A cantora e compositora norte-americana Lucinda Williams lançou o sétimo e mais recente álbum, "World Without Tears" (Lost Highway, 2003 - ainda sem distribuidor no Brasil), sem fazer muito barulho.
Williams interrompeu a turnê de lançamento em março passado em função da morte da sua mãe e ainda não tem suas canções executadas em rádio. Os consumidores da boa música saíram perdendo: "World Without Tears" é uma obra-prima de rock'n'roll com um forte sotaque country.
Não é à-toa que a revista norte-americana Spin a nomeou, recentemente, como uma das 40 artistas mais importantes e ativas no mundo rock'n'roll. Ouça "Righteously" em
alta ou em
baixa velocidade. Dá pra entender o elogio da Spin. Williams é poderosa.
Diferentemente de seus dois álbuns anteriores, que contaram com produções sofisticadas e músicos de estúdio, "World Without Tears" foi gravado ao vivo em estúdio e com poucos retoques na mesa de mixagem. O resultado é um belíssimo álbum com treze faixas, todos de autoria de Williams, que soam retrô, meio cruas. É um álbum sentimental cujas letras tratam do amor que não dá certo, da vida na estrada sem porto seguro, de uma estranha beleza e de tesão,
muito tesão.
Nesse ideário, mesmo quando o objeto amado é um crápula e o amor não é correspondido, há graça. O calhorda tem seu lado doce. Ouça "Sweet Side" em
alta ou em
baixa velocidade.
Williams tem um passado de brigas com produtores e, por ironia do destino, acha que seu álbum "Car Wheels on a Gravel Road" (1998), o de maior êxito comercial, não ficou bom devido à superprodução do gigante Mercury. O álbum levou mais de cinco anos para ser finalizado, passou por três produtores e, mesmo assim, rendeu um prêmio Grammy à cantora, que vendeu meio milhão de cópias nos EUA na época.
Mesmo com o sucesso, Williams voltou a um selo pequeno,
Lost Highway, escolheu o produtor
Mark Howard, co-produziu o álbum, e insistiu em fazer um disco com os músicos Dough Pettibone, Taras Prodaniuk e Jim Christie, que a acompanham há anos. O repertório foi composto durante turnês e testado ao vivo antes de entrar no estúdio.
O produtor do álbum, Howard, explicou em entrevista ao New York Times que a principal preocupação era deixar Lucinda à vontade para tocar e cantar com sua banda no estúdio, para criar o clima intimista que combina com suas letras melancólicas. Ouça "Atonement" em
alta ou em
baixa velocidade.
Enfim, o novo álbum de Williams não perde em nada para marcos da história do pop rock como "Harvest", de Neil Young e "Exile on Main Street", de Rolling Stones, ambos lançados em 1972.
Em comum com Neil Young, Williams tem a verve folk, a melancolia e a esperança de que há algo melhor para vir. Ouça "Fruits of My Labour" em
alta ou em
baixa velocidade. Com os Stones, Williams tem em comum um jeito de tocar violão (com Richards), de cantar (Jagger) e de tratar a vida de sexo, drogas e rock'n'roll. Ouça o mais puro rock na linha Jagger/Richards na faixa "Real Live Bleeding Fingers and Broken Guitar Strings" em
alta ou em
baixa velocidade.
Mas o blend poderoso de Williams é, paradoxalmente, o seu calcanhar de Aquiles: ela é rock'n'roll demais para o country, e country demais para o rock'n'roll. Por isso, nunca emplacou em nenhum dos gêneros no mundo das FMs. Apesar dos aplausos da crítica especializada.
>> Conheça o seu site
oficial >> Conheça o site da gravadora
Lost Highway Lucinda Williams