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"São mais do que simples máscaras; nunca tiraremos", diz vocal do Slipknot

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

23/09/2015 12h00

Apesar das máscaras de terror, vocal gutural e da fama de mal-humorado, Corey Taylor é um sujeito cheio de amor para dar. Duvida? Basta ele perceber que você está lutando pelo que realmente acredita. Seja pelo que for, terá o respeito eterno do vocalista do Slipknot.

“Amo o fato de as pessoas saírem do seu mundo para falar o que é certo ou o que é errado, mostrando que têm voz. Isso é o que me faz amá-las e ter esperança no futuro”, disse ao UOL o músico, que retorna ao Brasil para subir ao palco do Rock in Rio na próxima sexta (25), e no do Anhembi, em São Paulo no domingo (27).

No festival carioca, a banda será a atração principal da noite, tocando logo após o Faith no More. A maior honra que Taylor poderia ter. Segundo conta em entrevistas, a inspiração de vê-los ao vivo na TV, quando era adolescente, o salvou de um suicídio. “[A admiração] Vai além do nível de respeito. Se eu conseguir fazer qualquer coisa para retribuir isso, eu farei."

Na entrevista por telefone ao UOL, Corey Taylor fala ainda sobre o desafio de tocar em um grande festival, destaca o dever de passar o bastão para a nova geração do metal e descarta totalmente fazer shows com a banda sem as máscaras. "É o jeito que encontramos de nos mostrar ao mundo."

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

UOL - O que podemos esperar no Rock in Rio?
Corey Taylor -
Estamos todos muito, muito empolgados. Já tivemos o privilégio de tocar antes no Rock in Rio. E sempre foi uma experiência incrível. Para nós, é insano. Não acreditamos que podemos fazer parte disso mais uma vez, ainda mais agora, como atração principal. É realmente excitante e mal posso esperar para ver os fãs brasileiros. Estamos tentando pensar em como colocar um setlist especial par ao Rock in Rio. Vai ser emocionante.

Tocar em um festival, frente a um público que não está ali apenas para te ver, te incomoda?
Eu adoro o desafio. Se você está tocando por muito tempo, você pode muito bem se tornar complacente e preguiçoso. Mas nós damos tudo o que temos em todo show que fazemos. Tratamos cada show como se ninguém nunca nos tivesse visto antes. Quando conseguimos uma recepção boa em festivais, é ainda mais emocionante e prazeroso por causa desse desafio. Geralmente, nos shows, não há ninguém que não nos conheça, mas há sempre aqueles que nos viram muitas vezes. É disto que se trata: tentar manter esse nível de excitação e intensidade.

Você disse em entrevista que vai jogar água em quem usar celular no show. É verdade ou só piada?
Infelizmente, eu sou conhecido por fazer isso nas pessoas na primeira fila (risos). Não é nada malicioso. É algo como “ei, você está no show, desligue seu celular”. A maioria, na verdade, está filmando o show! Isso é o que é ridículo. Você está lá! Veja a porcaria do show! Eu tenho feito isso com algumas pessoas nos shows (risos). Eu não sei como fazer isso no Rock in Rio, a barreira é bem longe do palco. Eu terei que me esticar para jogar.

Você já disse que ver o Faith no More na televisão te impediu de cometer suicídio. Como é ter a banda abrindo para vocês no Rock in Rio?
É incrivelmente gratificante. Eu sempre lidei com escalações assim com grande respeito. O fato é que estaremos tocando no mesmo dia de uma banda que é muito importante para mim. Isso vai além do nível de respeito. Eu sempre serei um artista que respeita profundamente quem me inspira. Se eu conseguir fazer qualquer coisa para retribuir isso, eu farei. Definitivamente, vou assistir ao show deles. Pra mim, é um privilégio. Sempre tive o senso de que, se não fosse o Faith no More, eu não estaria fazendo o que eu estou.

O Slipknot já passou por várias fases? Nunca ocorreu à banda tirar as máscaras, como o Kiss fez nos anos 1980?
As pessoas perguntam muito sobre isso nos últimos anos. Para nós, a nossa principal atração não é a máscara. Se fosse o caso, acho que já teríamos feito há muito tempo. Como banda, nós temos apelos muito diferentes para as pessoas. As máscaras, a arte das capas, a música, a intensidade, o uniforme, o senso de unidade. Há tantas coisas que o grupo não teria o sucesso que têm se você tirasse uma delas. Nossa máscara foi mudando junto com a música, evoluindo com o tempo. Não é sempre a mesma, com o mesmo semblante sempre. A máscara sempre fará parte da banda, porque é muito mais do que apenas uma máscara. É o jeito que encontramos para nos mostrar ao mundo.

Você já lançou um livro chamado “You're Making Me Hate You”. Indo pelo lado contrário, o que você ama mais nas pessoas?
Amo muitas coisas. Amo o fato de as pessoas saírem do seu mundo para falar o que é certo ou o que é errado, mostrando que têm voz. Seja pelo que for. Contra o racismo, contra quem praticar 'bullying'. Há tanta injustiça social acontecendo. Atualmente, os Estados Unidos têm voltado muita a atenção às questões raciais. Provavelmente mais do que nos últimos 30 anos. Esses casos de racismo me preocupam. Sempre nos orgulhamos de ser um país livre, mas nós ainda nos voltamos contra nós mesmos sempre que temos a oportunidade.

Muitos líderes de bandas têm aversão a entrevistas. Seu ídolo Mike Patton, do Faith no More, por exemplo. Mas você é diferente. Por quê?
Todas as pessoas que me conhecem dizem que eu gosto de falar muito (risos). Não sei. Eu tenho formas diferentes de olhar para um assunto. Eu amo a discussão, a conversa. Adoro falar e encontrar formas diferentes de expressar a mesma coisa. Sempre fui assim desde criança. Isso é uma coisa fácil pra mim. Sempre que alguém quer me ouvir, ter uma conversa, acho legal.

Acha que o fã de heavy metal ainda é extremista demais? Aquele que só escuta metal e tem preconceito com outros gêneros?
Existe gente assim por aí. Mas acho que é um mito, pelo menos por uma razão: eu sou fã de heavy metal e escuto todos os tipos de música. Acho que muitos fãs de metal têm certo medo de serem julgados por amar outras coisas. Mas acho que hoje, com o acesso a todo o tipo de música, esse mito está começando a cair. Muitos já estão começando a entender que o mundo é maior agora.

Se pudesse escolher a escalação ideal de um festival com o Slipknot, qual seria?
Eu adoraria ter uma banda como o Refused, por exemplo. Mas tenho me abastecido bastante de muitas bandas mais novas nos últimos tempos. Tem que ser assim. Porque heavy metal é uma coisa geracional. Por mais que adoremos estar no topo, temos que passar a responsabilidade para a nova geração. Chegar ao ponto em que, quando não conseguirmos mais tocar, outros conseguirão, para manter a tradição viva. Eu tentaria colocar algo muito bem equilibrado, com bandas como nós, Refused, talvez algo como Deftones, e outras mais novas como A Day to Remember e Asking Alexandria, por exemplo.