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Repórter do UOL encara roda de pogo no Rock in Rio e sobrevive: "Foi épico"

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

25/09/2015 09h00

A missão parecia insana. Arriscada. Os preparativos eram para guerra. Mas foi só mais um show de metal. Poucos minutos antes de o Lamb of God subir ao Palco Sunset do Rock in Rio 2015, nesta quinta-feira (24), os fãs da banda norte-americana começaram o boca-a-boca, agitando a galera para organizar o maior "wall of death" da história (um paredão da morte, em tradução livre). Para os não iniciados no jargão headbanger, trata-se de dois paredões enfurecidos de pessoas que correm ao encontro umas das outras, em uma espécie de batalha campal. E eu estava lá, em meio àquele suor e calor infernal. E o resultado foi épico.

Adjetivos como bárbaro e selvagem poderiam descrever com perfeição esse típico fenômeno do metal, mas o que mais se viu por lá foi solidariedade. Metaleiro se veste de preto, faz o símbolo do chifrinho com as mãos e solta seus gritos primitivos como se não houvesse amanhã. E, na hora que a roda começa, tudo parece se encaixar, inclusive quando alguém cai no chão. Neste momento, alguns cercam o coitado, enquanto outros o ajudam a se levantar. E tudo volta ao normal, na maior paz e tranquilidade.

"A galera é tranquila e, se perder alguma coisa [no meio do mosh], abrimos a roda para tentar achar. Se alguém cair, ajudamos a levantar", reforça Giovani Araújo, 42, que levou a filha de 23 anos ao festival e pogava durante o show do System of a Down. "Eu entro por causa da adrenalina. É uma parada de gladiador, porque você tem que se manter em pé. É meio insano."

Samuel Trotta - Felipe Branco Cruz/UOL - Felipe Branco Cruz/UOL
Samuel Trotta e Carlos Eduardo: amigos juntos nas rodas de pogo
Imagem: Felipe Branco Cruz/UOL

Samuel Trotta, 28, que foi ao festival com o amigo Carlos Eduardo, 25, garante que é tudo com carinho. "A galera não vai na maldade. A sensação no mosh, junto com o som, é como se fosse uma dança primitiva, e não porradaria. Depois a gente se abraça e pede desculpa. É muita emoção correndo nas veias", disse, acrescentando dicas importantes: "Tem que guardar o celular, colocar os óculos em bolso fechado, e nunca no bolso de trás".

O advogado Gustavo Nahsan, 34, de Cuiabá, contou que pede à mulher ajuda para guardar as suas coisas. "Boto tudo numa mochila e deixo com ela. Eu gosto da dança. Eu passei o dia inteiro na roda. Fui no Deftones, no Queens of the Stone Age e no System of a Down".

RG, R$ 20 e uma câmera

Gustavo Nahsan - Felipe Branco Cruz/UOL - Felipe Branco Cruz/UOL
Gustavo Nahsan: adepto às rodas de pogo
Imagem: Felipe Branco Cruz/UOL

Com a missão de registrar esse fenômeno, eu também pedi para um colega guardar o meu celular e outros objetos de valor. Peguei apenas a carteira de identidade, R$ 20 e uma câmera. E fui para a galera.

Quem assiste ao show pela televisão pode achar que aquilo ali é a mais pura selvageria, mas há um certo código de ética. Nada de socos, apenas cotoveladas e alguns chutes. E se você decidir entrar no meio deles, é melhor proteger o rosto, o pescoço e, claro, as partes de baixo.

Na roda em que entrei, quando um soco escapava ou acabava machucando alguém, não havia dramas. O "agressor" vinha em sua direção e, na maior humildade, pedia desculpas pela "dança" mais exacerbada. No mais, depois que a música acabava, após liberar toda a testosterona acumulada, rolava uma certa comoção, com os metaleiros se abraçando e dizendo que aquilo tudo "foi muito foda".

E o tal "wall of death"? Tentativas para organizar não faltaram. A cada música, o mais corajoso ia para o meio da roda e gritava: "Abre a rooooodaaa. Wall of deaaathhh!". Rolava aquela comoção, parecia que a batalha campal iria finalmente acontecer. Mas, no show de hoje, o povo queria mesmo era apenas curtir o mosh pit (como também é conhecida a roda de pogo).

Após Randy Blythe, vocalista do Lamb of God, dar o seu último grito gutural e se despedir com um sonoro "fuck you", o público, meio que dopado, se dispersou, já programando a próxima roda, que rolou no show do CPM 22.

No fim, embora seja uma dança violenta, poucos se machucam gravemente. Segundo informações oficiais da organização do festival, nesta quinta-feira os postos médicos atenderam, principalmente, pessoas com problemas relativos ao calor, como pressão baixa, cefaleia e desidratação. Nada relacionado a rodas de pogo. Mas, afinal, quem é que encara o pogo e depois vai procurar médico? Afinal de contas, aquele roxo no braço também faz parte da festa e da lembrança daquele show.