Show do Foo Fighters em SP tem escorregão de Grohl e pedido de casamento
A apresentação do Foo Fighters em São Paulo, nesta sexta-feira (23), foi a primeira da banda fora de um festival na cidade: o show anterior foi há quase três anos, no Lollapalooza 2012. Mas houve outro fator marcante que passou batido para o público --e provavelmente também para o líder do grupo, Dave Grohl: a noite determinou o retorno do vocalista ao Estádio do Morumbi após exatos 22 anos e uma semana.
Era 16 de janeiro de 1993 quando ele se apresentou no mesmo local, então como o baterista da atração principal do Hollywood Rock. O Nirvana estava no auge do sucesso e fez ali o show mais caótico e absurdo de sua curta carreira, muito por causa do estado deplorável de Kurt Cobain. Em dado momento, Grohl tocou baixo e teve seu lugar na bateria ocupado por Cobain, enquanto o baixista Krist Novoselic assumiu a guitarra e vocais. "Era como se alguém tivesse nos dado as chaves do castelo e dissesse: 'Ok, podem fazer o que quiserem!'", Grohl declarou em 2012 à revista "Rolling Stone Brasil". "Daí aquele se tornou o show mais maluco que já se viu na vida. Porque nós nunca pensamos que chegaríamos lá."
Dessa vez, Grohl não foi o coadjuvante, e sim o comandante absoluto de seu próprio espetáculo. A chuva do início de noite não deu trégua durante os shows de abertura do Raimundos e do Kaiser Chiefs, mas perdoou a atração principal. À seco e em silêncio, se comunicando com a plateia apenas por gestos, Grohl e seus companheiros subiram ao palco às 21h20, cinco minutos após a hora marcada. A abertura se deu com "Something for Nothing", primeiro single do oitavo e mais recente álbum, "Sonic Highways". Na metade da música, o vocalista escorregou no palco molhado e caiu de traseiro no chão. Sem perder a pose, levantou a tempo de cantar e ganhou aplausos.
Era perceptível que o som estava regulado em volume baixo --algo inexplicável em um show com três guitarras, baixo, bateria, teclado e um dos vocalistas que mais gasta a garganta no rock atual. O defeito dificultava a compreensão das muitas mudanças de dinâmica das canções, além de evidenciar as irritantes conversas entre fãs dispersos. Grohl parecia se esforçar mais do que devia para cantar as notas mais agudas: quando não as alcançava, gritava antes de finalizar as frases. Antes do gancho de "The Pretender", parte do público arremessou papéis coloridos vermelhos para o alto. "Learn to Fly" emendada a "Breakout" (ambas de "There's Nothing Left to Lose", de 1999) trouxeram lembranças do ótimo show que a banda fez no Rock in Rio 3, em 2001.
"Relaxem, vai ser uma longa noite", Grohl brincou, talvez se referindo aos excessivos prolongamentos de músicas, solos adicionais e pausas para coros e interações --tudo isso é motivo para o show de pouco mais de 20 músicas beirar as três horas. Todas as faixas tocadas tiveram durações mais longas do que suas versões originais. Se fossem enxugados os excessos, a apresentação provavelmente não alcançaria 120 minutos.
"Faremos o que quisermos"
O Foo Fighters também gasta seu tempo entretendo a si próprio. Durante a apresentação dos integrantes, cada um teve direito a fazer um solo, que resultaram em diferentes trechos da emblemática "Tom Sawyer", do Rush. "O Rush é bom demais. A gente não consegue tocar essa merda. Muito difícil", brincou Grohl. Dava até para imaginar os seis marmanjos enfurnados em uma garagem abafada, bebendo cerveja e tocando covers e pedaços de músicas aleatórios. "Quando fazemos um show, a gente gosta de se divertir", ele explicou. "Então hoje faremos aqui o que quisermos."
Grohl anunciou que tocaria faixas de todos os discos do Foo Fighters, e cumpriu a promessa de modo até burocrático. Algumas favoritas da primeira fase da banda foram ausências sentidas, como "This is a Call", "Big Me" e "Generator". "I'll Stick Around", a única do trabalho homônimo de estreia (de 1995), quase passou batida e não empolgou o público como deveria. "Monkey Wrench" foi estendida em cinco minutos com uma longa e desnecessária jam no escuro. Para aplacar o tédio, a multidão das arquibancadas maciçamente acendeu as luzes dos celulares, proporcionando um cenário impressionante. Só assim para Grohl sair do transe e dizer: "Isso é lindo pra c******".
