Duo sino-brasileiro tenta associar o Brasil à bossa nova na China

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    A cantora chinesa Jasmine Chen em foto de divulgação (24/06/2011)

    A cantora chinesa Jasmine Chen em foto de divulgação (24/06/2011)

Xangai - Um duo sino-brasileiro, formado pelo músico veterano Sérgio "Filó" Machado e a intérprete chinesa Jasmine Chen, está apresentando em Xangai um espetáculo com muita música brasileira cantada em mandarim, especialmente bossa nova, cada vez mais conhecida no país, mas que não costuma ser associada ao Brasil.

O show, chamado "Gang Kou" (que poderia ser traduzido como "a entrada do porto"), é apresentado na histórica Sala de Concertos de Xangai e inclui também canções chinesas populares e temas de jazz da capital do país dos anos 1930 a 1950, adaptadas para que tenham um gostinho brasileiro.
 
"Aqui na China se escuta muita música brasileira em locais públicos, em restaurantes, em bares, mas as pessoas não identificam a origem, este é o desafio que temos", explicou à Agência Efe nesta sexta-feira Joel Sampaio, cônsul-geral adjunto do Brasil em Xangai. É a Embaixada brasileira que promove o show de Jasmine e Filó.
 
De fato, nas grandes cidades chinesas se escuta cada vez mais músicas desse estilo, cantadas por famosas artistas como a sino-japonesa Lisa Ono, que apresenta bossa e samba em português.
 
No entanto, na mente do público do gigante asiático, "falta colocar a marca Brasil" no ritmo, afirmou Sampaio, que pretende organizar iniciativas similares para dar continuidade a este projeto.
 
A ideia começou no ano passado na Exposição Universal de Xangai 2010, na qual vários músicos brasileiros interpretaram suas músicas com letras em mandarim, e agora um deles, Filó, voltou à China para colaborar com Jasmine, que há três anos vem traduzindo canções de artistas como Milton Nascimento.
 
"Em princípio é difícil (a adaptação), porque o ritmo da música brasileira é mais complicado que o da chinesa, e em cada canção tenho que averiguar quantos caracteres chineses posso colocar em cada frase para que encaixe com a melodia original", explicou à Efe a artista, cujo nome real é Chen Yinxi.
 
"Demorei um tempo para encontrar a maneira", disse, mas no final a cantora aprendeu a manter o significado das canções nas novas letras que acabava compondo para suas melodias em mandarim.
 
"Embora as pessoas estejam começando a saber o significado da palavra bossa nova e conheçam artistas como Lisa Ono, que é fácil de escutar e tem um estilo muito lindo, provavelmente não sabem de onde vem o estilo, nem qual é sua história, não sabem que vem do Brasil", afirma Jasmine, ecoando a versão de Sampaio.
 
Em sua opinião, é mais fácil que este tipo de música seja "entendido e aceito" entre o público chinês do que outros gêneros de jazz e pop ocidental, já que na música brasileira "a linha melódica é sempre muito bonita, e o ritmo é fácil de acompanhar".
 
Para Filó, músico de Ribeirão Preto (SP) que já tinha colaborado com artistas japoneses, esta vem sendo uma experiência inesquecível.
 
"O que atualmente está mais vivo na minha cabeça e no meu coração é dar continuidade a este trabalho, e espero fazê-lo em Pequim, em Hong Kong, em Macau", disse à Efe.
 
De seus shows em Xangai, o músico destaca a "boa energia" de um "público adorável", que canta as canções e se deixa levar pela música, apesar de assistir às apresentações sentado, segundo o costume chinês.
 
"Encontros e Despedidas", de Milton Nascimento, "Segredos do Mar", de Filó Machado e Judith de Souza, e clássicos como "Garota de Ipanema", de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, surpreenderam o público em seu próprio idioma, e também em português.
 
"Ainda estou muito comovido, é muito emocionante", relata Filó. "Quando tocamos pela primeira vez 'Segredos do Mar' em chinês, chorei durante toda a música", confessa.

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