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Sem prazo de validade: Paul McCartney emociona com recital pop em SP

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

15/10/2017 23h47

Quando o UOL questionou, em reportagem publicada na semana passada, o motivo da demanda incessante por shows de Paul McCartney no Brasil, a resposta veio direta no campo dos comentários. Paul é um beatle, para milhões o maior compositor vivo do pop, e pouco importa se ele aparece por aqui praticamente todo ano com a mesma apresentação.

O 22° show do artista no Brasil, realizado na noite deste domingo (15) no Allianz Parque, em São Paulo, consolidou essa percepção e trouxe outras certezas: ele pode voltar mais 20 vezes que, para os fãs, ainda será pouco. Mais uma: qualquer repetição de repertório e formato será perdoada, —trata-se, afinal, do inventor do que convencionamos chamar de "rock moderno". Garantia de casa cheia. Recorde de pedidos de credenciamento de jornalistas. E ainda houve um show.

Em relação ao que mostrou na última sexta em Porto Alegre, na abertura da turnê brasileira, Paul promoveu apenas uma grande de mudança no roteiro: "Got to Get You Into My Life" cedeu lugar a "Drive My Car". Um clássico por outro. Afinal, o que mais seriam? "Oi, Sampa, tudo bem?", introduziu-se Paul, agora mais grisalho, como se houvesse alguma necessidade. "Vou tentar falar um pouco de português está noite", completou, como já é tradição, após "Can't By Me Love".

A chuva ameaçada pela previsão não veio na noite fria de domingo, marcada por três horas de show, histeria discreta por parte do público e por um fenômeno interessante. Diferentemente da de outros eventos internacionais, a plateia de Paul McCartney é um pouco mais velha e aparentemente mais interessada na música. Via-se bem menos celulares erguidos registrando o show do que em apresentações recentes no mesmo estádio. Sorte dele e de quem esteve lá.

Com setenta e cinco anos e em ótima forma --a dieta vegana leva crédito aqui--, Paul McCartney é performer exemplar. O que os anos lhe tiraram de potência vocal a estrada devolveu em sabedoria e carisma. Se o volume do som não é mais o mesmo e os agudos de "Maybe I'm Amazed" e "Helter Skelter" ficaram no passado, bastou uma rebolada de nádegas em "I Love Her" para o Allianz surtar. 

Maestro de um recital pop que teve silêncios e estratégicas quebradas de gelo, Paul soube puxar o show para cima bem no momento em que ele parecia arrefecer, com uma balada dos primórdios, "In Spite of All the Danger", prévia de "Love me Do", primeira faixa gravada pelos Beatles nos estúdios Abbey Road. "Da hora!", agradeceu em paulistês, antes de puxar palmas na recente "FourFiveSeconds", gravada com Rihanna e Kanye West. E assim as gerações de ouvites se renovam.

Melhores momentos da noite: "Let It Be", "Hey Jude", "Live and Let Die", "Something", "Ob-La-Di, Ob-La-Da", "Yesterday", "The End", as homenagens aos ex-companheiros, à atual mulher, a Linda McCartney... Se você já presenciou alguma apresentação de Paul McCartney, esse filme é mais que familiar. Tão previsível quanto aquele blockbuster, filmaço, que te deixa vidrado até o fim, mesmo sabendo de cor o desfecho e todas as viradas de roteiro. Vale a pena?

"Ôh, se vale. Acho que esse show é sempre bom porque ele sempre repete as mesmas músicas. É por isso que funciona. O cara inventou a fórmula mágica do pop", disse o jovem Carlos Nagahara, 30 anos, que divide a percepção com um fã famoso. "Olha, não tem essa de que é o mesmo show. Estou aqui vivendo um momento emocionante com meu filho, apresentando Beatles e o Paul para ele. Cara, estou quase chorando. É emocionante", afirmou o ator Bruno Mazzeo, que trouxe o pequeno João, de 12 anos. Eles prometem voltar em uma próxima oportunidade. Paul também. Impossível duvidar.