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Com boa voz e casa cheia, Robert Plant mantém tom na world music em show de São Paulo

Robert Plant, ex-vocalista do Led Zeppelin, faz show no Espaço das Américas, em São Paulo, para apresentar seu novo trabalho com a banda The Sensational Space Shifters (22/10/2012) - Leonardo Soares de Souza/UOL
Robert Plant, ex-vocalista do Led Zeppelin, faz show no Espaço das Américas, em São Paulo, para apresentar seu novo trabalho com a banda The Sensational Space Shifters (22/10/2012) Imagem: Leonardo Soares de Souza/UOL

José Norberto Flesch

Do UOL, em São Paulo

23/10/2012 03h03

Sabe-se lá por qual motivo, chega uma hora na carreira de um astro do rock em que ele cansa do gênero e passa a se dedicar à world music ou a qualquer tipo de música pouco associado ao que o consagrou. Assim como Ritchie Blackmore (ex-Deep Purple), Sting (ex-Police) e Peter Gabriel (ex-Genesis) --todos ingleses--, Robert Plant, ex-Led Zeppelin, também entrou nesta fase há alguns anos. Na segunda-feira (22), ele mostrou no Espaço das Américas, em São Paulo, que ao menos não renega seu passado e incluiu oito canções do Led em um set de 15 músicas.

O público foi lá para vê-lo cantar coisas do Led Zeppelin e aplaudiu cada estrofe que ele soltou dos temas do quarteto inglês, desfeito em 1980 e reunido para um show em 2007 --o concerto foi transformado em filme e será exibido no Brasil na próxima semana. Aos 64 anos e envelhecido, mas ainda com boa voz, Plant, vestido com blusa vermelha de listras pretas que lembravam o uniforme do serial killer Freddy Krueger, da série de filmes "A Hora do Pesadelo", apresentou versões curiosas de músicas de sua antiga banda.

O que não significa que o resultado tenha sempre agradado. Destruiu "Black Dog" de tal forma que, se fosse uma banda qualquer e não ele próprio, provavelmente seria odiada por toda a carreira. Por outro lado, "Going to California", do álbum "Led Zeppelin IV" (1971), ficou ótima com arranjos semi-acústicos próximos aos originais.

Quanto mais reconhecia a música, mais a plateia que lotou o Espaço aplaudia. Plant ainda atinge tons altos, mas não como na época do Led. Com isso, clássicos como "Whole Lotta Love" e "Rock and Roll" perderam a força, mas não o poder de divertir a audiência. O cantor se esforçou até para arriscar algumas palavras em português, principalmente "galera". O público riu com o sotaque do artista, mas foi um recurso de reconhecimento pela simpatia do cantor.

O repertório também privilegiou faixas de "Mighty Rearranger", disco que Plant lançou em 2005, acompanhado pela banda Strange Sensation, e que já denunciava o atalho que o cantor pegaria em direção à world music. O grupo que veio ao Brasil com o cantor é o Sensational Space Shifters, que vez ou outra utiliza instrumentos exóticos, tem bons músicos e funciona bem para o tipo de som que Plant quer fazer. Ao vivo, ele e o SSS tornam explícitas também as influências de blues e folk que ilustram o trabalho do artista desde a época em que ainda integrava o Led Zeppelin.

Faltou a Plant incluir alguma canção de "Pictures at Eleven" (1982) ou "The Principle of Moments" (1983), seus primeiros trabalhos solo, dos anos 1980. Do jeito que ficou, ainda que tenha havido uma tentativa de diversidade no set list, a ex-banda foi a grande referência. No final, após 95 minutos de show, soou um pouco como se o Led Zeppelin ainda existisse, com outra formação, e tivesse decidido fazer algo em caráter experimental.

Robert Plant faz o segundo show em São Paulo nesta terça-feira também no Espaço das Américas. Depois, se apresenta em Brasília, Curitiba e Porto Alegre.