deveria, só falou com o público após "Dancing Shoes".

Na seguinte, "From Ritz to the Rubble", acendem-se pela primeira vez as luzes do palco simples, formado apenas por elas e um pano prateado ao fundo. O show não é nada formal, tem paradas pra afinar instrumentos e conversas entre a banda. Do nada, a casa vai abaixo ao som de "Fake Tales of San Francisco", uma das melhores letras de Turner.

A banda parece com pressa. Toca "Balaclava" no dobro da velocidade original e, em "Old Yellow Bricks", a diferença entre o volume das guitarras de Alex Turner e Jamie Cook se torna realmente incômoda. Mas nada que impeça a catarse de "I Bet That You Look Good On The Dancefloor", hit arrasa-quarteirão que colocou a banda no mapa, seguramente um dos melhores refrões do século.

O clima seguiu triunfante com "Fluorescent Adolescent", outra grande letra de Turner que era cantada com muita alegria pelos presentes. Novamente fazendo um paralelo com Björk, se a islandesa ataca o lado mais instintivo das pessoas com sua música, os Monkeys conquistam pela eloqüência racional de suas crônicas urbanas.

Seguem "Teddy Picker", "D Is For Dangerous", "Do Me a Favour" e "If You Were There, Beware", todas boas o suficiente para manter o show rodando. Ao fim desta última, Turner sai da modorra e arrisca uma porção de frases que, é seguro dizer, ninguém entendeu no recinto. Restou ao vocalista puxar a música nova "The Nettles", nada muito inovadora musicalmente.

Após uma trinca pesada ("The View From The Afternoon", "Leave Before the Lights Come On" e "When the Sun Goes Down"), a platéia sente que o fim está próximo, e aplaude o quanto pode. Não tem choro: "A Certain Romance' encerra o show às 3h, um pouquinho esticada, é fato, mas com um desapego de quem não vai voltar para o bis. E, como que seguindo as ordens de Turner, a platéia abandona o recinto antes que as luzes se acendessem.