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Gravadora: Virgin
Preço médio: R$ 40
27/06/2007

BRYAN FERRY

"Dylanesque"

Após ir do rock experimental ao pop radiofônico nos anos 70 como vocalista do Roxy Music e se imortalizar cantor romântico nos 80, Bryan Ferry mostra uma faceta inesperada neste disco feito apenas de composições de Bob Dylan.

Dono de personalidade e estética diametralmente opostas às do compositor, Ferry buscou, com ajuda do produtor Rhett Davis, um meio termo entre a aspereza e expontaneidade de Dylan e o romantismo cool e por vezes superproduzido que marca seu próprio trabalho.

Para isso compensou suas tendências decididamente pop com arranjos calcados no blues, country e rock and roll de raiz. Cortesia em parte de um dos mais subestimados guitarristas de todos os tempos, o veterano de estúdio britânico Chris Spedding, que com seu estilo clássico influenciado pelo rockabilly, adiciona tempero à maior parte das faixas.

Outros convidados ilustres incluem o antigo parceiro no Roxy Music Brian Eno, que opera a parafernália eletrônica em "If Not For You", e o pioneiro do rock inglês Mick Green, que no início dos anos 60 fez fama com os excelentes Johnny Kidd & The Pirates na ótima versão de "Simple Twist of Fate" e na um pouco óbvia "Knocking on Heaven's Door".

A escolha do repertório foi sábia e se baseou na melhor fase de Bob Dylan, os anos 60, com algumas exceções. Algumas versões surpreendem, como "Gates of Eden", uma das mais fortes faixas do clássico "Bringing It All Back Home", de 1965, transformada aqui numa espécie de balada de faroeste. Demonstrando como intérpretes podem ser criativos, Ferry varia um pouco seu timbre usual e canta como uma espécie de Roy Orbison mais contido. "Positively 4th Street" ganhou um igualmente belo acompanhamento ao piano, dando bastante espaço ao cantor e deixando-o em seu ambiente natural de crooner de boate.

Outras faixas não funcionam tão bem. Em alguns casos, como "The Times They Are a-Changin'", a força emocional das versões originais acústicas é neutralizada pelas amarras dos arrajos convencionais com bateria. Noutras, como "All Along the Watchtower", o vocal com ar de quem segura um copo de Martini num nightclub esfumaçado é a antítese do que a raivosa canção pede.

No geral, "Dylanesque" se sai melhor do que a encomenda. Se a idéia de Bryan Ferry cantando Dylan parece estranha a princípio, o resultado é satisfatório na maior parte das faixas. Na pior das hipóteses, é um cantor que já viu dias melhores auxiliado por composições de primeira linha.
(PC)

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