Festival da ostentação, Tomorrowland se garante com "magia" e DJs de rádio
A música eletrônica hoje é um dos carros-chefes de qualquer festival de música que se preze. Com perfil mais indie, o Lollaplooza Brasil deste ano viu os DJs Calvin Harris e Skrillex arrebatarem os maiores públicos. O Rock in Rio, mais eclético, promete, para sua nova edição em setembro, 40 DJs na programação e um robô gigante no palco. Nada mais natural que o maior festival de música eletrônica do mundo encontrasse no Brasil o lugar perfeito para botar seus ovos de ouro.
O Tomorrowland desembarcou neste fim de semana na Fazenda Maeda, em Itu, a 101 km da capital paulista, com toda a pompa e fama vindas da Bélgica, seu país de origem. Em um momento em que os grandes festivais passam a ser vistos como parque de diversão, um festival que promete música eletrônica e uma "experiência" acaba sendo uma garantia: você vai dançar mesmo que você não entenda nada sobre o estilo.
O evento entregou para 180 mil pessoas uma versão ligeiramente menor do original, mas com toda a bagagem que fidelizou verdadeiros "seguidores" pelo mundo --palcos megalomaníacos com elementos circenses, efeitos de luzes e intervenções teatrais, de "gnomos" saltitantes e labaredas de fogo a mensagens em tom épico, como "Live Today, Love Tomorrow, Unite Forever" [em português: vivam hoje, amem amanhã, unam-se para sempre]. Tudo para intensificar a experiência de cada drop [momento da música em um crescente de batidas, seguido de uma mudança brusca de ritmo]. Com essa receita, o Tomorrowland provou que veio para ficar, mesmo sendo o festival mais caro do país.
Segundo o público ouvido pelo UOL, o gasto médio por dia foi de R$ 2.000 reais, incluindo deslocamentos, ingresso (que chegava a custar R$ 799 por dia no espaço VIP), alimentação (R$ 16,50, uma porção de batata frita) e estacionamento (R$ 200 por dia, com voucher comprado antecipadamente). Para os fãs de destilados, uma dose de vodca Absolut custava R$ 27,50. Nada de roda-gigante (como no Lollapalooza) ou tirolesa (no Rock in Rio) --a ostentação provou ser mais divertida. No lugar de atrações paralelas, áreas exclusiva como um espaço gourmet (R$ 120 por pessoa, por uma refeição, acompanhada de espumante) e uma piscina (com entrada limitada para clientes de uma bandeira de cartão de crédito).
"Magia"
O grande leque de atrações e estilos (entre eles, o experimento orgânico dos brasileiros do Aldo e o minimal house de Jamie Jones) acabou não importando tanto assim. A maioria dos entrevistados pelo UOL elegeram os DJ's mais famosos de música dance e pop --isto é, as músicas mais radiofônicas--, como os seus favoritos.
Steve Aoki, David Guetta e Armin Van Buuren só não conseguiram ficar à frente de uma atração, citada por nove entre dez entrevistados: a "vibe", a magia do evento. Fernando José, 23, de Bauru (SP), disse que conhecia apenas dois dos 150 DJs da programação. Isso não o impediu de se impressionar com o festival. "A magia do lugar é incrível, a melhor coisa que eu fiz na minha vida foi estar aqui", justificou.
Enquanto raves, como xxxperience e Tribe, reúnem cerca de 30 mil pessoas em apenas uma noite, o festival propõe uma interação maior. São 60 mil pagantes por dia. Por ser uma marca já conhecida, atrai até mesmo estrangeiros de todo canto --de Chile a Israel. O clima de Copa do Mundo é, de fato, contagiante. Bandeiras estão por todos os lugares, principalmente no palco principal, com seu enorme espaço em formato de arena.
A paixão pelo festival move montanhas até para os menos abonados. Com um grupo de amigos, Samuel Menezes, 22, erguia um cartaz escrito "We Are Lucky Ones" [Nós somos sortudos]. A mensagem revelava um sacrifício da turma. Com faixa salarial entre R$ 1.500 e R$ 2.000, eles contam que precisaram manter uma poupança durante nove meses para poder curtir o tão sonhado fim de semana. O esforço foi comemorado. Fã de Hardwell, Samuel diz: "É obrigação estar aqui".
No camping oficial do evento, o Dreamvile, R$ 1.600 era o preço da barraca com dois colchões de ar, quatro sacos de dormir e quatro almofadas. E só. O banho de quatro minutos custava R$ 15, e uma recarregada básica no celular, R$ 16,65. Cristiano Magalhães, de Belo Horizonte, escolheu o acampamento para passar o fim de semana. R$ 3 mil a menos no bolso, mas nenhum arrependimento. "Estou chocado com tudo que vi aqui. Já fui na Tribe e xxxperience e as duas não chegam aos pés do Tomorrowland. Aqui a estrutura é ótima, os palcos são bem feitos. Nunca vi nada igual. Esse lugar é o paraíso". Apaixonado por música eletrônica, ele garante: "Fiquei sabendo que o festival vai ter mais cinco edições e virei em todas".
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