Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
"Diferentemente de muitos movimentos culturais provenientes do underground, o hip hop conseguiu manter-se vital, abrasivo e na vanguarda durante duas décadas."
A afirmação é do escritor Nelson George no seu livro "Hip Hop America" (Penguin Books, 1999), em que ele conta a história do movimento hip hop que, muito além da revolução musical que causou
no mundo, influenciou profundamente toda a sociedade americana.
"Hip hop America" relata o
nascimento do rap através da ótica particular e colorida do autor nascido no bairro do Brooklyn, Nova York. Neste bairro de classe média predominantemente habitado por negros, ele acompanhou um dos maiores acontecimentos musicais em primeira mão não só como observador astuto e jornalista, mas também mais tarde como produtor cultural ativo, atuando em
várias mídias.
O autor George observa que o lendário show no City College do Harlem em 1978 foi um divisor de águas, não só pela mudança fundamental da forma como as atrações eram
escaladas como também pela reação do público, que veio abaixo, causando tumulto e até atos de violência pela apresentação do até então totalmente desconhecido rapper e DJ Lovebug Starski.
Starski, com os seus
toca-discos, sua coleção de vinís e o seu MC que gritava palavras de ordem para a platéia roubaram o show e levaram a audiência ao delírio.
George mostra a transição dos shows com bandas ao vivo no palco para a preferência do público pela agitação e a novidade que os DJs e os MCs representavam. Um agito até então restrito às quadras de esportes de alguns
parques públicos da cidade.
A Cultura "Hip Hop America" deixa claro que é importante entender que os valores que formaram grande parte do materialismo do hip hop _como a obsessão pelas grifes, a ligação com as armas e o que o autor chama de anti-intelectualismo _ são derivados (ou subprodutos) da cultura norte-americana.
Apesar da faceta "perigosa" da maior parte da cultura hip hop, George argumenta que a maioria dos temas abordados baseiam-se nos valores perturbados da sociedade americana. Nas palavras do George:
"Anti-semitismo, racismo, violência e chauvinismo não são aspectos exclusivos das estrelas do rap, mas são os aspectos mais sinistros do caráter nacional".
Ele retrata a ligação entre o uso e o tráfico de drogas, especialmente o crack nos bairros negros e o conseqüente enriquecimento ilícito que ajudou, direta ou indiretamente, muitos dos artistas que hoje são as grandes estrelas do hip hop como Ice T, Eazy E e Snoop Doggy Dogg.
Em linguagem coloquial, o autor gasta uma boa parte do livro para mostrar que, apesar dos temas muitas vezes abordados nas letras, o movimento hip hop não é político no sentido literal. O Hip hop não elege nenhum representante público, não apresenta nenhuma crítica sistemática ou original da supremacia branca. O Hip hop não produziu nenhum manifesto de plataforma política. O movimento não criou nenhum Malcolm X ou Martin Luther King.
Segundo o autor, o mais importante que essa cultura hiperativa vende não é idealismo, a panfletagem de uma causa ou até mesmo uma melodia. O mais impactante desta cultura é a criação de um veículo para a expressão do individualidade do afro-americano.
Ainda não há tradução para o português, mas este é um livro em inglês simples e de leitura fácil, didática.
Nelson George é jornalista e escritor, se auto-denomina afro-americano e já trabalhou nas revistas Playboy, Billboard, Esquire, Essence e no jornal The Village Voice. Autor de oito livros de não-ficção, sendo os mais conhecidos:
"The Death of Rhythm & Blues"(1989) e "Where did our love go - the rise & fall of the Motown Sound" (1985). O "Hip hop America", publicado em meados de 1999, abocanhou vários prêmios, entre eles um "Grammy" e um "American Book Award".
Ouça
Rap na Rádio UOL.
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