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Em grande fase, Robert Plant vem ao Brasil "esnobando" o Led Zeppelin

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

23/03/2015 06h00

Um dos nomes mais aguardados do Lollapalooza Brasil 2015, o “deus dourado” Robert Plant sabe bem a extensão de sua divindade. Mesmo lidando com inúmeros pedidos de fãs, com constantes especulações da imprensa e as cifras milionárias que uma eventual turnê de reunião do Led Zeppelin renderia, o vocalista é o ex-integrante mais reticente à ideia de reunir o lendário quarteto inglês.

“Voltaríamos para a mesma merda de sempre”, disparou, enfático, em entrevista à revista “Rolling Stone” no ano passado. “Uma turnê seria um absoluto zoológico de interesses escusos e a essência de toda a porcaria que é uma grande turnê em estádios. Ficávamos cercados por um circo de pessoas que ateariam fogo em nossas almas. Eu não sou parte de uma jukebox!"

A metralhadora magoada tinha endereço certo: Jimmy Page, que dissera antes estar de “saco cheio” do vocalista, por ele não concordar com a reunião. Mas, atrás do tiroteio, a postura assertiva do músico guarda uma boa dose de racionalidade.

Robert Plant deveria ceder aos apelos de Jimmy Page e reunir o Led Zeppelin?

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Goste-se ou não, a realidade é que, se o Led precisa de Plant para existir impossível concebê-lo com outro frontman, a recíproca não é nem um pouco verdadeira. Desde que deixou o projeto Page and Plant, ao lado do antigo parceiro, o vocalista engatou uma das fases mais prolíficas e o mais importante criativas da carreira. Seja no grupo Strange Sensation, dando voz à world music, na reformulada “Band of Joy”, onde tudo começou nos anos 1960,  na parceria bem-sucedida com a cantora de bluegrass Alison Krauss e, agora, com a nova banda (e ótima) The Sensational Space Shifters.

Caso raro entre os filhos de gigantes do rock, Robert Plant soube se reinventar na maturidade. Expediu, por méritos próprios, a derradeira carta de alforria. E certamente não abrirá mão dela tão cedo. Na estrada há quase um ano, à frente de uma rentável turnê pela Europa e pelos Estados Unidos, ele colhe os louros do excelente “Lullaby and the Ceaseless Roar”, álbum em parte inspirado no fim do relacionamento com a cantora Patty Griffin.

Lançado em setembro do ano passado, o disco recebeu a unanimidade da crítica, descrito pela revista “Uncut” como a mais evidente expressão de singularidade em quase cinco décadas de carreira. O conjunto de músicas mais pesadas em uma década, segundo a “Rolling Stone”. A revelação de um Plant vulnerável, digno, contido e apoiado por uma banda de sonoridade completamente moderna, para o jornal “The Guardian”.

Outro trunfo de Plant sobre o passado trazido ao presente são os shows. Se na antiga banda ele precisaria esgoelar perigosamente a já calejada voz, como fizera no show de reunião de 2007, em Londres, as apresentações solo demandam outro tipo de interpretação, mais comedida e compatível com seus 66 anos.

Nem por isso, no entanto, clássicos do Led Zeppelin como "Black Dog", "Whole Lotta Love" e "Rock and Roll" deixam de ganhar versões repaginadas, com dose extra de groove, nas atuais apresentações do vocalista. As faixas mais recentes, inclusive, representam a minoria do repertório, dominado por Led Zeppelin e hinos do blues. Apenas porque Plant quer assim. E, como pouquíssimos no business roqueiro, ele pode se dar ao direito.