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Em Goiânia, Paul McCartney faz show com "fãs-gafanhotos" e repete repertório da nova turnê

Mariana Tramontina

Do UOL, em Goiânia (GO)

07/05/2013 03h12

Poucos nomes na música têm tanto cuidado com suas canções quanto Paul McCartney. O preciosismo com a alma de suas composições faz parte de seu respeito à obra. Paul celebra a música e canta cada canção como uma vitória. Foi o que se viu na noite desta segunda-feira (6), em Goiânia: ao final de cada execução, o ex-Beatle levantava os braços, seu baixo ou guitarra em um ato de triunfo e construindo um vínculo com as cerca de 40 mil pessoas --segundo a produção-- presentes no estádio Serra Dourada.

O repertório na capital goiana foi idêntico ao apresentado em Belo Horizonte na noite de sábado, pontapé inicial da turnê "Out There" em todo o mundo. O adicional não planejado foi o coletivo de insetos voadores que incorporaram o cenário. Sem demonstrar qualquer insatisfação com a presença dos invasores, Paul riu da situação, disse que tinha muitos "fãs-gafanhotos" e adotou um deles, que insistia em permanecer em seu ombro. "Esse é meu novo amiguinho. O nome dele é Harold. Diga oi, Harold", brincou.

Raridades

"Eight Days A Week": Antes de MG e GO, só havia sido tocada ao vivo pelos Beatles em 1965. Lançada no álbum "Beatles For Sale", a letra foi composta em sua maioria por Paul McCartney, mas John Lennon é o cantor principal na faixa
"Another Day": Gravada em 1970, tornou-se o primeiro single da carreira solo de McCartney. Havia mais de 20 anos que a música estava fora do repertório do músico
"Your Mother Sould Know": Paul escreveu para a trilha do filme "Magical Mystery Tour", de 1967, e nunca havia sido tocada ao vivo na história. Fez sua estreia em BH e ganhou repeteco em Goiânia
"All Together Now": Foi gravada durante as sessões do disco "Magical Mystery Tour" (1967), mas permaneceu inédita até ser incluída na trilha sonora da animação "Yellow Submarine" (1968). Nunca havia sido tocada ao vivo
"Being For The Benefit of Mr. Kite!": Composta por John Lennon no álbum "Sgt. Peppers" (1967), Paul nunca havia cantado a música, embora já tenha ensaiado durante passagens de som
"Hi Hi Hi": Escrita por Paul e Linda McCartney, foi incluída no repertório dos Wings em 1972 e chegou a ser banida da programação da BBC por sua letra "sexualmente sugestiva". Estava esquecida dos shows havia mais de 30 anos
"Lovely Rita": Outra música tirada de "Sgt. Pepper's" (1967), nunca havia sido tocada ao vivo na história. Fez sua estreia mundial nesta turnê

Quem assistiu ou leu sobre os últimos shows de Paul no país vai recordar boa parte do repertório, que no geral sofre poucas alterações nesta turnê. Muito se especulava de que ele apresentaria canções inéditas, já que trabalha em um novo disco, ainda sem data de lançamento, mas nada de novo foi apresentado. Em compensação, trouxe músicas raras que nunca havia tocada ao vivo na história, como "Your Mother Should Know", "All Together Now", "Being for the Benefit of Mr. Kite" e "Lovely Rita". De presente para os brasileiros ainda veio uma versão acústica de "Hope of Deliverance", uma das faixas de Paul mais populares no país nos anos 90.

Às 21h os telões posicionados nas laterais do palco fizeram as honras do show, com um tradicional clipe de aproximadamente 30 minutos de duração que mostra uma retrospectiva de sua trajetória --desde a época dos Beatles, passando pela carreira solo e seus projetos Wings e The Fireman-- e serve como uma contagem regressiva para e entrada do astro. Às 21h33 --saudando o público com um típico "ô, trem bão"--a rara "Eight Days a Week" já rasgava a noite no Serra Dourada como a primeira de uma série de obras-primas com as quais McCartney formou uma conexão histórica com o público em 2h40 de show.

"All My Loving", "We Can Work It Out", "And I Love Her", "Blackbird", "Eleanor Rigby", "Ob-La-Di, Ob-La-Da", "Back in the U.S.S.R.", "Day Tripper", "Yesterday" e a furiosa versão de "Helter Skelter" foram trilha sonora para revisar uma memória musical gloriosa do legado de uma das maiores bandas do mundo.

