CÉREBRO ELETRÔNICO

"Pareço Moderno"

Já cantava Gilberto Gil que "o cérebro eletrônico faz tudo, faz quase tudo". E é nesse decreto que o quinteto paulistano de mesmo nome --Cérebro Eletrônico-- aposta suas fichas. Respirando a diversidade do movimento tropicalista, o grupo lança o segundo disco, "Pareço Moderno", pelo selo paulista Phonobase.

As 12 faixas do CD mostram que não há limites que separam o rock, o pop, a MPB e os "blips" e "blops" da música eletrônica. Todos estes elementos também unem as quatro escolas numa mesma festa cheia de sarcasmo. A faixa-título, que abre o disco, é uma ode à juventude que tem os pés num passado que não viveu. "Sérgio Sampaio vai chegar prá lher dizer que eu pareço moderno", canta o vocalista Tatá Aeroplano, também líder da banda paulista Jumbo Elektro.

Sampaio, o parceiro de Raul Seixas no disco "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista", é lembrado em outros vários momentos do disco, inclusive em uma música que leva o seu nome. E referências pop não faltam: o universo dos Beatles é reverenciado na voz delicada da convidada Helena Rosenthal em "Portal dos Sonhos", que mistura literatura fantástica e cinema em bateria com repique de marchinha.

"Dê", faixa que saiu no primeiro álbum do grupo ("Onda Híbrida Ressonante", 2004), ganhou nova roupagem. As batidas eletrônicas da versão anterior foram susbtituídas pela banda toda em ação fazendo um pop radiofônico --a música também foi emprestada ao RPM Fernando Deluqui para gravar no disco "Delux".

O repertório traz ainda a escrachada e deliciosa "Talentoso", letra inédita do bardo gaúcho Júpiter Maçã; o rock pós-político de "Bem Mais Bin Que Bush"; a bossa moderninha "Mar Morro" e a lisérgica "Os Astronautas", um Mutantes embalado em recursos eletrônicos.

A viagem do Cérebro Eletrônico começa lá atrás, na tradição tropicalista, e pega carona nas baladas para chegar no panorama contemporâneo da música pop bem elaborada. E tudo com uma cara bem moderna. (MARIANA TRAMONTINA)