New Order mexe com nostalgia dos fãs e ganha público do Lolla com clássicos
Os britânicos do New Order subiram ao palco do Lollapalooza 2014, na noite deste domingo (6), competindo público com o Arcade Fire, que tocava ao mesmo tempo do outro lado do Autódromo de Interlagos de São Paulo. Bernard Sumner voltou ao país para mexer com a nostalgia dos fãs, que fizeram da banda a atração com maior audiência do palco Interlagos, considerado secundário.
Esta é a primeira vinda ao Brasil do grupo de Manchester desde a insossa participação no Ultra Music Festival em dezembro de 2011. Embora com repertório bastante previsível e semelhante ao de três anos atrás (e da execução frustrante de algumas faixas sem a potência esperada, como foi o caso de “Crystal”, que abriu a noite), o show se diferenciou, principalmente, em termos de resposta do público.
“Bizarre Love Triangle”, “Blue Monday”, ”Temptation”, “Ceremony”, “True Faith”, “Perfect Kiss” e “Age of Consent” foram recebidas como tesouro pela plateia. Faixas do Joy Division --banda anterior ao New Order que encerrou as atividades após o suicídio do vocalista Ian Curtis-- também tiveram boa recepção. “Transmission”, “Atmosphere” e “Love Will Tear Us Apart” foram executadas com as imagens do ex-vocalista no telão de LED situado no fundo do palco, alternando com a ilustração da capa do clássico álbum “Unknown Pleasures" (1979).
O New Order também trouxe na bagagem uma canção inédita. "Vamos tocar uma música nova e a p*** do nome dela não é 'Drop the Guitar', como divulgaram. Ela se chama 'Singularity'", disse Sumner, corrigindo informações recentes --a canção integrou o repertório de outros shows na América do Sul e circulou na internet por meio de vídeos amadores de fãs com o título errado. Ao final, o vocalista ainda repetiu a chamada de atenção. "É isso aí, gente! Essa foi 'Singularity', se escreve s.i.g.u.l.a.r.i.t.y”, ironizou.
A ausência de Peter Hook comandando as linhas de baixo que definiram tão fortemente a sonoridade do New Order faz diferença na figura e na performance do grupo no palco, que continua sem grande expressão apesar da simpatia de Sumner. Hoje em dia, que assume o baixo é Tom Chapman.
Vale lembrar que, fora do banda desde 2007, Hook segue alfinetando publicamente os ex-colegas --a última foi chamá-los de preguiçosos por sempre sustentarem seus repertórios nos clássicos sucessos e não investirem no amplo catálogo já produzido pelo grupo ao longo dos anos. E ele tem razão.
Segundo dia com veteranos
O segundo dia do Lollapalooza 2014 trouxe mais veteranos aos palcos do que o dia anterior, dominado por atrações com forte apelo do público jovem. O perfil dos artistas escalados para este domingo refletiu diretamente na plateia: viu-se um Autódromo um pouco mais vazio (mas não menos desconfortável para se locomover) e pessoas mais velhas do que havia no sábado. Foram seis nomes com raízes dos anos 90 contra três no primeiro dia.
Qual foi o melhor show do segundo dia do Lollapalooza 2014?
Resultado parcial
Total de 3796 votosCom a baixa procura e sem o esgotamento das entradas, cambistas nos arredores do Autódromo cobravam um ingresso entre R$ 200 e R$ 300, enquanto na bilheteria a entrada custava R$ 290 (inteira).
A grande surpresa do domingo para os veteranos foi o encontro improvável de metade dos Smiths, com Johnny Marr e Andy Rourke dividindo o mesmo palco. O show era do guitarrista, que convidou o ex-baixista da banda para tocar a clássica "How Soon is Now?", levando os fãs à histeria. Marr e dominou praticamente os solos e riffs das canções, mostrando que a fratura na mão, semanas antes das apresentações na América do Sul, não prejudicou na virtuose.
O Pixies, lenda do rock alternativo, também veio ao país com uma surpresa, mas anunciada. Os fãs brasileiros viram ao vivo, pela primeira vez, a nova baixista da banda após a saída da queridinha Kim Deal. Com desenvoltura de uma veterana, a argentina Paz Lenchantin acompanhou o Pixies com louvor, principalmente em canções novas. A banda de Black Francis trouxe clássicos como "Here Comes Your Man", "Monkey Gone to Heaven", "La la Love You", "Hey" e "Gouge Away".
Prata da casa, o Raimundos se apresentou cedo (13h30) no Lollapalooza, mas com um público significativo para o horário. Em homenagem a Ayrton Senna (uma lembrança por estar no Autódromo), a banda tocou "Esporrei na Manivela", dizendo que o piloto "esporrava na parada e passava na frente de todo mundo na raça". Comandado por Digão, o Raimundos alternou músicas novas com a nostalgia de um passado áureo tão respeitado pelo público de rock nacional, enrijecido principalmente pelos álbuns "Raimundos" (1994), "Lavô Tá Novo" (1995) e "Só no Forévis" (1999).
Exageros da casa nova
O primeiro dia do Lollapalooza foi marcado pela surpresa da casa nova: depois de dois anos instalado no Jockey Club de São Paulo, o festival foi parar no Autódromo de Interlagos, a cerca de 18km distante do antigo local. Bem mais amplo e com mais atrações, o festival agradou pelo clima, mas recebeu críticas pela distância entre um palco e outro, separados por até 900 metros, e pela aglomeração, com difíceis acessos para se locomover pelas dependências do local.
A mudança do Jockey Club de São Paulo para Interlagos tirou do público a opção de fazer bom proveito do ingresso comprado, podendo assistir a diversos shows. Apostou-se no tamanho e chegou-se ao exagero.
O primeiro dia de shows recebeu atrações que fazem sucesso com o público jovem, como o Muse, que ficou por conta de encerrar a noite, depois de ter cancelado na última quinta-feira o show que faria em uma pré-festa do festival por causa de problemas na garganta do vocalista Matthew Bellamy. A banda subiu ao palco do evento --que recebeu 80 mil pessoas-- e o líder mostrou que estava com a voz praticamente intacta.
O Imagine Dragons, novatos recebidos como grande atração, veio pela primeira vez no país e chegou com jogo ganho, embalado principalmente pelo mega hit "Radioactive". Fenômeno pop atual, a cantora neozelandesa Lorde também arrastou uma multidão para sua primeira apresentação no Brasil e promoveu um transe coletivo.
Banda mais veterana do dia, o Nine Inch Nails quebrou a linha pop rock ensolarada que embalou toda a tarde, antes de Trent Reznor assumir o microfone. Entre os poucos brasileiros na programação, o Nação Zumbi tocou para 1/3 do público de Lorde, que se apresentou antes, mas totalmente revigorado após férias dos palcos.
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