Músicos veteranos voltam a ser calouros na superbanda Chickenfoot; leia entrevista

GARY GRAFF

The New York Times Sindycate

  • Divulgação

    Michael Anthony, Sammy Hagar, Chad Smith e Joe Satriani, integrantes do Chickenfoot

    Michael Anthony, Sammy Hagar, Chad Smith e Joe Satriani, integrantes do Chickenfoot

Não era para a banda se chamar Chickenfoot (pé de galinha). Não mesmo.

“Era uma brincadeira”, diz o cantor Sammy Hagar.

Originalmente era um “nome de estimação”, que ele diz que ele, Michael Anthony, o ex-baixista do Van Halen, e o baterista Chad Smith, do Red Hot Chili Peppers, usavam quando tocavam juntos na Cabo Wabo Cantina de Hagar, em Cabo San Lucas, México.

Mas agora, ele diz, a superbanda, que também conta com o guitarrista Joe Satriani, mais ou menos está presa a ele.

“Eu recebo muitas críticas de todos –‘Por que o nome idiota?’” reconhece Hagar rindo. “O que aconteceu foi que continuamos nos referindo a ela como Chickenfoot, e agora, se você pesquisar isso no Google ou algo assim, remete diretamente a nós.”

Então fica Chickenfoot.

“Sem tentar, ou querer, nós criamos um nome para esta banda”, diz Hagar, “e ficaria confuso se tentássemos mudá-lo. Você diz para alguém o novo nome da banda e a pessoa pergunta: ‘Quem?’ E então você diz, ‘Sammy, Mikey e Chad’, e ela completa, ‘Ah, sei, o Chickenfoot’. Então pra que raios...”

O Chickenfoot lançou seu autointitulado álbum de estréia em junho e ele estreou no 4º lugar na parada Billboard 200. O primeiro single, “Oh Yeah”, chegou ao primeiro lugar na parada de faixas de rock. E graças à pausa atual do Red Hot Chili Peppers, o Chickenfoot pôde até mesmo pegar a estrada, apesar de Smith ter agravado uma velha lesão no ombro durante a turnê europeia da banda, forçando o cancelamento de alguns shows.

Todavia, esses quatro músicos bem estabelecidos estão desfrutando ser calouros de novo, para variar, e também saboreando a associação entre eles.

“Sammy é um cara que se empolga fácil”, diz Smith, o “bebê” do grupo, com 47 anos. “Quando encontra algo bom, ele a prende nos dentes e não solta. Ele realmente quer tocar seriamente (com o Chickenfoot): ‘Nós temos que mexer com as pessoas!’”

“Então é muito divertido”, diz o baterista. “Isso me mantém longe de problemas.”

Por sua vez, Satriani diz que é “a conexão inesperada de nossas raízes musicais” que torna o Chickenfoot tão atraente para ele.

ASSISTA AO PRIMEIRO CLIPE DO CHICKENFOOT PARA A MÚSICA "OH YEAH"

“Nós todos temos essas influências compartilhadas que nunca esperaríamos”, diz o guitarrista de 52 anos. “Eu acho que eles ficaram bastante chocados em quanto eu gostava de tocar de modo blueseiro, de raiz, e fiquei igualmente surpreso ao descobrir que Sammy curtia Jimmy Reed e Chad curtia rock and roll antigo, anos 50, e que toca isso tão bem. E Mike conhecia todo esse material também.

“Logo, não era apenas Chad sendo funkeiro como é no Chili Peppers, Mike apenas fazendo o que fazia no Van Halen, Sammy sendo o Sammy habitual e Joe tocando um milhão de notas por segundo”, diz Satriani. “Nós nos unimos devido a algo que foi inesperado para nós e era real, palpável e ótimo.”

O Chickenfoot existia inicialmente, como coloca Hagar, 61 anos, apenas como um grupo “por diversão” que tocava covers sempre que ele, Anthony e Smith se encontravam. Mas em 2007 o trio começou a conservar sobre fazer algo mais com ele. Quando Anthony foi excluído de modo controverso da turnê de reunião do Van Halen com o cantor original, David Lee Roth, em 2008, ao qual Hagar substituiu em 1985, o momento parecia oportuno para apostar no empreendimento.

Isso também significava aumentar o calibre da musicalidade e trazer Satriani, que Hagar diz ser a “arma secreta” do Chickenfoot.

“Eu disse: ‘Ok, nós precisamos de um guitarrista de verdade aqui’”, diz Hagar. “E é engraçado, pois de todas as pessoas que você poderia imaginar participando desta banda, dos Steve Vais aos Eric Johnsons, nós nunca pensamos em outra pessoa além do Joe. Foi, tipo, uma intervenção kármica ou divina, ou algo assim.”

