Guitarrista Nils Lofgren conta como é gravar e excursionar com Bruce Springsteen

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GARY GRAFF
The New York Times Syndicate


Faz 25 anos desde que Nils Lofgren ingressou na E Street Band de Bruce Springsteen, mas ele diz que ainda se sente como se fosse "o novo garoto".

Outros vieram depois dele, é claro, incluindo a multi-instrumentista Soozie Tyrell e o tecladista Charlie Giordano, que substituiu Danny Federici, morto em 2008. Mas Lofgren, 57 anos, que grava e excursiona desde que tinha 17 anos, claramente deseja manter o manto de "novo garoto" para si mesmo.

"Eu era fã (de Springsteen) antes de ingressar na banda", diz Lofgren, que foi contratado para a E Street Band em 1984, quando Steve Van Zandt decidiu deixar o grupo para seguir uma carreira solo. "Eu acho que ele tem uma das melhores bandas, talvez a maior banda que já existiu na história do rock. Eu me sinto honrado toda vez que ele nos utiliza, e fica cada vez melhor, o que é impressionante."

Enquanto Springsteen e companhia -incluindo Van Zandt, que retornou para tocar ao lado de Lofgren em 1995- caem na estrada para divulgar seu novo álbum, "Working on a Dream" (2008), Lofgren ainda professa admiração pela turnê do grupo do ano passado, principalmente uma maratona de shows de verão na qual Springsteen rotineiramente abandonava o set list e tocava aquelas pedidas pelos cartazes que os fãs exibem durante os concertos.

"Os dois últimos meses da turnê se tornaram shows completamente improvisados", lembra Lofgren rindo. "Ele se dirigia para o público e pegava, tipo, 30 cartazes. Toda vez que ele fazia isso eu pensava: 'Parece um garoto universitário revirando uma pilha de roupa à procura de uma camisa limpa o suficiente para poder vestir', revirando cartazes, à procura de algo para tocar. Alguém me disse: 'Sim, vocês tocaram mais de 160 canções (diferentes)'."

"É isso o que adoro em Bruce", diz o músico. "Ele fez um show todo improvisado, mas sem comprometer a emoção e energia que sempre oferecemos, o que é muito difícil como líder de banda. Ele realmente esteve à altura da ocasião."

Para Lofgren, foi simplesmente outra aventura em uma carreira de quatro décadas que começou de modo auspicioso e nunca careceu de reviravoltas interessantes.

Nascido em Chicago, Lofgren teve sua primeira experiência musical na forma de aulas de acordeão, que ele começou a ter quando tinha 5 anos e continuou por 10 anos. Mas aos 13, quando sua família se mudou para Bethesda, Maryland, um subúrbio de Washington, Lofgren assistiu os Beatles no "The Ed Sullivan Show". Impressionado, ele adotou tanto o rock and roll quanto a guitarra.

"Eu olhei para trás e mergulhei nas coisas antigas -Buddy Holly, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry", diz Lofgren, que atualmente vive no Arizona com sua mulher, Amy. "Eu escolhi a guitarra como hobby. Aos 17 anos eu já era bom nela, e então assisti Jimi Hendrix ao vivo e pronto. Eu sabia que era aquilo que queria fazer."

"Eu abandonei a escola e fugi para Greenwich Village."

Lofgren posteriormente voltou para casa para formar o Grin, um trio que posteriormente recebeu o acréscimo de seu irmão mais novo, Tom, na segunda guitarra. Mas uma viagem planejada para Los Angeles foi desviada quando Neil Young -que viu a apresentação do Grin em um clube de Washington- pediu a Lofgren, na época com 17 anos, que tocasse piano e cantasse em seu álbum "After the Gold Rush" (1970).

Lofgren usou sua nova credibilidade musical para conseguir um contrato para o Grin, e o quarteto gravou quatro álbuns não devidamente apreciados antes de se separar em 1974. Àquela altura Lofgren estava novamente trabalhando com Young, tocando na turnê "Tonight's the Night" em 1973 e no álbum de 1974 de mesmo nome.

Após o fim de sua banda, Lofgren seguiu seu próprio caminho. De lá para cá, ele lançou duas dúzias de álbuns solo -o mais recente sendo "The Loner: Nils Sings Neil" (2008), uma coleção de suas canções favoritas de Neil Young- mesmo enquanto trabalhava com Young, Springsteen e na primeira formação da All-Star Band de Ringo Starr.

