Templo da música negra que recebeu Miles Davis e James Brown reabre em Washington
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AP Photo/Monika Graff
O cantor James Brown cumprimenta fãs na saída do teatro Apollo, em cuja região a rua 125 foi rebatizada como bulevar James Brown, no Harlem, Nova York (09/07/2000)
O mítico Teatro Howard de Washington, que recebeu em seu palco nomes legendários como Ella Fitzgerald, Aretha Franklin, Duke Ellington, James Brown e Miles Davis, renasce nesta semana das cinzas, mais de um século depois de sua inauguração como primeira sala de concertos para negros.
Fechado há 32 anos, o prédio histórico abre suas portas nesta quinta-feira (12), com uma noite de gala. Quando foi inaugurado, no dia 22 de agosto de 1910, o chamado "Broadway negro", 24 anos antes do Teatro Apollo do Harlem, o Howard foi proclamado "the biggest concert hall in the world for people of color".
Era "um momento de grande discriminação e violência contra os negros nos Estados Unidos, um período em que, apesar de grandes artistas e intérpretes, não tinham entrada permitida em todos os teatros brancos, pelo que foram obrigados a criar suas próprias salas", disse Bernard Bemczuk, professor de história afro-americana na Universidade George Washington.
O Howard foi "o primeiro e o mais glorioso" dos teatros negros, afirmou, lembrando que se converteu "em sua voz", fazendo surgir, daí, um novo movimento em busca de justiça social e política, através das artes cênicas, e a realização de suas aspirações", disse à AFP. "Howard foi o primeiro lugar onde as vozes dos negros encontraram um público receptivo".
Com 1.200 poltronas e uma fachada de inspiração neoclássica, o teatro será cenário de várias apresentações anuais, com espetáculos de jazz, blues e rock, sem esquecer a representação de peças teatrais e concursos musicais.
A sala marcou o início da carreira de grandes nomes da música afro-americana, como Duke Ellington, Ella Fitzgerald, Marvin Gaye e The Supremes.
Nos anos de 1930, seu diretor decidiu realizar concursos de calouros. Ella Fitzgerald foi uma das vencedoras.
O público do Howard teve a oportunidade de ouvir aí Sammy Davis Jr, Lionel Hampton, e Dizzy Gillespie.
Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos, de 1933 a 1945, durante grande parte da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial, frequentou a sala, com a primeira-dama Eleanor, contou Demczuk.
O teatro entrou num período de decadência após os distúrbios que destruíram partes do centro de Washington em 1968, depois do assassinato de Martin Luther King, líder da luta pelos direitos civis, sendo fechado em 1970.
Houve uma série de reaberturas e novos fechamentos até que a sala, que fechou as portas definitivamente na década de 1980, caiu em ruína.
Recentemente, obras de restauração calculadas em 29 milhões de dólares, arrecadados de fontes públicas e privadas, deram ao prédio seu antigo esplendor, com sua fachada original de 17 janelas.
O programa previsto para as próximas semanas, elaborado pelo Blue Note Entertainment Group, inclui atuações de Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e John Clegg, assim como espetáculos de música gospel e dança flamenga.