“Eu telefonei para ele e ele disse: ‘Isso soa legal, cara. Quando podemos nos encontrar?’” lembra Hagar. “E eu disse: ‘Tipo, hoje!’”

O Chickenfoot fez sua primeira apresentação formal em fevereiro de 2008, como parte de um concerto de Hagar em Las Vegas, tocando “Rock and Roll” (1972) do Led Zeppelin e “Dear Mr. Fantasy” (1967) do Traffic. Então Hagar e Satriani começaram a compor material novo.

“Nós nos reunimos por dois dias e Joe e eu compusemos sete boas idéias para canções”, diz Hagar, acrescentando que uma das canções, “Learning to Fall”, nasceu no Planet Us, um grupo de vida breve que ele, Satriani e Anthony tinham formado com dois membros do Journey. “Voltando para casa naquela noite, eu pensei: ‘É melhor trazermos rápido os outros para cá, porque Joe e eu vamos acabar compondo todo o álbum sem eles.’”

Apesar de Hagar e Satriani permanecerem o núcleo de composição de grupo, o Chickenfoot conseguiu criar em massa, incluindo uma faixa chamada “Down the Drain”, que Satriani diz ser “algo que nunca vi em todos meus anos gravando”.

“Nós estamos todos preparados e todo mundo está apenas dedilhando, esquentando para tocar algo e, de repente, do nada, nós simplesmente começamos essa pequena jam espontânea. Sam ali no canto, na cabine de voz, começa a cantar, pensando que é uma canção nova que eu trouxe naquele dia, e nós simplesmente continuamos tocando.” 

“Cerca de oito minutos depois nós paramos e percebemos que tínhamos acabado de tocar aquela música incrível, e a primeira coisa que fizemos foi dizer: ‘Alguém gravou isso?’” diz Satriani. “E, é claro, nosso produtor entrou correndo no estúdio dizendo: ‘Isso foi incrível! Era a canção nova da qual vocês me falaram?’ E nós, tipo, ‘Não, nós acabamos de improvisar isso’.”

“Nós todos ficamos espantados”, diz o guitarrista. “Nós voltamos e retocamos, é claro, acrescentamos algumas coisas, mas foi um evento incrível. Ser capaz de fazer isso no estúdio com uma banda é realmente algo especial.”

Satriani diz que o Chickenfoot ficou “tímido em colocar baladas” no álbum, mas conseguiu compor umas duas assim mesmo. Ao todo o grupo trabalhou 12 canções, 11 das quais estão no álbum. A faixa extra se chama “Bitten by the Wolf”, segundo Hagar.

Mesmo assim, os shows do Chickenfoot são apresentações de duas horas que incluem todo o álbum, mais covers –incluindo “Highway Star” (1972) do Deep Purple– e muita improvisação prolongada.

“É um pouco como o Montrose quando foi formado”, diz Hagar, se referindo à banda da qual fez parte de 1973 a 1975. “Há muita intensidade nisso. Você chega a pensar que temos apenas 20 anos, que estamos tentando chegar lá de novo.”

Todos os quatro membros veem o Chickenfoot como uma banda que veio para ficar, apesar de seus compromissos externos –principalmente de Smith com o Chili Peppers, que está prestes a começar a trabalhar em um novo álbum. Mas Hagar está confiante de que o Chickenfoot prosseguirá, dizendo que há “algumas ideias incríveis” já prontas para o próximo álbum.

“O grande luxo desta banda é que todos nós estamos financeiramente bem, todos já temos fama e fortuna, então não agimos tipo, ‘Minha nossa, nós temos que trabalhar! Eu preciso de dinheiro!’ ou ‘Nós vamos fracassar se não fizermos isso ou aquilo’”, diz Hagar. “Nós estamos aqui apenas para tocar música e nos divertirmos fazendo isso. Então se precisarmos ajeitar as coisas por uma semana de cada vez e trabalhar aqui ou acolá entre o trabalho dos Chillis ou de outra pessoa, nós podemos fazer isso.”

Satriani concorda que o Chickenfoot não vai desaparecer.

“Essa é uma conexão que acontece uma única vez na vida”, diz o guitarrista, “e ninguém quer vê-la evaporar. Nós todos somos adultos agora, então acho que podemos fazer com que funcione. Com certeza eu sei que temos material suficiente para alguns álbuns dentro de nós.”


“Nós apenas temos que descobrir como encaixar dentro de nossas agendas malucas.”

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.)

 

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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