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Fãs de Elvis demonstram idolatria quase religiosa na "Elvis Experience"

Priscilla Presley na noite de inauguração da "Elvis Experience" (4/9/12) - Manuela Scarpa/Foto Rio News
Priscilla Presley na noite de inauguração da "Elvis Experience" (4/9/12) Imagem: Manuela Scarpa/Foto Rio News

Daniel Solyszko

Do UOL, em São Paulo

06/09/2012 18h18

Aberta ao público nesta quarta-feira (5) a exposição "The Elvis Experience" contava no período da tarde com um público relativamente pequeno. Apesar das poucas pessoas presentes, os fãs presentes eram fervorosos, e todos demonstravam uma ligação bastante particular com o cantor, ressaltando que sua idolatria vai além da música.

Lieda Mantoan Garcia, 67 anos, veio do interior do Paraná com a filha e um neto de apenas 10 meses de idade. Espírita, acredita que a presença do ídolo pode ser sentida no lugar. “Quando soube da morte dele, não acreditava. Eu achava que ainda não era a hora dele partir. Era o dia dele desencarnar, mas foi muito recente, ele tinha que viver mais”, diz.

Fernando Donasci/UOL
Sou acompanhante de idosos, ia com meu patrão para os EUA em janeiro. Só que infelizmente ele teve um derrame e morreu. Cerca de 15 dias depois tive um sonho onde ele me disse: ‘Ana, não se preocupe, seu desejo virá até você’

Ana Gilvanete, 44

Essa ligação “espiritual” de Elvis com seus fãs parecia bastante presente no local. A sergipana Ana Gilvanete, 44, conta uma história curiosa: “Sou acompanhante de idosos, ia com meu patrão para os EUA em janeiro. Só que infelizmente ele teve um derrame e morreu. Cerca de 15 dias depois tive um sonho onde ele me disse: ‘Ana, não se preocupe, seu desejo virá até você’”, conta ela, que teve que cancelar a viagem e não pode visitar Memphis.

O cantor Rudy Gragnani, 41, mora em Jundiaí, no interior paulista, e apesar de não ser um artista cover sempre inclui músicas do ídolo no repertório. “Quando ele morreu eu tinha 6 anos. Minha irmã chorava muito vendo a notícia, fui ver e me apaixonei. Uma criança, quando vê algo assim, fica querendo repor aquilo para o mundo”, diz. Graganani conta que faz sua contribuição lotando shows toda semana na cidade natal.

Mas nem sempre as famílias dos fãs são unanimes em relação ao cantor. Daniela Gabrielli, 27, conta que é a única na família que gosta de Elvis. Mais complicado é o caso de Roseli Amâncio Trevisan, 48,cujo marido se incomoda e sente ciúmes do fanatismo dela pelo cantor, ao ponto de não querer acompanhá-la na exposição. “Quando acordo, beijo uma caixa ao lado da cama com um retrato do Elvis. Meu marido não gosta, diz que só ganha bom dia depois”, conta.

Priscilla Presley

O período da noite se mostrou mais agitado, com uma tour guiada que contava com a presença de Priscilla Presley em pessoa. Bem-humorada, mostrou entre outras coisas uma garrafa de champagne que teria ganho de presente de um dono de hotel, autografada por ela e o então marido. A plateia veio ao delírio quando Priscilla comentou que ainda guarda a cinta-liga que usou nessa noite. Ao ouvir o público fazendo um coro de “hummm”, fez uma pose sexy e provocou gargalhadas gerais.   

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Quando ele morreu eu tinha 6 anos. Minha irmã chorava muito vendo a notícia, fui ver e me apaixonei. Uma criança, quando vê algo assim, fica querendo repor aquilo para o mundo

Rudy Gragnani, 41

Priscilla comentou ainda que o segundo andar de Graceland jamais será liberado para visitação, pois este era “lugar sagrado de Elvis”, um recanto particular onde ele gostava de ficar sozinho por períodos de até duas semanas. Disse ainda que seus netos ainda são muito novos para administrar os bens de Elvis, e ter que lidar com taxas e impostos.

