MCs do litoral deixam proibidão de lado e dizem ter criado funk ostentação
Depois da prisão de MC Kauan por porte de drogas, os funkeiros do litoral paulista se uniram em apoio ao jovem, de 23 anos, morador de São Vicente. Nas redes sociais, eles são mais de cem, defendem também sua "classe musical" e dizem ter abandonado o funk proibidão por falta de aceitação e por medo de perseguição. Desde 2010, cinco cantores do ritmo foram assassinados nas praias de São Paulo. Para se afastarem de tais problemas, eles optaram por investir na vertente ostentação.
"Tentaram calar a nossa boca"
Aos 20 anos, MC Beiço – apelido de Fabrício Almeida – começou a cantar funk em 2008 nas comunidades do litoral paulista Morrinhos, Vila Júlia e Santa Rosa.
Sem aprovação de sua família, ele cantava proibidão - onde falava de armas, drogas, tráfico e a realidade de uma favela - e viu seus colegas MC Felipe Boladão, DJ Felipe da Praia Grande, MC Duda do Marapé, MC Primo e MC Careca morrerem assassinados. Por isso, decidiu investir no funk ostentação. “Queriam brecar o funk na baixada, tentaram calar a nossa boca. Por isso, fomos para o funk ostentação”, disse ele, que acredita que a mudança pode atingir outros públicos e a mídia em gerla. E acrescentou: “Queríamos sair da baixada, ir para SP e depois para o Brasil. Quem sabe o mundo”.
MC Beiço acaba de firmar parceria com o produtor de vídeos Kondzilla – um dos maiores do funk – e lançou o clipe de “Curtição” com mais de 40 mil visualizações em duas semanas de lançamento.
De acordo com alguns MCs da região, o litoral paulista foi responsável por dissipar o atual funk ostentação, que virou moda na capital. "Esses funkeiros, que você vê na TV hoje, nasceram aqui [Baixada Santista] com a gente e tiveram o nosso apoio", disse ao UOL MC Keke, ao citar MC Lon, MC Gui, MC Bola e Boy dos Charmes, entre outros.
John Kennedy Alves Silva, de 23 anos, é o MC Keke --um funkeiro que viveu toda a sua vida morando na favela e cantando sobre a realidade de sua comunidade em São Vicente. “Há uns cinco anos a favela queria ouvir só o ritmo mais pesado. Ficou a linguagem do proibidão. Falávamos do tráfico e da violência na comunidade”, explicou ele, que, naquela época, chegou a cantar um funk sobre clonagem de cartões de débito e crédito. Na letra, ele diz: "Tá fortemente treinado só para clonar seu cartão. Clonado, porra seu cartão já foi clonado, já sacamos a metade do seu saldo”.
No entanto, segundo o funkeiro, esse cenário mudou. "A ostentação foi o que trouxe visibilidade e dinheiro para nós. Antes, eu pedia bermuda emprestada para as pessoas na rua. Já fui fazer show com a camiseta de um, bermuda de outro e boné de outro", disse ele, que entre seus hits está "Do Lixo ao Luxo" e “Ela É Demais” --com participação da ex-panicat Juju Salimeni.
Clipe de "Ostentação Fora do Normsal 2" de MC Léo da Baixada
“Eu fui para onde a moda me levou”, falou MC Leo da Baixada, de 21 anos. Esse modismo levou também o morador da comunidade Parque São Vicente para os palcos de mais de cinco estados do Brasil cantando funk ostentação e a mais de 45 shows por mês. Amigo de MC Daleste e parceiro de MC Kauan, Leo tem 2,7 milhões de fãs no Facebook e conta que cantava sobre a realidade da favela, mas não teve sucesso.
Veja clipe de funk proibidão de MC Keké
“Temos que ir nos adaptando porque senão ficamos para trás”, revelou ele como o segredo para se dar bem no funk atualmente. O funkeiro conta ainda que a vertente só conseguiu ir para frente por conta da união dos MCs do litoral paulista. “Boy dos Charmes e o produtor de clipes de funk Kondzilla, que é do Guarujá, foram abrindo as portas para nós na mídia e levou os parceiros”, disse ele, que viu seu cachê crescer junto com a aceitação da ostentação.
Com um segurança pessoal, Leo fala que sempre lembrar das mortes de MCs, que "assombraram o litorial", e tem medo de sofrer com a violência e a “inveja alheia”. “Não tenho medo de ser perseguido porque isso só acontece com quem canta proibidão. Mas, tanto bandido quanto a polícia, não dá para confiar”, finalizou ele.
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