Cafona e certeiro, Rod Stewart encerra 1º fim de semana do Rock in Rio
Responsável pelo encerramento do primeiro fim de semana do Rock in Rio 2015, o astro Rod Stewart fez um espetáculo curto --cerca de 1h20, menos do que a atração anterior Elton John--, cafona e extremamente bem-sucedido, como só ele consegue fazer. Apenas ele e, talvez, Roberto Carlos. Encarnando o crooner de baile de formatura, o escocês revisitou sucessos da carreira, trocou de roupa várias vezes, tomou vinho e ainda fez jus à fama galanteadora.
Stewart é adornado por uma banda com sete multitalentosas mulheres, que fazem backing vocals, tocam vários instrumentos e rebolam para entreter a plateia. As "fadinhas" tiveram o momento delas. Rod, claro, teve vários. E precisou enfrentar diversos percalços. O mais evidente deles foi o peso da idade. Aos 70 anos, o escocês não tem nem de longe a voz marcante do passado. Diferentemente de alguns contemporâneos, ele até consegue manter o timbre rasgado e o tom original das músicas, mas peca pela potência.
Outra dificuldade: a dispersão natural do público na madrugada de domingo que avançava. Muitos foram embora antes do fim da apresentação. O cantor provavelmente sabia que isso poderia acontecer. E tirou de letra. "Obrigado por ficarem", ressaltou duas vezes o velho lobo loiro.
Carismático, Rod Stewart foi saudado e acompanhado pelo público do início ao fim, em muito pelo setlist de "greatest hits" que escolheu. Os velhos sucessos da carreira solo estavam quase todos lá: "Maggie May", "I Don't Want to Talk Aboutt It" e "Forever Young", salpicados com versões estratégicas. Das influências da Motown, como "This Old Heart Of Mine", dos Isley Brothers, do Creedence ("Have You Ever Seen the Rain?" gerou um dos grandes coros do festival até aqui), e do Faces ("Stay with Me").
Em "Do Ya Think I'm Sexy?", o telão exibiu uma antiga capa da revista "Rolling Stone", destacando uma entrevista em que Stewart dizia que não iria envelhecer como uma paródia dele mesmo, ao cantar a música. Ponto para o sarcasmo.
Como de praxe, ele também jogou com seu lado boleiro, uma de suas maiores paixões. Em dos momentos do show, o músico brincou com bolas de futebol no palco e cantou com uma bandeira do Celtic, seu time do coração, amarrada na cintura, que havia sido arremessado no palco.
O último dia
O terceiro dia do Rock in Rio 2015 começou com uma fila menor e sem o sol que castigou o público na sexta e no sábado. Entre as pessoas que chegaram cedo, já se via que o dia teria muito mais famílias, com crianças e pessoas de idade --graças às principais atrações da noite: Elton John e Rod Stewart. Houve quem alugasse apartamento em frente à Cidade do Rock só para ver John.
A primeira atração de destaque, no Palco Sunset, foi Alice Caymmi, em um encontro com o maestro e arranjador musical Eumir Deodato, responsável por discos históricos da MPB. O repertório teve de tudo: músicas dos Rolling Stones, de Caetano Veloso, MC Marcinho, Donna Summer e até Led Zeppelin.
Mas o grande momento no Palco Sunset foi também uma apresentação histórica: o reencontro entre o ex-casal Baby do Brasil e Pepeu Gomes, que não tocava junto havia 27 anos. Com o filho Pedro Baby na outra guitarra e fazendo até um duelo de solos com o pai, o show emocionou a todos. Não havia como não ficar balançado ao ver Pepeu entrando no palco já chorando de emoção frente a uma plateia que o ovacionava, vê-lo dando um terno abraço na ex-mulher, e os dois resgatando ao lado do filho canções marcantes como "A Menina Dança", "Flor do Desejo" e "Masculino/Feminino".
Ainda no Palco Sunset, Pepeu e Baby deram lugar à primeira atração internacional do dia, a banda canadense Magic!. Dono de um único hit, "Rude", o grupo teve que recorrer a covers de Cyndi Lauper, Bob Marley e The Police para compensar a falta de músicas em seu repertório. Após um show protocolar que não despertou muito a atenção do público, a banda fechou com sua única música conhecida.
