Com disco novo nas lojas, Lynyrd Skynyrd diz que poderia viver de "Sweet Home Alabama"

GARY GRAFF
The New York Times Sindycate

No início do mais recente álbum do Lynyrd Skynyrd, "God & Guns" (em português, Deus & Armas), o vocalista Johnny Van Zant canta que "eu sinto o espírito na minha alma/ É algo, Senhor, que não consigo controlar/ Eu nunca vou desistir enquanto estiver respirando". É uma declaração de resistência que basicamente diz tudo que alguém precisa saber a respeito do que motiva o grupo de rock sulista nos últimos 45 anos.

Esta é, afinal, a banda que sobreviveu ao acidente aéreo em 1977 que matou três integrantes da banda –-incluindo o vocalista original, Ronnie Van Zant, o irmão mais velho de Johnny–- e deixou o grupo fora de atividade por uma década. E também testemunhou uma longa série de mudanças de pessoal e mais mortes, incluindo neste ano as do baixista Donald "Ean" Evans e do pianista Billy Powell.

Mas o Skynyrd resiste, voando alto como o "pássaro livre" de "Free Bird" (1973), seu hino mais conhecido, e ainda tocando sucessos como "Gimme Three Steps" (1973), "Sweet Home Alabama" (1974) e "What's Your Name" (1977) para uma legião de fãs fieis celebrados em "Skynyrd Nation", outra canção de "God & Guns", o primeiro álbum de material inédito desde 2003.

"Eu sempre ouvi que o motivo para cair é aprender a se levantar e seguir em frente", diz o guitarrista Gary Rossington, único sobrevivente da formação original, que surgiu como os Noble Five em 1964 em Jacksonville, na Flórida, adotou em 1970 uma variação do nome do professor de educação física do colégio --Leonard Skinner-- e ingressou no Salão da Fama do Rock and Roll em 2006.

LYNYRD SKYNYRD: "SKYNYRD NATION"

Ele diz que, quando a vida lhe dá uma mão ruim ou uma fratura feia, tudo o que sabe é seguir em frente. "Era como nos sentíamos na banda original e acho que isso ainda está no meu coração. Eu sei que quando começamos, nós tínhamos o sonho de ser uma grande banda. Nós sempre quisemos que nossa música fosse ouvida e esse sonho se realizou. Então me sinto responsável por manter vivo o nome Skynyrd, e agora o mantemos vivo com música nova".

Perdas e aprendizados
Material novo é crucial para manter o tipo de credibilidade que o Lynyrd Skynyrd preza, concorda Van Zant. "Vamos dizer a verdade", diz o cantor de 50 anos, "nós nem precisaríamos gravar outro álbum, nunca mais. Nós poderíamos viver de 'Sweet Home Alabama' e 'Free Bird', pois tenho certeza que para muitos fãs isso bastaria". Mas para eles, como artistas, compositores e pessoas que querem dizer algo, em intervalos de cerca de uns poucos anos é preciso apresentar algo, diz Van Zant. "E acho que precisávamos gravar este 'God & Guns'".

A última década certamente trouxe ao Lynyrd Skynyrd sua cota de perdas e desafios. Em 2001, o baixista Leon Wilkeson, que estava na banda desde 1972, morreu de enfisema e problemas no fígado. Seis anos depois, o guitarrista Hughie Thomasson, que após contribuir para "God & Guns" partiu para reformar seu grupo anterior, The Outlaws, e sofreu um ataque cardíaco fatal.

Em 28 de janeiro deste ano, Billy morreu em casa em Jacksonville, na Flórida, de ataque cardíaco. Evans, que substituiu Wilkeson na banda, foi diagnosticado com câncer no final de 2008 e morreu em maio. "Perder Billy e Evans foi duro para nós, para todos, cara", diz Van Zant. "Nunca é fácil, mas eu já estou nesta banda há 22 anos. Qualquer grande família provavelmente perderia quatro pessoas nesse intervalo de tempo e foi quantas pessoas eu perdi desde que estou nela. Você lamenta, mas também aceita isso como parte da vida".

Rossington diz que o falecimento de Billy foi particularmente duro para ele. "Eu estive com ele por tanto tempo e somos uma família", diz o guitarrista de 57 anos, cuja esposa, Dale Krantz-Rossington, é uma das vocalistas de apoio da banda. "Nós provavelmente passamos mais tempo juntos do que com nossas famílias. Eu não me recordo de um tempo sem o Billy. É realmente difícil, pessoalmente e para a banda. É trágico".

