Em meio à turbulência pessoal, Melissa Etheridge retoma seu ritmo

GARY GRAFF

The New York Times Syndicate

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    Melissa Etheridge se apresenta em evento da Academia de Gravação dos Estados Unidos, em Nova York (21/06/2010)

    Melissa Etheridge se apresenta em evento da Academia de Gravação dos Estados Unidos, em Nova York (21/06/2010)

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Sua vida pessoal pode estar turbulenta, mas Melissa Etheridge continua mandando ver no rock. Em seu novo álbum, “Fearless Love”, a cantora, guitarrista e compositora do Kansas, que já vendeu mais de 27 milhões de álbuns em todo o mundo desde 1988, retorna à energia ousada de seus primeiros álbuns –o que, ela diz, era a ideia.

“Meu plano era tocar rock”, diz Etheridge, 49 anos, falando por telefone da casa em Los Angeles que, até recentemente, ela dividia com sua companheira, a atriz Tammy Lynn Michaels. “Essa era minha intenção antes mesmo de começar a compor canções. Meu plano era usar as influências de toda minha vida de artistas do rock and roll que me sensibilizaram, e tentar tornar (‘Fearless Love’) memorável como a música deles, realmente fazer o melhor que eu pudesse o tempo todo. Eu quero que as pessoas digam: ‘Uau, ela é da pesada’!”

Desde os dias de “Melissa Etheridge” (1988) e “Brave and Crazy” (1999), e especialmente após seu estouro com o seis vezes platinado, “Yes I Am” (1993), Etheridge expandiu seus horizontes sonoros em várias direções. Todavia, ela diz, não foi difícil voltar ao rock mais pesado para “Fearless Love”, que estreou no 7º lugar na parada Billboard 200 no final de abril, a melhor estreia de Etheridge desde “Your Little Secret” (1995).

“Não, foi fácil”, ela diz, “porque é o que amo fazer. Apesar dos meus álbuns terem sido diferentes, quando subo ao palco esse amor pelo rock sempre esteve presente. Então desta vez eu quis pegar o que faço no palco e colocar no álbum.

“A pressão é para ser autêntica, ser eu mesma e deixar de lado aquele medo de ter que provar algo, simplesmente fazer o que amo. Essa é a pressão: Eu amo isso? Porque, quando eu amo e quando estou me divertindo, é quando as pessoas podem se relacionar com isso.”

Ativismo e separação difícil
Nascida em Leavenworth, Kansas, Etheridge frequentou a Berklee College of Music, em Boston, antes de se mudar para Los Angeles. Seu trabalho nos clubes de lá a levaram a assinar contrato com a Island Records em 1986. De lá para cá, ela lançou 10 álbuns e ganhou dois prêmios Grammy e um Oscar de melhor canção, este último por “I Need to Wake Up”, do documentário ambiental de Al Gore, “Uma Verdade Inconveniente” (2007).

Etheridge também tem sido uma figura proeminente na comunidade gay desde janeiro de 1993, quando ela assumiu no Triangle Ball, que celebrava a primeira posse do presidente Bill Clinton, e tem sido uma porta-voz da conscientização e prevenção do câncer de mama desde que sobreviveu à doença em meados dos anos 90.

No mesmo mês em que “Fearless Love” foi lançado, Etheridge e Michaels –mães dos gêmeos de 3 anos, Miller e Johnnie– anunciaram sua separação após quase sete anos de casamento. A situação logo ficou feia.

Michaels, que estrelou a série de televisão “Popular” (1999-2001) e “Committed” (2005), atacou Etheridge pelo seu blog, acusando a cantora de anunciar sua decisão de separação pela mídia e violando o acordo de não dar entrada ao pedido de divórcio até o final da turnê de Etheridge para divulgação de “Fearless Love”. Michaels e seu advogado também alegaram que Etheridge não daria nem a ela e nem às crianças dinheiro algum. O advogado de Etheridge respondeu que a cantora está fornecendo US$ 2 mil por mês, além de pagar as contas da casa, despesas e a prestação do carro.

Etheridge está buscando a custódia conjunta das crianças, enquanto Michael deseja custódia física e legal plena, assim como uma pensão mensal de US$ 12 mil, com acordo de visita para Etheridge.

“É difícil”, diz a cantora, que tem outros dois filhos, Bailey de 13 anos e Beckett de 11 anos, de seu relacionamento com a cineasta Julie Cypher, que terminou em 2000. “É difícil não se sentir como um fracasso ou algo assim. Mas é para melhor –este é o motivo para se fazer isso.”

