ARCADE FIRE

Neon Bible

Após dar o que falar com o elogiadíssimo álbum "Funeral", de 2004, o Arcade Fire voltou ainda melhor. Seguindo a mesma mistura de influências folk, pop épico e eletricidade roqueira, a banda canadense conseguiu dar um passo além neste segundo trabalho, gravado entre Montreal, Nova York e Budapeste, que só pode ser descrito como grandioso.

Recheado de efeitos de eco e reverberações que enriquecem melodias memoráveis, "Neon Bible" revisita a estética épica de produtores como Phil Spector (Ronettes, John Lennon, Ramones) e Tony Visconti (T-Rex, David Bowie). Como eles o Arcade Fire soube usar a orquestra sinfônica num contexto roqueiro e construir com ela uma verdadeira muralha sonora.

A primeira música, "Black Mirror", soa como o Bowie berlinense de "Heroes" com instrumentos sinfônicos, violão e bandolim. Outra influência que percorre as 11 faixas é o Bruce Sprinsteen dos anos 70, principalmente nos vocais de Win Butler. Não há como ouvir "Antichrist Television Blues" e não se lembrar de "Born to Run" e sua combinação de emoção folk, intensidade roqueira e arranjos grandiosos.

Outro destaque é o uso profuso de um órgão de igreja, como em "Intervention", a faixa mais folk do disco e também a mais triste e angustiada. Já "Black Wave" consegue uma sonoridade quase tecnopop, mas utilizando, ao invés de sintetizadores, a combinação de orquestra, banda e instrumentos exóticos como bandolim e viola.

Um disco vital, relevante, que consegue ser variado sem sair do eixo reverente aos heróis, mas mantendo a originalidade. Grandes canções, arranjos e produção primorosos, neste que é talvez o melhor disco de rock do ano.(PEDRO CARVALHO)