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Suor, lágrimas e até sangue: Hangar tem adeus emocionado com CPM 22

Show do CPM 22 na despedida do Hangar 110, em São Paulo - Marcelo Justo/UOL
Show do CPM 22 na despedida do Hangar 110, em São Paulo Imagem: Marcelo Justo/UOL

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

24/12/2017 08h21

O ditado é antigo, e nem sempre funciona. Mas, na casa de shows Hangar 110, os últimos realmente foram os primeiros. Neste sábado, o QG do punk e do hardcore em São Paulo, que foi muito mais que um palco para bandas, se despediu, com dois shows do CPM 22, a primeira banda a subir no palco da casa, em 1998.

Os donos, o casal Márcio "Alemão" Baldin e Cilmara Baldin, anunciaram o fechamento da casa de shows há um ano e - a menos que ganhem na loteria e mudem de ideia -  cumpriram a promessa em uma noite que teve um pouco de tudo que rolou nesses 19 anos: suor, lágrimas e até um pouco de sangue - de uma moça que se deu mal no stage diving.

Teve gente que apelidou de "Sauna 110" o local, tomado por 640 pessoas em cada apresentação, tamanho o calor. O show de encerramento com o CPM 22 atraiu tanta gente que os ingressos se esgotaram em 10 minutos e motivaram que fosse marcado o show extra, horas antes.

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O vocalista Badauí se apresentou como único representante do CPM 22 que subiu ao palco em setembro de 1998, já que a banda trocou integrantes pouco depois daquela estreia. "O Hangar era o que faltava para consolidar uma cena. Eu lembro direitinho dele me ligando e convidando para tocar aqui. É emocionante. Independentemente do tamanho que o CPM virou, o Hangar é o cordão umbilical e o que linka o show de 1998 com esse show de hoje é que essa identificação da banda e do público se manteve", disse ele.

O adeus ao Hangar trouxe um público variado, com veteranos de casa e até estreantes. Os primeiros da fila para a sessão final voltaram pelo amor à banda e pela nostalgia. "Eu venho aqui desde 2010, e sempre foi um lugar importante para mim. Uma vez subi no palco e peguei o microfone pra cantar junto com a banda. E sempre foi um lugar em que me senti bem e fui aceito por quem sou", disse Douglas Santos da Silva, de 26 anos. Paloma del Corso, 25, tem uma lembrança mais radical: "Aqui foi o primeiro lugar em que eu tomei coragem e pulei do palco. Onde mais eu poderia fazer isso?".

Sozinho na fila, um argentino tinha uma experiência diferente. "Eu estou no Brasil há três meses, gosto da banda e vim ver. Sei que é um show especial, mas é só minha primeira vez aqui", disse o estreante Mariano.

Já Edgar Avian voltou à casa depois de começar como fã - num show do Mukeka di Rato -, e virar empregado da casa e músico. "Eu vim pela primeira vez com 16 anos. Um tempo depois, eu vim pedir emprego, falei que podia fazer qualquer coisa. Aí me falaram que eu podia ficar empurrando as pessoas que subiam no palco. Eu não podia deixar as pessoas estragarem os equipamentos. Fiquei três ou quatro anos aqui", disse ele, que tocou com Gritando HC, Inocentes e hoje está na banda de Supla. "O Hangar criou toda uma cena."

Os shows: sangue, suor e lágrimas

As apresentações do CPM 22 mostraram que o punk/hardcore melódico da banda ainda tem fôlego, mesmo com um público mais novo. Por 1h30 em cada show, Badauí, Japinha e companhia fizeram um show cheio de energia e em que muitos momentos foram superados pelo público, cantando a plenos pulmões.

Nos bastidores, o clima foi de festa, muito mais do que de tristeza pela despedida. Alemão brincou: "Aqui é punk, cara. Punk não chora". Ele foi ao palco para apresentar a banda, mas falou pouco. "A gente está hiperfeliz de fazer esse encerramento de uma época. Estamos felizes porque vocês viveram essa época. Aproveitem como se fosse o último". E era.

Show da banda CPM 22 no adeus do Hangar 110, em São Paulo - Marcelo Justo/UOL - Marcelo Justo/UOL
Show da banda CPM 22 no adeus do Hangar 110, em São Paulo
Imagem: Marcelo Justo/UOL
No palco, o CPM desfilou hits e músicas novas, do disco "Suor e Sacrifício". Foram os clássicos que geraram os coros mais altos da galera - e faltaram muitos. "O Mundo Dá Voltas", "Regina Let's Go", "Tarde de Outubro" e mais hits das antigas se misturaram a novos sons, também bem recebidos, como "Ser Mais Simples" e "Honrar Teu Nome".

O público, por sinal, deu trabalho e levou até bronca. Na hora dos fãs subirem ao palco, alguns se exaltavam e ficavam mais do que a "cartilha" permite. "Subiu, pulou. Aqui não é uma passarela", disse Badauí, na primeira sessão.

Também no primeiro show, uma menina acabou machucando a testa e precisou de cuidados médicos depois de um salto do palco dar errado.

Na parte de homenagens, além dos donos da casa, o CPM 22 lembrou de Cherry Sickbeat, ex-vocalista do Okotô e Hellsakura e ex-guitarrista do Nervochaos, que morreu recentemente. Também homenagearam o Gritando HC, banda com quem abriram a casa, em 1998, lembrando Marcelo Donald, que morreu em 2001, e tocando "Quero Ser Punk Com Você". Lê, vocalista da banda, dividiu os microfones e foi às lágrimas no segundo show da noite.

A segunda sessão teve como diferença o maior número de participações especiais. O palco virou uma festa. Além de Lê, outro destaque foi Henrike Baliú, do Blind Pigs, que cantou uma música do CPM e uma de sua banda.

Sobre o fim do Hangar, Badauí também deixou um recado sério: "Se uma casa como essa está fechando, é por que o público não está indo. Então, que sirva de lição. Apoiem espaços e bandas", pediu o vocalista durante o show.

Já era próximo da meia-noite quando veio o desfecho. Curiosamente, a última música de um show do Hangar foi não com a banda, mas o público cantando à capela. Alemão entrou no palco para um discurso e citou que a letra perfeita para aquela noite era: "Peguei minhas coisas, fui embora...". E a galera emendou o coro, até o refrão de "Tarde de Outubro", do CPM.

Ainda houve tempo para todo mundo se jogar do palco, inclusive Alemão e Cilmara, visivelmente emocionados. "Apesar do cansaço, foi muito bom! 18 shows em 23 dias. Foi muito mais que a gente esperava", comemorou emocionado o dono, após o encerramento.

Para quem não esteve presente, o Hangar já prepara um documentário sobre seu fim. Os principais shows de despedida da casa foram filmados e vão mostrar o fim de uma era para a cena do punk e do hardcore de São Paulo.