Museu quer acabar com mito de que rival italiano teria envenenado Mozart
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AP Photo/Stiftung Mozarteum
Retrato de Wolfgang Amadeus Mozart.do século 18
É um dos grandes mistérios da música: teria o compositor Antonio Salieri envenenado seu outrora protegido Wolfgang Amadeus Mozart com arsênico?
O famoso filme "Amadeus", de Milos Forman, de 1984, baseado na peça de Peter Shaffer, deixa poucas dúvidas de que sim. Mas agora o museu de Viena dedicado ao legado de Mozart lançou uma campanha para polir a reputação de Salieri como apoiador do jovem gênio austríaco --e não a de um vilão ciumento.
Uma nova exibição no Mozarthaus, onde Mozart viveu e trabalhou no final do século 18, mostra Salieri como um homem bem humorado, talentoso e generoso que louvava e honrava pupilos como Ludwig von Beethoven e Franz Schubert.
O problema, dizem os curadores, é que pessoas demais pensam em Salieri como a mente maligna da peça de 1979 que o diretor tcheco filmou em Praga e nos arredores, partes da qual se parecem muito com o que eram ao tempo de Mozart.
"Queremos simplesmente esclarecer as pessoas e mostrar o autêntico Salieri, afastando-nos de uma imagem muito fortemente ficcionalizada", disse o diretor do museu, Gerhard Vitek, nesta quinta-feira.
O talento de Salieri, que nasceu no norte da Itália em 1750 e se mudou para Viena aos 15 anos, fez dele um favorito da corte imperial. Ele escreveu óperas e outras peças para o palco, composições patrióticas e música sacra quando não estava lecionando.
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Retarato do compositor Antonio Salieiri, morto em 1825
A correspondência da família mostra que foi Leopold, pai de Mozart, quem viu Salieri como uma ameaça ao progresso da carreira do jovem Mozart, disse o musicólogo e curador Otto Biba.
"Com uma única exceção, Mozart só escreveu coisas positivas sobre Salieri. Ele ficou irritado uma vez, mas foi risível. Leopold resmungava constantemente sobre Salieri, e muitos outros. Era alguém capaz de se colocar no caminho de seu filho, e ele tinha que fazê-lo parecer mau", afirmou Biba durante uma visita da exposição para a mídia.
A geração posterior à morte de Mozart, em 1791, projetou retrospectivamente uma cisão crescente entre as escolas "italiana" e "alemã" de música nos laços entre os dois homens, acrescentou Biba.
A evidência de que os músicos eram próximos veio quando a esposa de Mozart, Constanze, enviou o filho nascido no ano da morte do Mozart a Salieri para treiná-lo como jovem talento, disse Ingrid Fuchs, também curadora da exposição.
"Acho que isso refuta toda a especulação. Nenhuma mãe envia o filho para ser educado pelo suposto envenenador de seu marido. Este é um testemunho muito poderoso".