Neste ano ele também lançou "Tuff Stuff!: The Best of the All-Madden Team", uma coleção de rocks instrumentais que compôs e gravou ao longo dos anos para as equipes anuais de astros de John Madden, o locutor esportivo da televisão.

Mas são os shows ao vivo de Lofgren que lhe renderam um status cult e seguidores que incluem muitos colegas músicos.

"Nils é simplesmente um ótimo músico", diz Van Zandt em uma entrevista separada. "Ele toca tantos instrumentos e tem um ótimo gosto e instinto. Ele é como um jogador coringa e astro de uma equipe de beisebol -você pode pedir a ele que faça qualquer coisa e ele o fará perfeitamente."

De sua parte, Lofgren diz que o palco ainda é seu local favorito para tocar música.

"Qualquer um que adora tocar o faz melhor ao vivo do que no estúdio. Dentre as grandes bandas que vi tocar -Hendrix, The Who, Pretenders, Eric Clapton, mesmo os Stones- todas as que realmente adoro, quando são boas ao vivo, elas são melhores do que nos discos."

"É o local onde eu realmente brilho e me sinto mais em casa, musicalmente, na turnê, tendo um show para tocar ao lado de uma grande banda. Após 40 anos na estrada, eu realmente aprecio essa oportunidade mais do que nunca. É realmente muito especial."

"A pior coisa que pode acontecer é ficar sentado e passar cinco anos (no estúdio) preocupado com aproximadamente 10 canções. Você precisa sair na marra de lá, deixar que as pessoas amem ou odeiam as canções e seguir em frente."

Mas esta dedicação ao palco tem suas armadilhas. Um músico excêntrico dado a muita atividade física e acrobacias, como dar um mortal de costas em um trampolim enquanto toca, Lofgren saiu do último show de Springsteen em 2008 diretamente para um hospital, onde passou por uma cirurgia para substituição do quadril -resultado, ele diz, de saltar de tantas plataformas da bateria, sem contar jogar futebol na juventude e basquete por toda a sua vida.

"Eu já toquei com dor e bebi com dor", diz Lofgren rindo. "De repente me vejo com 57 anos e um quadril de um homem de 90. Em ambos os lados do quadril é osso direto no osso nos últimos três anos."

"Eu ia a diferentes médicos e eles diziam: 'Olha, você não tem nenhuma cartilagem nos quadris. É osso direto no osso. Não há como ajudá-lo exceto uma substituição completa."

A recuperação de Lofgren foi rápida. Ele estava de volta à E Street Band para sua apresentação no intervalo do 43º Super Bowl (a final do futebol americano) em fevereiro, e passará o restante do ano na estrada divulgando "Working on a Dream".

"Eu adoro o álbum. Ótima produção, ótima musicalidade, ótimo canto, mas isso é algo certo. Eu sinto a emoção na composição de Bruce e sua empolgação por estar inspirado."

Lofgren descreve o processo de "linha de montagem" que criou "Working on a Dream", no qual os principais membros da E Street Band -Springsteen, Van Zandt, o tecladista Roy Bittan, o baixista Gary Tallent e o baterista Max Weinberg- trabalhavam nas faixas básicas em uma sala enquanto Lofgren ficava em outra, gravando os solos e preenchendo com uma série de instrumentos, com o produtor Brendan O'Brien indo de uma sala para outra.

"Brendan vinha e me dava algumas idéias e títulos de canções, e então voltava correndo para a outra sessão. Eu ficava fazendo a minha parte. Quando rolava uma pausa para montagem de equipamento ou algo assim, eu ia para a outra sala e assistia Bruce preparando as faixas com o pessoal."

"Gravar não é meu lance preferido, porque exige uma paciência que eu geralmente não tenho. Mas é divertido com Bruce e Brendan. Eles comandam o show, então me transformo em uma ferramenta que eles usam e, se é a forma como desejam trabalhar, eu abraço."

Agora Lofgren está de volta à estrada, com novos quadris e tudo mais, com braços bem abertos e pronto para tocar sua guitarra por quanto tempo Bruce Springsteen quiser.

"Eu sou incrivelmente afortunado. Eu já trabalhei com ótimas bandas e com alguns líderes ótimos, lendários, de Neil até Bruce e Ringo. Eu não considero isso algo garantido. A maioria dos músicos apenas torce por ter uma experiência como esta, e eu tive três."

"Não esqueça que isto sempre foi meu hobby. Eu peguei uma guitarra por diversão e sempre cuidei para que fosse divertido. E até agora ainda é."

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.)

Tradução: George El Khouri Andolfato

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