BOB DYLAN

Dylan Speaks

Poucos anos foram tão importantes para a música pop como 1965. Com novos horizontes abertos pela explosão internacional dos Beatles no ano anterior, o rock and roll perdia a inocência e começava a navegar mares mais profundos.

Foi quando os Byrds, na Califórnia, inventaram o folk rock, os Yardbirds e o The Who, em Londres, desenharam a planta do rock pesado, os quatro de Liverpool ficaram "sérios" no álbum "Rubber Soul" e Bob Dylan, é claro, eletrificou seu som, para o horror dos puristas. A música pop deixava de ser um produto infanto-juvenil e começava a ser vista como uma forma de arte legítima.

Gravado no dia 3 de dezembro daquele ano no epicentro da contracultura, São Francisco, o DVD é um excelente registro das mudanças em curso. Nos 50 minutos, o descabelado artista fala muito pouco sobre temas específicos e responde a maior parte das perguntas com evasivas "muito loucas", ironia e charme.

E é aí que está a graça deste lançamento, presenciar a habilidade de Bob Dylan em manipular sua própria imagem, mentir, falar sério em tom irônico e ironizar com cara séria. Tudo isso diante de uma "platéia" completamente seduzida e, por vezes, amedrontada. Como se soubessem que estavam diante do comandante de uma revolução que começava.

Não esperem grandes sucessos. Aliás, não esperem música, não há uma só sequer. Trata-se de um documento histórico sobre os anos 60 e uma das raras entrevistas longas de Bob Dylan diante das câmeras numa época crucial, tanto para sua carreira, quanto para sua geração. É através dessa lente que o DVD deve ser visto.(PEDRO CARVALHO)