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Integrante do Pussy Riot reclama que não há nada para ler além da bíblia na prisão

Integrantes da banda Pussy Riot estão presas na Rússia - Reuters
Integrantes da banda Pussy Riot estão presas na Rússia Imagem: Reuters

Do UOL, no Rio

26/09/2012 13h24

Três integrantes do grupo de punk rock feminista russo Pussy Riot foram condenadas a 2 anos de prisão por vandalismo motivado por ódio religioso. A sentença foi divulgada no último dia 17 de agosto. Em março de 2012, durante um concerto na catedral ortodoxa Cristo Salvador em Moscou, Nadia Tolokonnikova, Maria “Masha” Alekhina e Yekaterina Samutsevich foram presas. Na última semana, o trio, através de seus advogados, falou à revista "GQ" sobre o período que estão passando na prisão.

Na descrição de Masha, 24, no confinamento, há três tipos de celas: pequenas, médias e grandes. As integrantes da banda estão divididas em três celas diferentes. De acordo com cantora, apenas as celas grandes têm chuveiros dentro e, no seu relato, consta que elas só tomam banho uma vez por semana.

“Depois das 6 da manhã, nós somos proibidas de dormir embaixo do cobertor. Teoricamente, até as luzes se apagarem, às 10 da noite, nós somos proibidas de dormir de qualquer jeito, mas, na prática, você pode deitar em cima do cobertor e tapar o seu rosto com seu casaco. Ninguém consegue explicar o porquê. A única resposta que você ouve para todas as questões é “Está é a regra” e “Nós mantemos um regime aqui”, contou.

Para Nadia, 22, a prisão “é um bom lugar para aprender realmente a ouvir a sua própria mente e o seu próprio corpo”. Sobre como passa o tempo, a cantora reclama que não há nenhum outro livro para ler além da bíblia.

“Por quatro meses, eu não tive nada para ler além da bíblia, então, eu li isso durante todos os quatro meses, diligentemente, detalhe por detalhe”.

Masha contou que, todos os dias, há uma hora em que as prisioneiras caminham ao ar livre. “O “pátio” é um quadrado de concreto com dois bancos e um pedaço de céu entre a parede de cimento e o teto de plástico.” No seu relato, ela acrescenta que sua cela é constantemente vasculhada. “Eles confiscam os nossos desenhos e notas. Por quê? “Regras””, descreveu.

Madonna protesta em favor de Pussy Riot

No dia 07 de agosto, em um show na capital russa, a cantora pop Madonna protestou em apoio às três prisioneiras.

“No dia 7 de agosto, a juíza, de repente, terminou a sessão às 18h e não às 22h como é o costume. “Ela está indo para o show da Madonna”, a gente brincou enquanto nos colocavam as algemas, com os cachorros policiais latindo para nós. Na manhã seguinte, quando a gente chegou à corte, nossos advogados correram para nós com umas fotos desfocadas em preto e branco de uma mulher meio nua eusando balaclava (gorro de lã sem os olhos e a boca), com “Pussy Riot” escrito nas costas. A gente disse: “Ah, que legal!” E nossos advogados disseram: “Vocês não entendera. Esta é a Madonna!” E a gente respondeu: “Nossa, isso é REALMENTE legal!” Foi tudo o que a gente conseguiu dizer antes da juíza entrar e o julgamento recomeçar”, contou Nadia.

Sobre a sensação do que está vivendo, Nadia declarou que, para ela, é como se estivesse vivendo em um filme de grande orçamento. Questionada sobre o que pensava antes de começar o show, a cantora que o grupo tenta não pensar sobre a possibilidade de serem presos.

“Se você começar a pensar nesse tipo de coisa, você não pode fazer nada político. Além disso, nós não podíamos imaginar que as autoridades seriam tão tolas e que realmente legitimariam nossa influência nos prendendo.”

O depoimento de Yekaterina Samutsevich, 30, foi confiscado.