O show é cronometrado e ensaiado, mas também abre espaço para mostrar que é real. Antes de "Hi Hi Hi", que não era tocada ao vivo havia mais de 30 anos, Paul se confundiu no início da música e precisou reinicia-la. "Foi meu erro. Isso prova que estamos mesmo tocando ao vivo", disse, rindo, um ex-Beatle.

Rock no cerrado
Aos 70 anos --ele faz 71 em junho--, McCartney diverte-se genuinamente fazendo aquilo que começou há mais de 50 anos. Brinca com a plateia, finge que está surdo com tanto barulho, puxa coros, arrisca dancinhas e anda de um lado para o outro do palco. Ele transita entre um instrumento e outro (do baixo para a guitarra para o piano para o ukulele), e a competente banda que o acompanha --Rusty Anderson (guitarra), Brian Ray (guitarra e baixo), Paul "Wix" Wickens (teclados) e Abe Laboriel Jr. (bateria)-- está ali para servi-lo, sem excessos nem virtuosismos gratuitos.

As pessoas que fizeram parte de sua vida vêm em forma de música. Em "Here Today", ele conta que escreveu para "meu amigo John" (Lennon). A frase é adaptada para George Harrison, ao tocar "Something" no ukulele e abrir os braços quando a foto do antigo parceiro de banda aparece no telão ao fundo do palco. A atual mulher, Nancy Shevell, recebe a recente "My Valentine", enquanto sua ex-companheira, Linda, é lembrada na bela "Maybe I'm Amazed".

A plateia de múltiplas gerações de Goiânia--terra tradicionalmente conhecida por exportar duplas sertanejas e, recentemente, bandas jovens de rock-- também foi parte do show. Levantou balões pretos em "Blackbird", balões vermelhos em "And I Love Her", placas da campanha "Meat Free Monday" (a favor de reduzir emissões de gás que causam o efeito estufa) e, como um hino, elevou "Let It Be" a grandes potências enfeitando todo o estádio com luzes de celular. No encerramento, antes da tríade "Golden Slumbers", "Carry That Weight" e "The End" --sequência pinçada do álbum "Abbey Road" (1969)--, Paul lembra em seu goianês improvisado que "é hora de vazar".

Este foi o segundo de três shows de Paul no Brasil. Na quinta-feira (9) ele toca em Fortaleza, na Arena Castelão. A curta turnê no Brasil tem explicação: nos últimos anos, a duração de suas excursões foi reduzida a períodos mais curtos em grande parte por causa da guarda-partilhada que ele tem da filha Beatrice, que fará 10 anos em outubro, com a ex-mulher Heather Mills.

Paul vem ao Brasil anualmente desde 2010, quando ele voltou ao país depois de 17 anos para shows em Porto Alegre e São Paulo da turnê "Up and Coming". No ano seguinte, o músico trouxe a mesma apresentação para duas noites no Rio de Janeiro, quebrando um jejum de 21 anos na capital fluminense. Em 2012, ele retornou ao país, desta vez com a turnê "On The Run", que passou por Recife e Florianópolis.

Veja as músicas que Paul McCartney tocou em Goiânia:

"Eight Days a Week" (Beatles)
"Junior's Farm" (Wings)
"All My Loving" (Beatles)
"Listen to What the Man Said" (Wings)
"Let Me Roll It" (Wings)
"Paperback Writer" (Beatles)
"My Valentine" 
"Nineteen Hundred and Eighty-Five" (Wings)
"The Long and Winding Road" (Beatles)
"Maybe I'm Amazed"
"Hope of Deliverance"
"We Can Work It Out" (Beatles)
"Another Day"
"And I Love Her" (Beatles)
"Blackbird" (Beatles)
"Here Today"
"Your Mother Should Know" (Beatles)
"Lady Madonna" (Beatles)
"All Together Now" (Beatles)
"Mrs. Vandebilt" (Wings)
"Eleanor Rigby" (Beatles)
"Being for the Benefit of Mr. Kite!" (Beatles)
"Something" (Beatles)
"Ob-La-Di, Ob-La-Da" (Beatles)
"Band on the Run" (Wings)
"Hi, Hi, Hi" (Wings)
"Back in the U.S.S.R." (Beatles)
"Let It Be" (Beatles)
"Live and Let Die" (Wings)
"Hey Jude" (Beatles)
 
bis
"Day Tripper" (Beatles)
"Lovely Rita" (Beatles)
"Get Back" (Beatles)
 
bis 2:
"Yesterday" (Beatles)
"Helter Skelter" (Beatles)
"Golden Slumbers" (Beatles)
"Carry That Weight" (Beatles)
"The End" (Beatles)