O guitarrista diz que tem sorte por ainda estar aqui. "Eu não queria ser o último integrante original ou o último cara restante, mas é o que aconteceu. É pesado. E toda vez que tocamos, eu sinto os espíritos do outros conosco e eles estão ajudando e cuidando para que tudo fique bem. Sinto que há muita gente naquele palco".

LYNYRD SKYNYRD: "STILL UNBROKEN"

"Ainda estamos de pé"
A perda de Billy e Evans incitou os outros músicos do Lynyrd Skynyrd a concluírem "God & Guns", no qual o grupo vinha trabalhando há vários anos. As duas canções finais também prestam tributo aos mais recentes integrantes perdidos da banda, com "Storm" que inclui uma menção a Evans e "Gifted Hands" saudando Billy.

"Eles fizeram parte do álbum e Hughie também, antes de falecer", diz Rossington. "Então queríamos concluí-lo para eles. Eles queriam que fosse lançado e queriam que a banda continuasse, então isso nos deu um chute no traseiro para nos mexermos e finalmente terminarmos".

Thomasson, Billy e Evans são ouvidos no primeiro single de "God & Guns", "Still Unbroken", que foi iniciado na casa do guitarrista Rickey Medlocke, em Fort Myers, na Flórida, e foi trabalhado em sessões posteriores no início deste ano. "Ela meio que fala a nosso respeito, a meu respeito em particular. É uma forma bacana de dizer que ainda estamos em pé, que nada vai nos derrubar ou nos deter", diz Rossington.

A música "Skynyrd Nation" surgiu quando Van Zant estava lendo as mensagens postadas pelos fãs após a morte de Billy. "Uma delas dizia: 'será que a nação Skynyrd vai continuar?'", ele se recorda. "E eu pensei: 'uau, eu nunca pensei nisso como sendo uma nação, mas realmente é'. Então liguei para Gary e para Rickey e disse: 'cara, nós temos que compor uma canção chamada 'Skynyrd Nation''. E foi o que fizemos".

Costumes sulistas
"God & Guns" também conta com uma boa dose do que Rossington chama de "modo sulista" da banda, ou posturas conservadoras, de Estado republicano. Canções como a faixa-título, "Simple Life", "Southern Ways" e "That Ain't My America" endossam valores aceitos por alguns e controversos para outros, mas os banda insiste que não está buscando arrumar briga com quem discordar.

"Não é como as Dixie Chicks ou outros cuja postura é 'faça isso ou aquilo'", diz Rossington. "Nós não queremos mudar a opinião de ninguém. Nós acreditamos naquilo que acreditamos, não temos medo de dizer isso, mostrar ou votar. Quando todos queriam Obama e mudança, nós não queríamos mudança. Nós apenas queríamos que as coisas permanecessem como costumavam ser, a boa e velha América de anos atrás. Somos sulistas. Tudo permanece o mesmo por aqui. As pessoas não saem atrás de todas as coisas novas, politicamente corretas".

Van Zant concorda. "Realmente não se trata de pregar para as pessoas", diz o vocalista. "Nós apenas acreditamos que você deve ter o direito de ter armas, de poder rezar e ter Deus em sua vida se quiser. Foi baseado nisto que esse país foi construído".

Rossington e Van Zant sabem que essa postura irrita algumas pessoas, mas após tantos anos trabalhando juntos, eles também percebem que a honestidade que está na natureza da banda desde sua criação faz parte de seu apelo. "Eu exponho essa posição desde o início e digo algo a respeito em canções do Ronnie", diz Van Zant. "Muita gente já me procurou e disse: 'sabe, cara, as palavras do seu irmão me ajudaram a me tornar uma pessoa melhor'. Que bênção maior Ronnie poderia ter deixado?".

O guitarrista diz que "o coração e alma" da música do Lynyrd Skynyrd ainda fala para a "Nação Skynyrd", sobre a qual a banda canta em "God & Guns". "Ronnie tinha um jeito de conversar com as pessoas e colocar coisas nas canções que todos podiam entender e com as quais podiam se relacionar. Eu acho que as pessoas respeitam isso e o fato de termos seguido em frente apesar de todas as tragédias.

Mesmo sabendo que não são os integrantes originais, diz Rossington, "nós tocamos toda a música original e acrescentamos algumas das novas para podermos nos expressar no momento atual. Eu acho que é apenas o amor das pessoas pela música, independente de ser velha ou nova".

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan)

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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