É preciso dizer que o rótulo de "o cara mais legal do rock" continua a servir perfeitamente a Dave Grohl. Seja em entrevistas, documentários, recebendo prêmios ou com a guitarra em punho, o artista de 46 anos sabe o que dizer para agradar quem o estiver ouvindo. Em São Paulo, tocando para o que provavelmente será seu maior público no braço brasileiro dessa turnê (55 mil pagantes), ele seguiu um discurso positivo que envolveu afagos, frases de efeito e mais afagos. Poucos frontmen do rock sabem tão bem conduzir uma massa como ele. Sabendo disso, aproveita-se do magnetismo inabalável para jogar para uma plateia ganha.
Fã pede namorada em casamento no show do Foo Fighters
Pedido de casamento
Problemas técnicos à parte, estava realmente fácil para o Foo Fighters. Taylor Hawkings (bateria), Nate Mendel (baixo), Pat Smear, Chris Shiflet (guitarras) e Rami Jaffee (teclados) trabalhavam silenciosamente como coadjuvantes de luxo, sempre atentos aos comandos do maestro. Apesar do setlist quase idêntico em relação ao show de quarta-feira (21) em Porto Alegre (aqui, três músicas mais enxuto), houve espaço para espontaneidade. Quando tocava violão em uma passarela mais distante, Grohl recebeu uma bandeira do Brasil e a amarrou no pescoço. "Vocês tem três das coisas mais bonitas do mundo: uma linda bandeira; a mais linda camiseta de futebol; e as mulheres mais lindas." Em seguida, avistou um cartaz no meio da multidão e exclamou: "Se você quer fazer isso, é melhor vir e fazer agora".
Alguns segundos de mistério depois, Grohl abriu espaço no palco para um fã acompanhado da namorada. Ajoelhado, o rapaz pediu a parceira em casamento, oferecendo a ela uma aliança em uma caixinha vermelha. Ganhou um "sim", um beijo apaixonado e um abraço do dono da festa. "Então, lembre-se: se você quiser pedir sua namorada em casamento, venha a um show do Foo Fighters", Grohl disse, finalizando a "cerimônia" improvisada.
Durante "Times Like These" (de "One by One", 2002), a banda se deslocou para um pequeno palco giratório montado entre as duas metades da pista. Foi mais um momento calculado em que o Foo Fighters celebrou a própria diversão, gastando pelo menos 15 minutos com covers não raros em repertórios de bandas de bar, como "Detroit Rock City" (Kiss) e "Tie Your Mother Down" (Queen). Nessa última, o público apreciou a rara visão de Grohl tocando bateria, enquanto Hawkins se dedicava aos vocais que já foram de Freddie Mercury. "Sem essas canções nós não estaríamos aqui", o vocalista fez questão de ressaltar antes das primeiras notas de "Under Pressure", também do Queen.
Se na parte musical foi um show morno para o público, os fatores externos o tornaram inesquecível para o próprio Foo Fighters. Pelo menos foi o que Grohl garantiu, enumerando os acontecimentos que "não ocorrem todo dia": o escorregão ("Caí de bunda no chão na frente de todo mundo, e nunca vou me esquecer disso"), o pedido de casamento, a arquibancada iluminada, as ruidosas participações vocais da plateia. Aproveitando o clima descontraído de fim de festa, a multidão "trolou" Grohl, insistindo no coro melódico de "Best of You" enquanto ele tentava discursar. "Parem de cantar! A p**** da música acabou!", ele reclamou aos risos.
O final do show coincidiu com o início de uma chuva fraca, que reforçou o apelo emocional do maior hit da banda: "Everlong". E 2h45 e 23 faixas depois, o Foo Fighters deixou o palco, seguindo os procedimentos de praxe: sem fazer bis, sem verbalizar o adeus e prometendo retornar.
***
A turnê pelo país segue agora para o Rio de Janeiro, onde eles se apresentam no domingo (25) no Maracanã, e será finalizada em Belo Horizonte, na próxima quarta-feira (28) na Esplanada do Mineirão.
Veja as músicas que o Foo Fighters tocou em São Paulo:
1. Something from Nothing
2. The Pretender
3. Learn to Fly
4. Breakout
5. Arlandria
6. My Hero
7. Congregation
8. Walk
9. Cold Day in the Sun
10. I'll Stick Around
11. Monkey Wrench
Palco B
12. Skin and Bones
13. Wheels
14. Times Like These
15. Detroit Rock City (Kiss)
16. Stay With Me (Faces)
17. Tie Your Mother Down (Queen)
18. Under Pressure (Queen)
19. All My Life
20. These Days
21. Outside
22. Best of You
23. Everlong
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