Onde estou?
Capital mundial da música. É esse o título que Austin, a capital texana, carrega nos próximos cinco dias do festival South By Southwest. Entre esta quarta-feira (17) e o próximo domingo (21), mais de 1.800 bandas devem fazer barulho na cidade universitária dos Estados Unidos. Ao público é oferecida uma variedade de opções. Às bandas resta a concorrência pela plateia. O evento é uma verdadeira prova de resistência dos dois lados do palco.
A movimentação na cidade durante o festival é intensa. Aos 758 mil moradores de Austin juntam-se mais cerca de 130 mil pessoas que circulam nos dez dias de evento --o SXSW começou no dia 12 para a área de cinema e tecnologia. Na música, o festival cresce cada vez mais aos olhares de grandes empresas do mercado fonográfico, atrás da nova Amy Winehouse, que foi descoberta na edição de 2007, e artistas como Franz Ferdinand, Arctic Monkeys e Vampire Weekend, também lançados por lá em anos anteriores.
"Não há nada melhor para quem trabalha com música e novidades. Você vê no festival o que é realmente novo, artistas do mundo inteiro e em palcos menores, onde a banda pode dar tudo de si", conta Fabrício Nobre, sócio do selo goiano Monstro Discos, presidente da Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes) e vocalista do MQN.
Experiente no SXSW, Nobre já passou cinco vezes pelo festival, como artista, público e empresário. "O evento é uma feira, mas em vez de estandes vendendo discos, tem casas vendendo shows. No final, a sensação é de que você não viu nada, mas na verdade assistiu a 80 shows".
Sérgio Ugeda, sócio da Tronco Produções, da BM&A (Brasil Música e Artes) e vocalista da banda Debate, fala que o SXSW é uma oportunidade de conhecer o mercado norte-americano. "Todo mundo que interessa para a indústria da música vai estar em Austin neste período. É uma confraternização das pessoas que vivem fazendo negócios neste meio. Os shows acabam sendo secundários", ele diz. Isso porque as bandas tocam no molde de showcase, que são apresentações que duram entre 25 e 30 minutos.
Tocar para ninguém
É bom lembrar que, mesmo com a grande quantidade de visitantes, nem todo show atrai curiosos. "Já teve uma noite brasileira que deu quatro pessoas. Não tem público para todo mundo", alerta Fabrício. A concorrência é grande e há bandas que são escaladas para tocar na mesma hora em que o Metallica ou o R.E.M, por exemplo, estão subindo ao palco em outro local.
"São cerca de 90 shows por hora. Em cada buraco ou cada portinha tem alguém tocando", completa Sérgio. Segundo ele, a média otimista para uma banda novata é ser vista por 50 pessoas. "E é um número para quem já conseguiu se promover, porque em geral as apresentações recebem umas 15 pessoas".
Apesar da escalação privilegiar os brasileiros, Sérgio adianta que há pouco interesse pelos nossos conterrâneos novatos. "Geralmente são artistas sem qualquer representação para eles, enquanto há outras bandas já hypadas tocando ao mesmo tempo. Em 2008, a noite dos brasileiros foi uma catástrofe. No ano passado já tinha 20 pessoas na plateia".
Por isso, a dica dos dois profissionais para quem quer aparecer no SXSW é a mesma: planejamento. "Tenha um visto norte-americano em mãos, porque não sai de última hora. E faça contatos com antecedência. Se não tiver nenhuma pessoa para te promover e falar que sua banda é interessante, você vai queimar dinheiro", fala Fabrício. Ele diz que o melhor caminho é usar a internet para divulgar o trabalho. "Procure sua galera, um selo que tenha a ver com sua música e mostre o que você faz".
Sérgio conta que os artistas nacionais têm uma percepção equivocada de que tocar no SXSW ajuda a se promover no Brasil. "Isso é besteira, porque a banda gasta dinheiro, toca para ninguém e volta, mas assim de nada valeu". Para ele, o festival é uma porta de entrada nos Estados Unidos. "Se você vai entrar, compreenda o que significa trabalhar naquele mercado. Vá para fazer contatos".
Como ser atração no SXSW
A grande maioria das bandas são iniciantes ou de relevância bem localizada. O processo para quem pretende tocar no SXSW é simples: o interessado deve preencher o cadastro no site do evento, durante o período estabelecido pela organização, e pagar a taxa de inscrição que custa US$ 35. Feito isso, é só esperar a curadoria analisar o material do artista e, caso seja aprovado, entrar em contato.
O selecionado recebe uma ajuda de custo de US$ 200, mas todas as demais despesas devem ser arcadas individualmente, o que inclui desde passagens aéreas e o visto norte-americano até montagem de palco. "Eles não oferecem nem uma água. Você tem que levar tudo e se virar para promover seu show. Eles só te dão o espaço", conta Fabrício.
Nomes grandes por aqui, como Otto, Mundo Livre S/A e Pato Fu, já se inscreveram e até foram convidadas pelo festival, mas não chegaram a ir ao evento. "São bandas que têm estrutura aqui no Brasil, mas nos Estados Unidos eles não têm nada. Não há cachê, você monta seu palco e carrega seus instrumentos. Por isso, se eles já têm uma boa agenda por aqui, preferem mantê-la", diz Sérgio. Para Fabrício, o festival é uma competição, mas também é uma festa. "É muito divertido estar lá e tocar para aquele público, mas tudo tem seu preço".