O primeiro show da noite no Palco Mundo foi dos Paralamas do Sucesso, que já haviam feito história com sua apresentação no Rock in Rio de 1985 e voltaram resgatando hits de toda a sua carreira. Impossível não agradar. Donos de inúmeros clássicos do rock nacional, como "Meu Erro", "Cinema Mudo" e "Melô do Marinheiro", os Paralamas botaram todo o mundo para cantar e dançar. O show foi encerrado com "Que País É Esse?", da Legião Urbana.
Intercalando com o palco principal, o cantor de R&B americano John Legend embalou os casais da plateia com canções românticas como "All of Me" e "You and I (Nobody in the World)", encerrando as atrações da noite no palco secundário. O show seguinte, de Seal, astro do chamado neo soul dos anos 1990, deu largada com um de seus principais hits, "Crazy". Simpático e interagindo bastante com o público, Seal soube conduzir a apresentação, que teve em outro de seus hits, "Kisss From a Rose", um de seus pontos altos.
Penúltima performance da noite, a apresentação de Elton John durou quase duas horas e foi repleta de grandes sucessos da carreira do artista britânico. Assim como os cristais que enfeitavam seu casaco, longos solos de piano e canções como "Rocket Man", "Goodbye Yellow Brick Road" e "I'm Still Standing", além do próprio carisma do músico, brilharam durante o show. Mesmo com ouve alguns momentos arrastados e monótonos, o público não arredou o pé. A plateia permaneceu lotada o tempo inteiro, aparentando ter muito mais gente do que no final do show de Stewart.
O Rock in Rio 2015 agora descansa por três dias e volta na próxima quinta-feira (24), com System Of A Down, Queens of The Stone Age, Deftones, Hollywood Vampires e CPM 22, entre outros. Até o último dia do festival, no domingo (27), muitas atrações ainda vão passar pelos palcos da Cidade do Rock: Slipknot, Faith No More, Nightwish, Rihanna, Sam Smith, Lulu Santos, A-ha, Cidade Negra e, encerrando a edição deste ano, Katy Perry.
Até lá, saiba o que o festival tem a oferecer de melhor, e o que ainda precisa melhorar até o segundo final de semana.
Em time que está ganhando, não se mexe:
- Alimentação: A grande variedade de opções é rara em eventos deste porte no Brasil e ainda foi acompanhada de boas soluções para o público evitar contratempos, com atendentes que abordavam quem se enfileirava nos caixas para pegar os pedidos e diminuir o tamanho das filas.
- Postos de saúde: Espalhados por todo o festival e bem localizados, os postos de atendimento estavam quase sempre vazios --e não apenas pela falta de incidentes, mas pela agilidade no atendimento.
- Rock Street: A vila cenográfica é uma boa alternativa para quem quer trocar de ares, com shows de pequeno porte e outras opções de comércio.
- Banheiros: Grandes e espalhados por toda a Cidade do Rock, quase nunca estavam lotados e eram higienizados com frequência.
- Pontualidade: A grande maioria das apresentações seguiu uma pontualidade difícil de ver em festivais por aqui.
Se não melhorar, não tem jogo:
- Som: No palco principal falhou algumas vezes nos primeiros dias, chegando a quase comprometer de vez o show do Metallica, headliner do sábado.
- Agendamento dos brinquedos: A falta de comunicação sobre o funcionamento dos brinquedos e seu agendamento causou confusões nas filas e descontentamento de muita gente que achava que bastava chegar na atração e esperar a sua vez. Houve até troca de agressões entre seguranças e um jovem.
- Karaokê na entrada da Rock Street: Uma boa ação de marketing de um dos patrocinadores convidava o público a cantar suas músicas favoritas com uma banda de verdade como apoio musical, mas a localização desta atração causava uma aglomeração de gente logo na entrada da Rock Street, fazendo muitos desistirem de visitar a vila.
- Falta de áreas de descanso: Sem um lounge para descansar, o público esticou cangas no chão. Mas, se durante o dia essa saída improvisada dava ares de parque à Cidade do Rock, de noite a aglomeração de pessoas sentadas e deitadas (muitas delas dormindo) tornou difícil a locomoção do público do evento.
- Locomoção: A área da Cidade do Rock é um terreno estreito que por diversas vezes causava congestionamento de pedestres. No domingo especificamente o trânsito do público de um palco para o outro era lento até demais.
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