Sarah McLachlan redescobre o prazer de fazer música em disco novo "Laws of Illusion"

GARY GRAFF

The New York Times Syndicate

Sarah McLachlan diz que segue um lema comum: “Se a vida lhe dá limões, faça uma limonada”.

Mas ela teve que fazer um bocado de limonada nos últimos dois anos.

“Laws of Illusion”, o primeiro álbum da cantora e compositora canadense de novas canções pop em sete anos, teve uma recepção fria e, diferente dos três álbuns anteriores de McLachlan, fracassou em chegar ao 1º lugar nas paradas em sua terra natal. Como algumas das 13 canções do álbum revelam, ela ainda está lidando com as consequências emocionais de seu divórcio em 2008 de Ashwin Sood, seu baterista e pai de suas duas filhas pequenas.

Enquanto isso, festival itinerante de verão só de mulheres, “Lilith Fair”, que ela reativou após 11 anos, está, como ela mesma reconhece, enfrentando vendas “fracas” de ingressos, o que levou ao cancelamento de 13 datas e a transferência de outra data para um espaço menor.

Mesmo assim, enquanto ela fala por telefone do jardim de sua casa na área de Vancouver, de onde em um dia de céu claro é possível ver as montanhas ao longe, McLachlan parece longe de desanimada com sua sorte.

“A vida é boa”, ela diz. “Eu não faço as coisas prevendo que tudo será um grande sucesso. Eu faço o melhor que posso, aquilo com que me sinto bem e sigo em frente.”

“Eu basicamente vivi minha vida dessa forma. Tudo o que faço é porque sinto ser bom e certo, o que para mim já é um sucesso. Quero dizer, eu não preciso trabalhar se não quiser –uma situação ridícula para se estar aos 42 anos. Eu desfruto do luxo de poder dizer isso porque tive um grande... sucesso comercial.”

Com certeza McLachlan teve. Durante seus 22 anos de gravações, a natural de Halifax, Nova Escócia, vendeu mais de 40 milhões de álbuns em todo mundo e ganhou três prêmios Grammy. Seus principais sucessos incluem canções emotivas, lamentosas, como “Possession” (1993), “I Will Remember You” (1995), “Angel” (1997), “Building a Mystery” (1997) e “World on Fire” (2004).

Ela dá crédito ao seu sucesso ao chefe da Nettwerk Music Group, Terry McBride, seu empresário e parceiro no “Lilith Fair”, que trabalha com ela desde que Mark Jowett, da banda Moev, outro artista da Nettwerk, viu McLachlan com seu grupo do colégio, o October Game, se apresentando na Universidade Dalhousie, em Halifax.

“(A Nettwerk) me deu o ovo de ouro”, diz McLachlan, cujos pais a fizeram esperar até que concluísse o colégio –seu anuário dizia que ela estava “destinada a se tornar uma famosa estrela do rock”– e ela frequentou um ano na Faculdade de Arte e Design de Nova Escócia antes de assinar o contrato. “Quando eu tinha 19 anos, eles me entregaram o contrato de gravação e disseram: ‘Vá fazer algumas músicas e vamos ver o que acontece’.”

“Eles não me disseram que tipo de música fazer. Eles não me disseram o que vestir, como deveria ser minha aparência, o que dizer, como falar. Eles simplesmente me deixaram fazer o que eu sabia fazer. Eles me deixaram descobrir quem eu iria me tornar, e me deram dinheiro e liberdade para fazer isso no meu próprio ritmo. Isso é algo incrível e bastante incomum.”

“Eu não tinha ideia disso na época, é claro. Eu apenas pensava que era normal.”

Mas McBride deu a McLachlan uma ética de trabalho formidável.

“Terry faz seus artistas trabalharem arduamente. Eu poderia ficar sentada aqui reclamando disso, mas seria estupidez. Houve momentos em que eu o odiei e não queria fazer os últimos 50 shows –mas eu fiz e é por isso que fiz tanto sucesso. É por isso que tenho a carreira que tenho hoje, porque ele me pressionou... a trabalhar mais duro do que eu trabalharia sozinha.”

McLachlan levou quatro anos entre o triplamente platinado “Fumbling Towards Ecstasy” (1993) e seu sucessor, “Surfacing” (1997), um sucesso que recebeu oito discos de platina, e então mais seis anos antes de lançar o duplamente platinado “Afterglow” (2003). O álbum natalino “Wintersong” (2006) foi outro disco platinado.

