Sheryl Crow volta ao soul em "100 Miles From Memphis" com ajuda de Timberlake e Keith Richards
GARY GRAFF*
The New York Times Syndicate
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Getty Images
Sheryl Crow durante show no evento beneficente "Rock A Little, Feed Alot" no Club Nokia em Los Angeles, na Califórnia (29/09/2009)
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Sheryl Crow demonstra alegria ao falar por telefone sobre seus dois novos recém-chegados: um álbum, “100 Miles From Memphis” e, mais importante, seu segundo filho, Levi. "Ele é perfeito", diz exultante Crow, aos 48 anos, que adotou Levi como irmão para Wyatt, de 3 anos. "A esta altura ele é uma bolinha perfeita que come, dorme e faz caca. Precioso! Wyatt o adora e curte ser o irmão mais velho. Até aqui, tudo ótimo".
Este também poderia ser o slogan da carreira de Crow. Desde que deixou seu Estado natal, Missouri, e seguiu para Los Angeles --onde começou como cantora de apoio para Don Henley, Michael Jackson e Tina Turner, antes de fazer sua estreia solo com "Tuesday Night Music Club" (1993)-- ela já vendeu mais de 35 milhões de álbuns em todo mundo. Entre seus sucessos estão "All I Wanna Do" (1993), "Strong Enough" (1993), "If It Makes You Happy" (1996), "Everyday Is a Winding Road" (1996) e "My Favorite Mistake" (1999).
Ela já ganhou nove prêmios Grammy ao longo do caminho, sem contar as colaborações em disco com Brooks & Dunn, Vince Gill e Kid Rock e no palco com Eric Clapton, Luciano Pavarotti, Rolling Stones e muitos outros. E ela também produziu parte do álbum "Trouble in Shangri-La" (1991) de Stevie Nicks. Foi um longo caminho desde Kennett, no Missouri, com população aproximada de 11 mil, onde Crow nasceu a terceira de quatro filhos de um pai que, além de exercer Direito, tocava trompete, e de uma mãe que ensinava piano.
Mas com "100 Miles From Memphis", Crow volta para casa, ao menos musicalmente. "Eu cresci literalmente a 100 milhas (160 quilômetros) de Memphis", diz Crow, que estudou música na Universidade do Missouri, em Columbia, trabalhou como professora de escola primária e foi cantora de jingles publicitários antes de partir para o Oeste. "Cresci ouvindo rádio, as estações de Memphis, Chicago e Muscle Shoals. Quando comecei a participar de bandas, o dicionário comum eram todas aquelas canções da Motown e Stax, que podíamos tocar com qualquer formação em festas".
Essa influência também ficou evidente para as pessoas em torno dela. Quando Crow começou a pensar a respeito de seu sétimo álbum, o empresário Steven "Scooter" Weintraub e o amigo Doyle Bramhall 2, que acabou co-produzindo "100 Miles From Memphis", encorajaram Crow a voltar para suas raízes. "Eles já me ouviram cantando em várias ocasiões de forma casual. E, tendo crescido com esse tipo de soul music, ela tende a brotar, e foi o momento perfeito para mergulhar de cabeça nisso".
A atração era maior do que apenas o estilo de música. Após o rompimento altamente noticiado com o noivo Lance Armstrong e uma batalha bem-sucedida contra o câncer de mama --fatos narrados em seu álbum de 2008, "Detours"-- Crow encontrou na soul music um veículo que permitiu que ela mantivesse explorando essa veia pessoal, mas com um tom de otimismo cauteloso.
Ela queria que o álbum fosse a respeito de intimidade e desejo, amor perdido e encontrado. "Sua vida sempre molda sua arte e este álbum é, definitivamente, o resultado da mudança da minha vida de muitas formas desde 2006. É parte de quem sou, um aspecto meu. Era como se fosse necessário escrever a respeito dessas coisas. Faz parte de quem todos nós somos e é a parte que frequentemente negamos. Este álbum é sobre o amor".
Ouça músicas de "100 Miles From Memphis", divulgadas pelo Blog do Maia:
Timberlake, Keith Richards e Michael Jackson
Ironicamente, "100 Miles From Memphis" foi feito a mais de 1.000 milhas da cidade que dá seu nome. Crow, Bramhall e o colaborador Justin Stanley trabalharam em grande parte no Henson Recording Studios, em Hollywood, e no Electric Lady Studios, em Nova York, mas Crow diz que conseguia acessar aquele estado de espírito de Memphis sempre que estava trabalhando.
No Electric Lady, que foi construído por Jimi Hendrix em 1970, Crow se viu com um pouco mais de ajuda do que previa. "Todo tipo de coisa fantasmagórica acontecia", ela recorda rindo. "Eu começava a cantar e havia aquela corrente de ar audível atravessando o estúdio, e eu dizia: 'Jimi, estou tentando cantar'. Você sente como se a presença dele ainda estivesse naquela sala", conta.
"100 Miles From Memphis" inclui vários convidados mortais, cujo mais surpreendente é Justin Timberlake, que se juntou a Crow para uma versão de "Sign Your Name" de Terence Trent D'arby, após se encontrarem no Henson Studios. "Ele estava trabalhando no novo álbum de Jamie Foxx e o encontrei no corredor. Eu o chamei e, assim que ele ouviu o início da música e a releitura estilo Al Green, disse que era de Memphis e quis fazer o vocal de apoio".
Crow é só elogios a Timberlake. "Foi tudo muito orgânico, perfeito. Eu sempre gostei dele, e sei que as pessoas amam o Justin Timberlake mas, cara, ninguém tem ideia de quanto ele é talentoso. Ele planeja tudo, tem esse vasto conhecimento de todo tipo de música e música antiga. Eu fiquei realmente impressionada com ele. Ele é engraçado, inteligente e ótimo, bastante presente".
O guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richard, aparece na levemente reggae "Eye to Eye". "Ele sempre me apoiou desde o início", diz Crow, que também faz dueto com Citizen Cope no álbum. "Os Stones me convidaram para cantar com eles bem no início e criei uma admiração por todos eles, mas com Keith eu sinto uma espécie de alma-gêmea. Ele escreveu o livro sobre o tipo de música que gosto e é muito inspirado pela música do Sul, country e rhythm and blues. Então liguei para o empresário dele e perguntei se ele podia vir. E ele veio".
Crow fecha o álbum com outra referência ao seu passado, um cover de "I Want You Back" dos Jackson 5, do álbum que ela diz ter sido seu primeiro, "Diana Ross Presents the Jackson 5" (1969). Também é uma homenagem ao falecido Michael Jackson. "Ele me deu meu primeiro emprego no ramo quando eu estava em Los Angeles havia apenas seis meses. O mundo todo sentiu sua perda. Foi bom colocá-lo no álbum e foi a melhor forma de encerrá-lo".
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan
Tradutor: George El Khouri Andolfato