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"Se fosse músico, gostaria de ter tocado com Lúcio Alves", diz Ruy Castro

O escritor Ruy Castro, que lança livros com crônicas sobre música, jornalismo e literatura nesta quarta - Daniel Marenco/Folhpress
O escritor Ruy Castro, que lança livros com crônicas sobre música, jornalismo e literatura nesta quarta Imagem: Daniel Marenco/Folhpress

Leonardo Rodrigues

De São Paulo

11/12/2013 06h00

Para Ruy Castro, autor de "Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova" e "Carmen: Uma Biografia", escrever sobre música é a única alternativa para os que não são capazes de produzi-la. Mas, no caso dele, não foi por falta de tentativas.

"Não sou um músico frustrado. Estudei trompete durante um ano quando era garoto e abandonei porque enjoei. Tive também piano em casa e várias oportunidades de aprender com grandes pianistas. Eles juravam que, em poucos meses, eu já sairia tocando e compondo. Eu respondia: 'Tá maluco?'", contou ao UOL o escritor, que nesta quarta-feira (11) lança o box "Letra e Música".

Trata-se de um combo de dois livros: o musical "A Canção Eterna" e um volume sobre literatura e jornalismo, "A Palavra Mágica". Cada um deles traz 64 crônicas publicadas originalmente no jornal "Folha de S.Paulo", onde ele é colunista desde 2007. "Acho que cada livro tem uma unidade. Lidos em sequência, passam uma ideia de amor à cultura e ao conhecimento e do prazer que tanto a palavra escrita quanto a cantada podem passar para uma pessoa".

Dono de texto sagaz e de um humor sempre afiado, Ruy já abordou totens como João Gilberto e Tom Jobim em suas colunas, além de nomes da MPB como Milton Nascimento. Mas seu repertório musical não se restringe ao Brasil, embora ele ocupe a maior parte de suas prateleiras de discos. Também inclui jazz e, em menor escala, música erudita e o rock dos anos 1960 e 1970. Tudo isso escutado de forma ritualística, como nos tempos dos toca-discos e aparelhos de som modulares.

"Ouço música quase o tempo todo, em LP ou CD. Gosto de manusear capas, ler encartes e praticar atos imorais com discos --com os discos como trilha sonora, claro", brinca o biógrafo, que é pouco específico ao definir um gênero favorito. "[Gosto de] Toda música que contenha música. Esporro e pancadaria são para menores de 13 anos".

Tradicionalista por natureza, Ruy herdou do pai, em Caratinga (MG), parte considerável de suas inclinações musicais. Em especial o gosto por cantores de voz forte, "de masculinidade acima de qualquer suspeita". "Se fosse músico, gostaria de ter participado de muitos discos de Lúcio Alves. Na minha opinião, um dos três maiores cantores brasileiros de todos os tempos, juntamente com Orlando Silva e João Gilberto".

Mineiro de nascimento e carioca de coração, o autor, defensor das biografias não-autorizadas, é direto também ao eleger um tema preferido sobre o qual escrever: um solo do Miles Davis, um golaço do Zico ou uma garota de Ipanema? 

"Os gols de Zico, sem dúvida. Depois que me casei com a Heloisa Seixas e vim morar no Leblon, fiquei meio desatualizado quanto às garotas de Ipanema. E, sinceramente, nunca fui grande fã de Miles Davis. Sempre gostei muito mais do Clifford Brown, que morreu aos 26 anos em 1956. Aliás, na época, o Miles também gostava mais do Clifford como trompetista".