Topo

Fãs homenageiam Jerry Adriani e relembram clássicos em enterro do cantor

Carolina Farias

Do UOL, no Rio de Janeiro

24/04/2017 18h06

Com os fãs entoando canções que marcaram a carreira de Jerry Adriani, como "Doce, Doce Amor", o cantor foi enterrado no final da tarde desta segunda-feira (24) no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Rio de Janeiro. 

Ao fim da cerimônia, familiares distribuíram pétalas vermelhas no túmulo do cantor - Marcos Ferreira/Brazil News - Marcos Ferreira/Brazil News
Pétalas vermelhas foram distribuídas no túmulo do cantor
Imagem: Marcos Ferreira/Brazil News

Anônimos lotaram a cerimônia e fizeram orações enquanto familiares jogavam palmas brancas no túmulo do ícone da Jovem Guarda. Por conta do volume de pessoas, o sepultamento durou cerca de dez minutos, sem despedidas de família e amigos. Eles deixaram o local discretamente enquanto a multidão continuava no local. O último gesto de alguns familiares que permaneceram no local foi jogar pétalas vermelhas. 

Na falta do "Rei", sósias de Roberto Carlos prestaram homenagem a Jerry Adriani. Carlos Evaney é cover de Roberto há 17 anos e era amigo de Jerry há uma década. "Uma vez a ex-mulher dele me convidou para cantar em uma escola. Ficamos amigos desde então. O visitei no hospital, na casa dele. Não tem nem o que dizer", disse o artista, que é apontado como cover oficial de Roberto. 

Já Jorge Vilela é um cover mais modesto do rei. Entrou na fila para fazer as últimas despedidas de Jerry. Ele levava uma flor vermelha para o também ídolo. "Canto em festas e quando pedem também canto musicas do Jerry, como 'Querida'", disse.

Velório

A cerimônia anterior reuniu diversos familiares e amigos que estiveram ao lado de Jerry durante tanto tempo. O filho Thiago Vivas falou da convivência com o pai: "Ele era maravilhoso, um grande cantor. Meu irmão deu um netinho para ele em dezembro, ele estava muito feliz".

"Ele deu entrada no hospital no dia 2 de março com uma embolia pulmonar e depois já descobrimos que tinha relação com o câncer. Ele precisou ter uma embolia para poder perceber essa doença grave. Ele sempre foi um cara muito forte, trabalhou a vida toda e cantava em qualquer tempo ruim, podia estar gripado que ele cantava. Foi um diagnóstico difícil e arrasador", relembrou Vivas, que confirmou que o pai tinha câncer no pâncreas.

Amigo da época da Jovem Guarda, o cantor Erasmo Carlos relembrou tudo o que viveram juntos. "Era uma amizade de muitos anos, de muita estrada. Passamos muita coisa juntos, desde a época difícil até a época melhor. Um grande amigo a gente nunca esquece", disse o cantor, que afirmou ainda que Jerry Adriani vai deixar um legado. "A gente perde uma pessoa única que se foi para deixar muita saudade. Era um grande cantor, sincero, honesto com o que fazia, feliz e com uma legião de fãs. Ele deixou um legado para mim que adoro e vou continuar ouvindo as músicas dele".

Neguinho da Beija-Flor estava muito emocionado. Ele tinha se encontrado com Jerry na sexta. "Nos conhecíamos há 40 anos. Ele estava com aquele brilho nos olhos, vontade de se recuperar. Segurou a minha mão e disse que ia ficar bem, que deus iria ajudá-lo. Eu tive que segurar para não chorar na frente dele", disse sobre a visita. Um amigo da família de Jerry disse que eles estavam usando o tratamento do cantor da escola carioca, que se recuperou de um câncer no intestino após sete anos, como exemplo.

Morte repentina

O cantor Jerry Adriani morreu neste domingo (23), aos 70 anos. Ele estava internado desde o dia 7 de abril na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Vitória, no Rio, para tratar um câncer. 

Em março, Adriani foi internado por causa de uma trombose venosa profunda na perna direita. Duas semanas depois de receber alta, voltou a ser levado para o hospital devido a complicações.

Após a primeira internação, Adriani chegou a publicar nas redes sociais um vídeo para tranquilizar os fãs. “Para que não se criem falsas verdades, a gente está dizendo que está tudo sob controle e logo, logo estaremos fora daqui para cantar de novo para você. Não vai demorar, se Deus quiser", disse o cantor.

Italianinho boa-praça

Batizado de Jair Alves de Souza, Jerry Adriani começou a carreira gravando canções em italiano, mas estourou mesmo durante a Jovem Guarda, nos anos 1960. Neto de imigrantes do Brás, antigo bairro operário de São Paulo, Jerry Adriani aprendeu ainda criança canções italianas com a avó materna e estudou acordeão. Seu primeiro disco, "Italianíssimo", foi lançado em 1964.

Adriani também fez carreira na televisão, sendo concorrente de Roberto Carlos com atrações dedicadas ao público jovem da época, como o "Excelsior a Go Go" (1966) e o "A Grande Parada", da TV Tupi (1967/1968).

Nos anos 1980, ele foi redescoberto pela nova geração, em muito pela semelhança de seu timbre vocal com o do cantor Renato Russo, de quem, inclusive, chegou a participar de show-tributo. Entre seus grandes sucessos estão "Querida", "Tudo o que É Bom Dura Pouco" e "Doce, Doce Amor", composta por Raul Seixas, que foi seu produtor.

Adriani tinha completado 70 anos em janeiro deste ano e deixa três filhos: Thadeus, Tiago e Joseph.