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Gravadora: Candeeiro Records
05/11/2007

CHINA

"Simulacro"

Basta uma audição para saber que se está diante de uma boa obra. Ainda que não se possa digeri-la de vez, nota-se logo de primeira a profusão de preciosidades: seja nas diferentes texturas de arranjos, seja na mistura versátil de ritmos, seja nas letras sensíveis e inteligentes ou seja ainda nas batidas dançantes.

A suntuosidade de "Simulacro", segundo CD da carreira solo de China, ex-integrante do Sheik Tosado e atual vocalista da banda Del Rey (famosa por fazer covers de Roberto Carlos), tem fundamento, é legítima. Mesmo que simulacro queira dizer falso aspecto, aparência enganosa, fingimento ou dissimulação.

China não soa repetitivo ou ecoa num falso futurismo. Daí o âmago de um som no seu tempo, nem à frente, nem atrás dele. Não simula uma nostalgia do passado, nem se preocupa em parecer "moderninho-alternativo", como tanta banda nova chata por aí.

Para isso o disco se utiliza de uma abundância de aparatos. Passeia por harmonias psicodélicas e orquestrais. Dos anos 70, bebe ainda muito do jeito de fazer rock de Roberto Carlos e do tropicalismo. Busca em arranjos breguinhas aquele toque especial de romantismo. Não deixa de lado jamais a pegada dub da bateria (bem no estilo de Pupillo, da Nação Zumbi, que soube produzir muito bem o disco, diga-se de passagem). Tem até um samba grunge no meio do "arremedo".

Quem ouve também é fisgado pelo espectro (ou aspecto?) experimental da obra. E com participação de músicos do Mombojó, coisa ruim não podia ter saído. [Participam do disco Vicente, Chiquinho, Felipe S e Marcelo Machado].

Tudo isso resulta numa organização rítmica pra lá de agradável e deliciosa de ser memorizada. "Um Dia Lindo de Morrer" é a primeira a anunciar o equilíbrio de cores, tons e nuanças que se seguem no decorrer de "Simulacro".

É uma seqüência de uma música melhor do que a outra: "Jardim de Inverno", "Sem Paz", "Asas Nos Pés", "Câncer", "Colocando Sal nas Feridas", "Durmo Acordo" e "Canção que Não Dorme No Ar". Em "Pastiche", China ainda trava um diálogo viajante com Chico explicando o que é simulacro, com seu sotaque e gírias pernambucanas bem-humoradas.

Extraordinário, um dos melhores discos nacionais lançados em 2007. (GABRIELA BELÉM)

Veja o clipe de "Canção Que Não Morre No Ar"

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