Integrantes do Garotos Podres brigam na Justiça por nome da banda punk
Mário Barra
Do UOL, em São Paulo
Uma das principais bandas punk do Brasil, com mais de 30 anos de história, o Garotos Podres está envolvido em uma disputa entre os integrantes do grupo, conhecido por músicas como "Papai Noel Velho Batuta", "Vou Fazer Cocô" e "Anarquia Oi".
Com o nome Garotos Podres congelado para uso, o baixista Michel Stamatopoulos e o baterista Leandro Ciorra, conhecidos como Sukata e Caverna no meio musical punk, travam uma batalha na Justiça com o vocalista Mao. Enquanto isso, a dupla se apresenta sob o nome Garotos ao lado do vocalista Gildo Constantino, conhecido pelo trabalho anterior na banda Pátria Armada.
OUTRO LADO
O UOL entrou em contato com o baixista Michel Stamatopoulos (Sukata). O músico e advogado preferiu não comentar sobre o assunto.
Já Ricardo Prates disse à reportagem lamentar a briga entre os integrantes, mas confirmou, a rigor, o congelamento do nome Garotos Podres. "Por enquanto, a banda está desativada", afirmou o empresário.
Sem entrar em detalhes sobre o que Mao disse a seu respeito, Prates citou que o cantor abandonou a banda. O empresário também defendeu sua influência no grupo no decorrer dos anos. "A banda tem uma história muito bonita, fiz parte disso aí. Ajudei de alguma maneira a criar o Garotos."
Em entrevista ao UOL, Mao apresentou sua versão dos fatos. Segundo o cantor, os problemas começaram durante a passagem da banda pelo Araraquara Rock 2012, evento realizado na cidade paulista entre 12 e 15 de julho. O Garotos Podres foi uma das atrações que encerraram o festival, ao lado do CPM 22.
Mao conta ter desconfiado dos valores de cachê para a banda, maiores que o de costume, e também das empresas envolvidas no evento. Ao pedir explicações sobre a natureza dos contratos, Mao diz não ter recebido resposta de Ricardo Prates, empresário da banda. Na sequência, o cantor conta que foi abandonado pelos membros da banda na cidade, sem transporte e dinheiro, a 300 quilômetros de distância de sua casa, em São Bernardo do Campo.
Incomodado, Mao decidiu registrar o nome Garotos Podres junto ao Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) em julho de 2012. O músico não comunicou a decisão aos demais integrantes. "Meu objetivo não era me aproveitar disso. Era só o de me resguardar", conta o cantor.
Com a passagem dos meses, Mao cortou relações com Sukata, Caverna e Prates. O vocalista chegou a forçar o cancelamento de um show da banda previsto para Cascavel, em setembro de 2012, depois de ter avisado ao contratante de que não participaria. "Depois de Araraquara, rompeu-se um vínculo de confiança. Como que eu iria viajar até o Paraná com uns caras desses?", questiona Mao.
Em seguida, o cantor relata ter recebido ameaças de processo por parte de Sukata, que dizia a amigos em comum que o cantor deveria cumprir a agenda da banda para não precisar responder na justiça. "Eles queriam me obrigar a tocar. Quero distância disso. Sou mão-de-obra livre, não sou escravo", diz.
Estremecida, a relação entre os músicos acabou de vez quando Sukata tentou, em março de 2013, registrar o nome do grupo junto ao Inpi e descobriu que Mao tinha se adiantado. O baixista então enviou uma notificação extrajudicial a Mao, propondo um acordo no qual os direitos sobre a marca seriam distribuídos entre os demais integrantes do Garotos Podres ou que o nome fosse liberado para uso livre. Caso Mao se negasse ou deixasse de responder, a notificação alertava sobre ações possíveis por danos morais e materiais e por impedimento de registro do nome Garotos Podres junto ao Inpi.
Mao respondeu à notificação, alegando que não havia abandonado a banda como a notificação havia proposto, e citou o ocorrido em Araraquara. Em seguida, Mao enviou novas notificações ao empresário Ricardo Prates e os músicos Sukata e Caverna. Nos três documentos, o cantor reforçou o direito à marca Garotos Podres e negou autorização para o uso do nome em situações como lançamentos de discos e shows.
Todos os documentos foram disponibilizados pelo cantor em sua página no Facebook. O uso da rede social foi outro motivo de discórdia entre os integrantes, com Mao relatando ter sofrido bloqueios por conta da ação de seus ex-colegas de banda, incluindo Gildo Constantino, que assumiu os vocais da banda. Gildo, Sukata e Caverna aparecem em apresentação recente do Garotos -- já sem Mao e com o nome reduzido -- ao lado do duo Brothers of Brazil, de Supla e João Suplicy, durante a comemoração do aniversário da cidade de Santo André em 8 de abril de 2013.
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Disputa judicial entre Sukata (2º à esquerda) e Mao (último à direita) desmontou a banda
Fim da banda
Além dos problemas com a marca, Mao cita ter sido ameaçado por meio de mensagens pelos ex-amigos de banda. O cantor, doutor em história e professor da disciplina, também afirma que Sukata mudou seu posicionamento político. Com um histórico calcado pelo discurso de esquerda, o Garotos Podres sempre foi identificado com uma banda contra a ideologia de direita, mas Mao diz que o baixista recentemente passou a defender a ditadura militar e a permanência do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmera Federal.
"Não sei o que está acontecendo com ele. 'Lobãozice' aguda, defendendo a permanência do Marco Feliciano. Onde que o cara tá com a cabeça?", pergunta.
Com os problemas de relacionamento e a disputa judicial em andamento, Mao afirma que a história do grupo criado em 1982, um dos principais nomes do punk brasileiro ao lado de Ratos de Porão, Cólera e Inocentes, chegou ao fim. "Aquela banda chamada Garotos Podres acabou. Não existe uma continuidade da banda", diz Mao. "O que eles [Sukata e Caverna] vão fazer, não é mais problema meu. Nem vou me manifestar mais. Já cumpri o meu papel de alertar as pessoas. O Garotos Podres acabou, ponto."
Já o Garotos tem apresentação marcada ao lado do Inocentes para abrir o show de CJ Ramone em São Paulo, a ser realizado em julho de 2013 na casa Hangar 110.
Futuro
Mao confirma que vai tocar um novo projeto musical ao lado de Cacá Saffiotti, guitarrista que tocava com o Garotos Podres e também está em pé de guerra com Sukata e Caverna. O grupo ainda não tem nome ou data para ser lançado. "A gente não está com muita pressa, é um projeto novo, está no começo. Até o fim do ano, eu creio que a gente tenha algo", conta o cantor, que deverá permanecer no mundo do punk. "Será fincado naquilo que a gente gosta. Um nome novo, com novas músicas. Não será esse oportunismo de querer se apropriar indevidamente de algo."
O repertório tradicional dos shows do Garotos Podres no passado, que reúne músicas como "Rock de Subúrbio", "Ainda Vamos Tocar Bossa Nova" e "Garoto Podre", também não está descartado. "Na verdade, as músicas da banda qualquer pessoa pode tocar. Se a pessoa quiser tocar no bar, não tem nada que proíba. E eu ainda posso dizer que sou o autor e compositor da maioria das faixas", explica.
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