Festivais alternativos comemoram Woodstock na Alemanha
Primeiro foi em Burg Herzberg, lugarejo situado no Estado do Hessen, depois será em Finkenbach, a 28 quilômetros de Heidelberg, em Baden-Württenberg. Na Alemanha, o espírito de Woodstock influenciou dois festivais hippies neste ano em que se celebra o quadragésimo aniversário do maior evento open-air da história da música pop: o acontecimento que reuniu cerca de meio milhão de jovens na pequena cidade de Bethel, nas proximidades de Nova York, no auge da contracultura no fim dos anos 60.
O festival realizado de 16 a 19 de julho em Burg Herzberg atraiu milhares de hippies e roqueiros não só da Alemanha, como também da França, Inglaterra, Holanda e Bélgica.
O evento, que reuniu Eric Burdon and The Animals, Roger Mc Guinn (ex-integrante do The Byrds), Mothers Finest, o space-rock do Gong e os jamaicanos do Original Wailers (formado por ex-membros do legendário grupo de Bob Marley), foi saudado pela crítica alemã como autêntica e simpática manifestação de uma geração que tinha vontade de mudar o mundo e que, sim, ainda está viva.
Ao comentar o show de Burdon, o Frankfurter Rundschau afirmou que “por alguns momentos era possível acreditar realmente no amor entre os seres humanos, com a paz reinando na Terra”.
Já o festival Finki Open Air, que acontecerá em 29 de agosto em Finkenbach, homenageará outro ícone “quarentão”: a Guru Guru, banda de krautrock (rock progessivo psicodélico alemão surgido na década de 60) criada em Heidelberg no mesmo ano em que Jimi Hendrix, Joe Cocker, Ritchie Havens e tantos outros incendiavam os Estados Unidos nos “três dias de paz e música” de Woodstock.
As estrelas do despretencioso festival serão as bandas Birth Control, Dissidenten, Schwefel e o reggaeman Ras Abraham, além do aniversariante Guru Guru.
Woodstock em Berlim?
Nos últimos meses, boatos de que produtores norte-americanos pretendiam promover dois megaconcertos no mês de agosto para comemorar os 40 anos de Woodstock causaram alvoroço. Um deles seria em Nova York e o outro, em Berlim, no aeroporto desativado de Tempelhof.
Tudo não passou de alarme falso. Mas ainda que os alemães não tenham tido seu Woodstock oficial em 2009, vários artistas que estiveram no festival em Bethel em 1969 estão de passagem pelo verão alemão deste ano, como Carlos Santana, Neil Young, Ten Years After e o trio Crosby, Stills and Nash.
Várias das principais emissoras de televisão e rádio do país reservaram espaço em sua programação para lembrar o festival de 1969, considerado pel diário Bild uma “suave resposta da América à agressiva onda de enfrentamentos do movimento de 1968 na Europa”.
Um dos programas mais interessantes é o filme "Woodstock - Como Nasceu o Mito", de Stefan Morawietz, transmitido pela emissora WDR. O diretor alemão viajou até os Estados Unidos para colher depoimentos dos músicos Country Joe Mc Donald, o baterista-sensação da banda de Carlos Santana, Michael Shrieve, e de Joel Rosenman, um dos produtores executivos do festival.
Do mesmo Joel Rosenman, foi lançado há pouco também na Alemanha o livro "Making Woodstock", escrito a seis mãos com John Roberts (segundo sócio-investidor de Woodstock) e o jornalista Robert Pilpel. A editora Orange Press, de Freiburg, caprichou na edição da obra, lançada nos Estados Unidos em 1974 e até então inédita na Alemanha.
Woodstock alemão em 1970
Um ano após o evento americano, houve uma tentativa na Alemanha de organizar seu próprio Woodstock. E já se contava com uma adesão de peso: os Rolling Stones, excluídos pelos produtores norte-americanos por causa do alto preço cobrado pela banda para tocar em Bethel.
A idéia partiu de um casal que sempre foi notícia nos turbulentos anos 60 na Alemanha: Uschi Obermaier, modelo e musa da contracultura, e Rainer Langhans, seu namorado intelectual. Ambos tinham feito parte da famosa Kommune 1, para muitos a mais espetacular “república” jovem da geração 68, situada em Berlim.
Uschi e Rainer, que queriam realizar o evento na Baviera, foram para Londres atrás de Peter Green, do grupo Fleetwood Mac, para que ele os colocasse em contato com os Stones. Os dois conheceram então Mick Taylor, um dos guitarristas do grupo, que os levou até o Olympic Studio, onde a banda estava gravando o álbum Sticky Fingers.
Ao se deparar com a beleza de Uschi Obermayer, Mick Jagger ficou extasiado. O músico inglês marcou um encontro com a dupla no dia seguinte e entregou a eles um documento em que oficializava o interesse dos Rolling Stones em participar do Woodstock alemão. Que acabou não saindo do papel.