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"Foi a fé que o sustentou nos momentos finais", diz irmã de Nelson Ned

Carlos Minuano

Do UOL, em Itapecerica da Serra (SP)

05/01/2014 19h59Atualizada em 06/01/2014 00h49

O corpo do cantor Nelson Ned, que morreu na manhã deste domingo (5), está sendo velado no cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, com a presença de quatro de seus cinco irmãos: Neyde, Nélia, Neusa e Nédson. Uma quinta irmã, Néd Helena, não compareceu por estar muito abalada.

Segundo Neuma, que era a responsável legal pelo cantor, ele morreu por volta das 7h da manhã deste domingo. Ela explicou que o cantor sofria com problemas de obesidade e chegou a ficar 19 kg acima de seu peso depois do Acidente Vascular Cerebral que sofreu em 2003, o que causou problemas de locomoção.

Ouça o sucesso "Tudo Passará"

Desde 2012, Ned vivia em uma casa de saúde e havia sido transferido há dois meses para outro local com mais recursos, na Granja Viana. Em tratamento por infecção pulmonar e urinária, o cantor deixou de responder aos antibióticos na quinta e por volta das 16h de sábado foi levado ao Hospital Regional de Cotia, onde já chegou inconsciente.

"Ele dizia que 'o homem é da estatura da sua fé'. Foi essa fé que o sustentou nos momentos finais", afirmou Neuma. "Ele era um cantor romântico, que nasceu e viveu romântico. Deixou saudades e muitas lições", completou.

Também estavam presentes no velório duas das filhas de Ned, Verônica e Monalisa.

"O céu hoje está mais romântico e os anjos devem estar mais felizes. Acho que o Nelson Ned está no céu, numa festa, cantando com o Michael Jackson", brincou Monalisa.

Veronica, filha mais velha de Ned, lembrou de seu aniversário, em dezembro, em que ofereceu o primeiro pedaço de bolo ao pai, e afirmou: "Me sinto privilegiada de ter vivido muitas histórias com ele".

Nelson Ned D'Ávila Jr. não compareceu porque mora no México.

Emocionado, o cantor e apresentador Moacyr Franco lembrou da estreia de Nelson Ned como cantor. "O primeiro lugar em que o Nelson Ned cantou foi no meu programa, em 1961, aos 12 anos. No coro tinha o Altemar Dutra, e o Nelson arrasou". "Pelo meu gosto, eu falaria hoje em espanhol, porque foi lá fora que o ele foi respeitado", afirmou Franco.

Franco também elogiou o ator e diretor Selton Mello por ter resgatado a canção "Tudo Passará" em seu filme "O Palhaço".

O ator Felipe Folgosi, que conheceu e ficou amigo do cantor na igreja, quando era evangélico, falou sobre o que acredita ser o legado de Ned: "Para mim, o grande legado de Nelson Ned foi sair de uma condição muito adversa, que era seu tamanho, e chegar ao sucesso, ao topo".

Depois do velório, por volta das 21h, foi realizada a cerimônia para a última despedida, no mesmo local. A celebração começou com a canção "Segura na Mão de Deus", escolhida por Ned para a ocasião. Na sequência, um pastor evangélico conduziu orações e o caixão desceu para o crematório ao som do maior sucesso do cantor, "Tudo Passará". O corpo será cremado durante a semana, seguindo a agenda do cemitério.

Trajetória
"O pequeno gigante da canção", apelido que recebeu por seu 1m12 de altura, se consagrou na década de 60 como uma das vozes românticas mais famosas do Brasil. O sucesso internacional veio com a gravação de vários discos em espanhol.

Ídolo em países como Argentina, México e Colômbia, entre outros, Nelson Ned enfrentava problemas de saúde há vários anos, que se agravaram em 2003, quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC).

Gabriel García Márquez era muito fã de Nelson Ned, ele sempre o citou como um dos cantores favoritos dele, nos anos 80. Nelson Ned marcou uma geração, autor de vários sucessos, clássicos românticos da música.

Paulo César de Araújo, biógrafo, autor do livro "Eu Não Sou Cachorro Não", por telefone

Como consequência do AVC, o intérprete de "Tudo Passará" perdeu a visão de um olho e precisava se locomover com a ajuda de uma cadeira de rodas, além de enfrentar diabetes, hipertensão arterial e o diagnóstico de Mal de Alzheimer em fase inicial.

Ned se converteu nos anos 90 à religião evangélica e, desde então, interpretava com sucesso músicas gospel, também em português e espanhol.

Antes de se converter, o cantor tinha um vício em bebidas e em drogas, e chegava a beber até um litro de uísque por dia. A informação foi confirmada pela mulher do cantor, Maria Aparecida, durante uma participação no programa "A Tarde É Sua", em 2012. Na ocasião, Cida confirmou a história de que em uma das vezes em que estava bêbado, Ned atirou e acertou a sua clavícula, que quebrou.

Com 45 milhões de cópias de discos vendidos em todo o mundo, Ned foi o primeiro latino-americano a vender um milhão de discos no mercado dos Estados Unidos, onde se apresentou junto do espanhol Julio Iglesias e do americano Tony Bennett, lotando três vezes o mítico Carnegie Hall, em Nova York. Ainda na Big Apple, o cantor se apresentou no famoso Madison Square Garden.