Entre os diversos fãs caracterizados que estavam presentes, Gilberto Augusto conta que já visitou Graceland sete vezes. “Faço cover do Elvis pelo Brasil todo há 20 anos”, conta. Outro fã caracterizado como o cantor era Helder Moreira, que também percorre o país interpretando o repertório do ídolo. Moreira se diz fascinado com o aspecto irreal de Elvis: “O conheci quatro anos após sua morte. Me parecia uma ficção, uma coisa criada, era apenas um personagem. Acho que ele tem um sentido terapêutico para mim, me traz tranquilidade”, conta ele.

Priscilla Cristina Rodrigues Getti, cujo nome foi escolhido pelos pais em homenagem à ex-mulher do cantor, mal conseguia segurar o choro após tirar um retrato com ela. Sua colega Vanessa Aparecida Barbosa Passos, diz que conheceu o atual marido em uma visita à Memphis em 2007. “Resolvemos voltar este ano, e meu noivo me pediu em casamento em Tupelo, na casa onde o Elvis nasceu, que foi onde a gente se conheceu. Pude mostrar para a Priscilla o meu anel. Ela é muito doce, parece uma boneca”, diz.

A adolescente Mirella Gandleman, 15, foi acompanhada da mãe, que já a havia acompanhado em uma viagem à Graceland este ano. Mesmo após deixar o local, esperava ansiosa para ver Priscilla entrando no carro que a levaria para o hotel: “Tenho que ver ela de novo, ela tem que me dar tchau. Olhar para mim e pensar: ‘nossa, se o Elvis estivesse vivo estaria casado com a Mirella’”, brinca.

A exposição

Considerada a maior exposição de objetos pessoais de Elvis já realizada fora de Graceland, a reação positiva do público à “Elvis Experience” é quase unânime. A maior dificuldade teria sido em trazer os inúmeros carros da mansão, já que o artista tinha uma coleção enorme, que inclui diversos Cadillacs. Entre os exemplares presentes estão um MG vermelho usado no filme “Feitiço Havaiano”, além de alguns carros de golfe e uma motocicleta Harley-Davidson.

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Quando acordo, beijo uma caixa ao lado da cama com um retrato do Elvis. Meu marido não gosta, diz que só ganha bom dia depois

Roseli Amâncio Trevisan, 48

Rudy Gragnani já foi à Memphis visitar o lar do cantor, mas mesmo assim considera o acervo da exposição de alto nível: “O que foi anunciado não transmite realmente o que tem aqui dentro. É lógico, tem o avião dele que não daria para trazer, outros carros... mas as roupas estão impecáveis, há algumas que nem em Graceland eu vi”, conta. A seção apelidada de “closet” é de fato um dos destaques, e lá é possível ver vários trajes pessoais do cantor, alguns deles nunca expostos antes, mesmo em Graceland.

Na parte dedicada à morte do cantor, o destaque entra as várias manchetes de jornal é um artigo mal humorado de Paulo Francis onde ele diz considerar o cantor um péssimo músico, mas reconhece sua importância cultural para a América conservadora de Einsenhower dos anos 50.

É possível ver ainda uma televisão que Elvis alvejou com um revólver, ainda com o buraco do tiro. O cantor teria se irritado ao ver um crítico falando mal de sua música. Algumas coisas chamam atenção como itens de época, como o telefone móvel (que teria sido o primeiro dos EUA), do cantor, que ficava dentro de uma pasta de executivo e funcionava com sinal de rádio.

Entre os objetos pessoais mais impressionantes estão a vitrola particular de Elvis, com o último disco ouvido pelo cantor antes de morrer, além do seu telefone de cabeceira, totalmente dourado. Curioso também é ver a toalha de mesa onde seu empresário, o coronel Tom Parker, assinou de forma improvisada um acordo para uma temporada de cinco anos de apresentações em Las Vegas em 1969.