Ela usou esses anos inativos para criar sua família, é claro, mas também para aperfeiçoar seu ofício.

“Eu considero as letras a coisa mais comovente, com certeza. Meus estilos musicais mudaram e evoluíram, mas eu acho que as letras de certo modo se tornaram mais simples e menos obtusas. Eu sou um pouco mais direta agora e não sou tímida a respeito. Eu sinto que estou me apoiando menos em poesia e imagens e estou dizendo mais apenas como me sinto.”

“E há uma liberdade nisso. Eu realmente me esforço para não me editar.”

“Laws of Illusion” (leis da ilusão), originalmente chamado de “Illusions and Loss” (ilusões e perda), é bem pessoal.

“O álbum trata... eu odeio entrar em detalhes a respeito, mas é, você sabe, basicamente sobre o fim do meu casamento e o fim dessa grande ilusão que criei para mim mesma, a realidade que achei que era.”

“Quando puxam seu tapete, resta a você entender que tudo não é o que parece, então como você se reajusta, muda, cresce e aprende com isso e coloca alguma ordem no caos? Se essas não são as regras, então quais são? Quais são as fronteiras quando tudo está mudando?”

“Eu faço muitas perguntas e passei a perceber que não há respostas definitivas. O entendimento e a conscientização vêm aos poucos e você tem que agarrá-los enquanto pode. Mas você fica convencida e acha que sabe algo, e é nesse ponto que você leva um chute no traseiro.”

“Eu acabei de descobrir que, quanto mais velha fico, mais consciente estou de que sei muito pouco.”

Mas “Laws of Illusion” não é só melancolia. McLachlan considera “Loving You Is Easy”, o primeiro single do álbum, “incrivelmente prazerosa”, inspirada em seu primeiro relacionamento após seu divórcio.

“Eu fui muito honesta e verdadeira na época. Lá estava eu pensando que tenho 40, tenho duas filhas e é o fim, a vida acabou para mim, e então repentinamente há um novo sopro de ar e a possibilidade de romance e amor, o desejo volta ao quadro, acorda você e faz com que você se sinta incrivelmente viva. Foi meio que: ‘Hein? Há possibilidade desse sentimento e de que a vida não tenha acabado’.”

O fato do romance ter terminado não mudou seu ponto de vista.

“Foi ótimo e estou realmente feliz solteira no momento, em um ótimo estado. Eu acho que no final precisava ficar solteira, realmente, porque pular de um relacionamento para outro não é necessariamente a melhor coisa. Apesar da sensação ter sido ótima na época.”

“Laws of Illusion” levou McLachlan em uma nova direção musical, especialmente porque sua separação de Sood a obrigou a refazer sua banda.

“Uma das coisas que adoro neste álbum é que nós o gravamos ao vivo, o que é muito diferente para mim. Geralmente eu entro no estúdio e gravo pedaços diferentes e lentamente reúno os elementos de uma canção ao longo de meses. Desta vez foi: ‘Aqui está a canção’, eu a toco para os rapazes, ‘estes são os acordes’, aperte ‘gravar’ e vamos. Nós literalmente gravamos seis canções em cinco dias... e aquela energia bruta, agressiva, divertida, por si só já era empolgante.”

“Eu também preciso ser um pouco mais agressiva. Em uma canção, ‘Awakening’, foi assim: ‘Não, você precisa bater mais forte nessa bateria! Toque mais pesado!’ Foi realmente divertido extrair isso dos músicos. Eu não estou reinventando a roda aqui, mas o processo foi muito diferente para mim.”

A oportunidade de voltar a ser uma artista de novo, após anos sendo consumida “abençoadamente” pela maternidade, foi bem-vinda.

“Eu realmente desfrutei disso, mas você assume essa mentalidade de mamãe, esse mundo de mamãe, e então precisei sair por cinco dias e trabalhar 16 horas por dia com um grupo de rapazes no estúdio, e foi muito empolgante fazer música de novo e me lembrar de que é isso o que faço.”

“Sim, eu sou uma mãe”, conclui McLachlan, “mas também sou uma música, de forma que me senti bem por estar completamente imersa nisso de novo. Foi muito empolgante”.

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.)

Tradução: George El Khouri Andolfato
 

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