Rock independente mongol toma conta de Pequim

Marga Zambrana

De Pequim

Usando, em geral, coletes de pele e botas bordadas e pontiagudas, 16 bandas de rock independente mongol chamaram a atenção nos últimos dias em Pequim com um estilo que mistura o canto gutural Khoomei com hip-hop, punk e hardcore.

Em um armazém nos arredores da capital chinesa, o poderoso grito destes nômades reúne milhares de jovens que em transe repetem de cor as letras na língua mongol, o que representa um desafio para essa etnia, que poetiza a liberdade contra a rigidez do regime autoritário chinês.

"Todos viemos de origens e experiências musicais diferentes", explica à Agência Efe Ilchi, ex-punk e um dos vocalistas da banda Hanggai, composta por sete músicos com influências que vão desde Rage Against the Machine até Radiohead.

Os músicos e o público são em sua maioria da Mongólia Interior, região chinesa próximo de Pequim, mas também de outras regiões chinesas onde habitam os mongóis, como Xinjiang e as regiões tibetanas.

A Mongólia Interior apareceu neste ano pela primeira vez em décadas nas capas dos jornais, depois que milhares de mongóis pediram justiça pela morte de dois pastores nômades atropelados por operários chineses do carvão.

Assim como em Tibete e Xinjiang, a convivência é difícil entre os nativos, que não representam nem 20% da população, e os colonos chineses enviados para explorar seus recursos naturais.

Ilchi, de 31 anos, precisou se aprofundar na cultura dos descendentes de Gengis Khan para recuperar canções populares que estavam caindo no esquecimento devido ao avanço do poder político, econômico e cultural da China.

"Todos somos de origem mongol, todos amamos nossa cultura. Começamos a formar nosso próprio estilo, misturando canções tradicionais com estilos ocidentais", explica o cantor. "Foi um processo complicado. Primeiro reunimos as canções populares que lembrávamos, e depois acrescentamos guitarra, baixo e bateria".

Na banda, esses instrumentos aparecem ao lado do tradicional "morin khuur", tipo de violino mongol, e o "tobshuur", um alaúde de duas cordas. Fundada em 2007, Hanggai já rodou o mundo em mais de 250 concertos pela Europa, Ásia, Estados Unidos e Austrália, o que consolidou o grupo como atração principal do Festival Musical "Mongol Anda", que começou na última sexta-feira em Pequim.

Além de Ilchi, a banda conta com o roliço Hurcha, em uma camiseta de "Jack Daniel's" com avelórios budistas, enquanto Bagen, que faz uma demonstração dos diferentes estilos de Khoomei ("garganta", em mongol), um canto xamânico de 4 mil anos de antiguidade e que desde 2009 é patrimônio da Unesco.

Os vocalistas Ileta e Hurcha monopolizam a apoteótica entrada: com o lenço budista branco, o "khataj", em posição de oferenda em suas mãos, iniciam um Khoomei a duas vozes até que a percussão dá ritmo ao espetáculo.

Com "A canção da bebida" os fãs levantam suas garrafas de cerveja e licor saudando Hurcha, com um colete próprio da luta mongol, bebe de seu parcimonioso copo de água. "Entre as duas Mongolias mantemos uma troca contínua", reconhece Ilchi, "eles gostam muito de nossa música. Realizamos encontros e temos um diálogo muito interessante".

"A música mongol tem um tom sustenido, lento, transmite um sentimento de liberdade, uma emoção profunda, uma paixão", conclui o vocalista.

Outras bandas e cantores que participam do Festival Anda ("irmãos de juramento") são Shaman Hoomei Erhimbat, Hulang, Nomadic, Yussn Erden, Tsetsn Nomadic, Khuh Kheer, Zuu Zai e Erguna.

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