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Corpo do cantor Jair Rodrigues é enterrado em SP ao som "Disparada"

Do UOL, em São Paulo

09/05/2014 08h30

Jair Rodrigues foi enterrado às 12h40 desta sexta (9), ao som da música "Disparada", cantada em coro por fãs, amigos e parentes. O enterro ocorreu no cemitério Gethsemani, no Morumbi (zona oeste de São Paulo).

 Antes, uma missa de corpo presente ocorreu capela do cemitério. A missa foi restrita a parentes e amigos. Em seguida, o local foi aberto ao público, e fãs puderam formar uma fila para se despedir do artista. 

O corpo de Rodrigues começou a ser velado na noite de quinta (8). A cerimônia religiosa do velório foi realizada nesta manhã pelo padre Antônio Maria. No final, a cantora Alcione fez uma homenagem a Rodrigues, cantando "Estrela Luminosa", de Altay Veloso. "O Jair foi um grande cantor e, às vezes, saía do seu tom para cantar no meu. Era o 'Mister Alegria'. Que todos os guias de luz o recebam numa passagem tranquila", disse a cantora ao UOL.

Pela manhã, o corpo deixou a Assembleia em um carro de bombeiros. Após a chegada ao cemitério, ocorreu a missa de corpo presente. A cerimônia, inicialmente, seria aberta ao público. No entanto, um enorme volume de pessoas apareceu em frente à capela, e apenas a imprensa foi liberada para entrar. Durante a missa, os fãs gritavam do lado de fora, revoltados, querendo entrar. Também cantavam músicas de Jair Rodrigues. A gritaria era tanta, que mal se podia ouvir a missa e os depoimentos de parentes e amigos do cantor. 

Durante a celebração, o português Roberto Leal cantou em homenagem ao amigo. "Vamos lembrar dele com alegria. Ele jamais diria que foi um exemplo, mas todos sabemos que ele foi um exemplo", disse Leal, lembrando a modéstia de Rodrigues. 

O fotógrafo Ike Levy, marido de Luciana Mello, disse chorando que vai "cuidar muito bem da filha, dos netos e da família" do sogro. Emocionada, Luciana teve dificuldades para falar e, no final, disse que Jair Rodrigues foi um grande pai. "Agradeço a presença dele na minha vida. Certamente ele nos dará força para seguir em frente.". A mulher do cantor, Clodine, disse apenas "ele foi demais" e que estava muito emocionada para falar. Mais tarde, ela conseguiu se recompor. "Quero lhe dizer, Jair: pra sempre vou te amar."

"A música brasileira está perdendo um de seus maiores intérpretes. Deus levou Jair porque estava muito triste", disse o apresentador Raul Gil, no final da missa. "Jesus está dançando a uma hora dessas", completou.

Em entrevista ao canal de TV Globo News no cemitério, Jairzinho mais uma vez lembrou a alegria do pai. “Até nesse momento da morte ele preferiu que fosse sem sofrimento. É legal, é do temperamento dele. Sem sofrimento, sem muitas delongas. Desligou a chave e foi.”  

Pouco após as 11h, a missa terminou, e a entrada de fãs foi liberada, para que eles pudessem fazer sua última despedida do artista. O público fez, então, uma enorme fila para passar ao lado do caixão. O enterro, inicialmente previsto para acontecer às 11h, atrasou.

Pouco depois do meio-dia, o corpo deixou a capela para ser levado de carro até a cova. No momento do enterro, que aconteceu às 12h40, o coral da LBV (Legião da Boa Vontade) entoou a canção "Disparada", sendo acompanhado por todos. Ao lado da filha, a viúva Clodine chorou muito.

Após o pai ser enterrado, Jair Oliveira falou mais uma vez com a imprensa, lembrando a última conversa que eles tiveram. "Foi uma conversa normal, porque a gente nunca sabe qual vai ser a última. Mas, como sempre, foi carregada de carinho", disse Jairzinho, que deixou o cemitério com a família em seguida.

Fãs ainda continuaram ao lado da sepultura, cantando em coro "Majestade o Sabiá" e outros sucessos de Jair Rodrigues.  

A morte

O assessor de imprensa do artista, Giuliano Spadari, afirmou ao UOL que o corpo de Jair Rodrigues foi encontrado por funcionários da família, por volta das 10h, na sauna da casa do cantor.

De acordo com o produtor e cunhado do artista, Pedro Melo, Jair Rodrigues fez um check up no hospital Oswaldo Cruz há três meses, e os exames não revelaram problemas de saúde. Ele cumpria normalmente a agenda de shows. Sua última apresentação foi na terça (6), em Minas Gerais. Indiretamente, o músico também estava "em cartaz" em São Paulo, interpretado pelo ator Ícaro Silva, em "Elis, a Musical". O elenco fez uma homenagem a ele na noite desta quinta (8).

Melo contou ao UOL que o velório, que foi aberto ao público mais tarde, tinha mesmo que dar chance para os fãs se despedirem, pois Jair era "um cara do povo". "Não seria agora que afastaríamos o público dele. Jair nunca se negou a dar um autógrafo ou abraço nos fãs. Ele adorava o que fazia e, se pudesse, faria shows todos os dias."

A notícia da morte do cantor repercutiu imediatamente nas redes sociais entre os colegas do samba, do rap e até da música sertaneja, à qual Rodrigues também se associou ao cantar "Disparada", na TV nos anos 60. "Foram muitos anos em que a gente se relacionou em eventos. Ele irradiava alegria", comentou Chitãozinho à TV Globo nesta manhã.

Trajetória

Natural de Igarapava, interior de São Paulo, Jair Rodrigues iniciou a carreira musical nos anos 1950. Na década seguinte, alcançou o sucesso em programas de calouros na TV. Em 1964 gravou seu disco de estreia, "Vou de Samba com Você", que já apresentava um de seus maiores sucessos, "Deixa Isso pra Lá", considerado precursor do rap. 

Ao lado de Elis Regina, o cantor ficou conhecido no país inteiro. Seus duetos com a "Pimentinha" renderam três discos: "Dois na Bossa" volumes 1, 2 e 3, gravados ao vivo. 

O último trabalho do cantor, o disco duplo "Samba Mesmo", é uma homenagem ao samba e à seresta e foi lançado em fevereiro.