Ela está resignada por ter de lidar com o assunto publicamente, ela acrescenta, apesar de não gostar. “Há tantas coisas sobre as quais não tenho controle publicamente, especialmente em um mundo de frases editadas, onde eu posso dizer todas essas coisas e eles escolhem uma frase e será o que as pessoas escutarão. Eu preciso me distanciar e aceitar que as pessoas dirão o que quiserem dizer. Eu só posso fazer o melhor que posso e deixar que siga seu curso, até que passe.”

O lançamento de “Fearless Love” apressou sua decisão de anunciar a separação de Michaels, ela diz. “Eu comecei a dar entrevistas”, explica Etheridge, “e as pessoas me perguntavam a respeito do meu excelente casamento e família, sobre como mantínhamos as coisas funcionando e tudo mais, e eu senti tipo: ‘Não dá para ficar sentada aqui mentindo’. O momento foi simplesmente... ruim. Era uma situação sem saída.”

Mudança pessoal
Etheridge começou a compor para “Fearless Love” em 2008, ela diz, de forma que o álbum não foi inspirado pela separação. Mesmo assim, ela reconhece, ela certamente ingressou nas 12 canções do álbum. “Uma coisa que aprendi é que frequentemente escrevo sobre coisas sem perceber que estou fazendo, mas encontro as pistas eu mesma posteriormente, e penso: ‘Veja só isso. Eu mesma estava me dizendo, mas não percebi na época’. Não há nenhuma canção escancarada, tipo ‘Sim, estamos nos separando’ lá, mas sei que há algo presente. A experiência acabou. Eu estava passando por ela quando estava compondo o álbum, de forma que é algo que se pode esperar.”

Mais do que isso, entretanto, Etheridge sente que “Fearless Love” “tem muito a ver com o caminho em que estou pessoalmente, uma mudança em mim, o desejo de ser destemida, de ser a melhor pessoa que puder ser para mim mesma antes que possa ser boa para qualquer outra pessoa”.

Assim que sentiu a direção do álbum, Etheridge chamou o co-produtor John Shanks, que foi integrante de sua banda nos anos 80 e início dos anos 90, antes de passar a produzir sucessos para artistas como Bon Jovi, Kelly Clarkson, Sheryl Crow, Miley Cyrus, Jonas Brothers e Alanis Morissette, ganhando um Grammy como produtor do ano em 2005. Ele co-produziu o álbum dela de 1999, “Breakdown”.

“Ele é como meu irmão”, diz Etheridge. “Ele sabe o que posso fazer e como me pressionar para ser a melhor que posso ser. Eu componho todas as canções, mas dou ouvidos a ele. Eu deixo que ele faça tudo e então eu dou a palavra final. É uma colaboração no sentido de que tenho um grande respeito por ele.”

O álbum começou rapidamente com “The Wanting of You” e “Miss California”. “E pensei tipo: ‘Aqui está. Esse é o padrão. Agora todas precisam estar à altura’. Quando é empolgante e novo, e sinto: ‘Uau, será que consigo fazer isso’, as coisas ocorrem rapidamente. Essas canções, elas levaram alguns dias para dar à luz, mas não precisei me debruçar sobre elas por muito tempo.”

Trabalhando basicamente no estúdio Document Room de Shanks em Malibu, as outras canções vieram rapidamente. A pesada “Drag Me Away” foi inspirada em velhas canções do Led Zeppelin, enquanto Etheridge diz que “Indiana” é “a história de Tammy, como eu a vejo”.

Mas o centro emocional de “Fearless Love” é a canção “Heaven on Earth”, na qual Etheridge canta: “Quando eu largar meu fardo/Aquele em que tive algo a provar/Então eu encontrarei meu poder...” É um sentimento que resume exatamente como ela está se sentindo no momento, pessoal e musicalmente, mesmo em meio às turbulências pessoais.

“Eu entrei nesta indústria do entretenimento e toda vez em que você entra nessa arena de novo é tipo: ‘Eu preciso provar que possa cantar, apesar de ser gay ou mulher? Todas essas coisas. Finalmente, tipo, eu realmente desencanei e disse: ‘Sabe de uma coisa? Sou o que sou, eu estou neste negócio há 20 anos e não tenho que provar mais nada’.”

“Isso traz muita liberdade”, diz Etheridge. “Então estou bem. Estou melhor do que bem. Eu estou ótima. Eu estou muito feliz, adorando meu caminho, amando como tudo está. É uma ótima condição na qual estar.”

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.)

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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