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Jairzinho libera biógrafos para escreverem livro sobre Jair Rodrigues

Carlos Minuano

Do UOL, em São Paulo

09/05/2014 07h46

Jair Oliveira e a mãe, Clodine, chegaram cedo ao velório de Jair Rodrigues na Assembleia Legislativa de São Paulo, na zona sul da capital paulista, na manhã desta sexta-feira (9). O cantor conversou com a imprensa e, ao ser questionado sobre uma possível biografia, ele abriu espaço para quem quiser retratar a história do pai.

“Já tem gente escrevendo e ele mesmo não tinha planos de fazer uma autobiografia. Mas quem quiser se aventurar, o meu pai tinha muitas histórias para contar. Com certeza vai encontrar muita coisa”, incentivou ele.

Entre as lembranças que tem ao lado do intérprete de "Deixa Isso pra Lá", Jairzinho contou que, certa vez, o pai confessou que não pensava em outra profissão a não ser cantor.

“Estava com meu pai no aeroporto de Milão, na Itália, por volta das 4h, e ele estava assobiando e cantando. Era um hábito dele acordar assim, pra cima. Minha mãe pediu para ele parar de cantar e ficar quieto um pouquinho. Meu pai ficou calado, em um canto, e eu perguntei ‘se você não fosse cantor, ia ser o que?’. Ele prontamente me respondeu ‘ia tentar ser um’”, relatou.

A viúva está bastante abalada e familiares dizem que Clodine não tem condições de falar. Ela é amparada o tempo todo pelo irmão, Pedro Melo, que também era produtor de Jair. Mãe e filho chegaram por volta das 6h30 ao velório depois que ela passou mal na noite anterior e foi levada para casa.

“Apesar da dor de ter perdido meu pai, me sinto muito grato pela alegria que ele trouxe através da música. Construiu uma carreira muito bonita e minha irmã e eu pretendemos levar com muito amor. Fiquei feliz também de ter concluído dois trabalhos com meu pai”, falou Jairzinho emocionado.

Às 10h familiares se reunirão em uma missa com padre Gino Sorgon, pároco da igreja São Pedro Apóstolo, no hall principal da Assembleia. O enterro será às 11h no cemitério Gethsemani, no Morumbi, zona sul de São Paulo.

A morte

O assessor de imprensa do artista, Giuliano Spadari, afirmou ao UOL que o corpo de Jair foi encontrado por funcionários da família, por volta das 10h, na sauna de sua casa.

De acordo com o produtor e cunhado do cantor, Pedro Melo, Jair Rodrigues fez um check up no hospital Oswaldo Cruz há três meses, e não apresentava problemas de saúde. Ele cumpria normalmente a agenda de shows e sua última apresentação foi na terça (6), em Minas Gerais. Indiretamente, o músico também estava "em cartaz" em São Paulo, interpretado pelo ator Ícaro Silva, em "Elis, A Musical". O elenco prepara uma homenagem a ele na apresentação desta noite.

Melo contou ao UOL que o velório, que será aberto ao público mais tarde, tinha mesmo que dar chance para os fãs se despedirem, pois Jair era "um cara do povo". "Não seria agora que afastaríamos o público dele. Jair nunca se negou a dar um autógrafo ou abraço nos fãs. Ele adorava o que fazia e, se pudesse, faria shows todos os dias".

A notícia da morte do cantor repercutiu imediatamente nas redes sociais entre os colegas do samba, do rap e até da música sertaneja, à qual Rodrigues também se associou ao cantar "Disparada", na TV nos anos 60. "Foram muitos anos que a gente se relacionou em eventos. Ele irradiava alegria", comentou Chitãozinho à TV Globo nesta manhã.

Trajetória

Natural de Igarapava, interior de São Paulo, Jair Rodrigues iniciou a carreira musical nos anos 1950. Na década seguinte, alcançou o sucesso em programas de calouros na TV. Em 1964 gravou seu disco de estreia, "Vou de Samba com Você", que já apresentava um de seus maiores sucessos, "Deixa Isso pra Lá", considerado precursor do rap. 

Ao lado de Elis Regina, o cantor ficou conhecido no país inteiro. Seus duetos com a "Pimentinha" renderam três discos: "Dois na Bossa" volumes 1, 2 e 3, gravados ao vivo. 

O último trabalho do cantor, o disco duplo "Samba Mesmo", é uma homenagem ao samba e à seresta e foi lançado em fevereiro.