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Gravadora: Videofilmes
Preço médio: R$ 45
28/04/2009

VELHA GUARDA DA PORTELA

"O Mistério do Samba"

Na ocasião do trabalho de pesquisa de campo realizado por Marisa Monte nos idos de 1998 junto aos sambistas da Portela no bairro de Oswaldo Cruz, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), para o repertório de seu CD "Tudo Azul", a cantora percebeu que algo mais estava ali, naquele lugar, além dos cancioneiros inéditos os quais pretendia resgatar. Assim, ela chamou os diretores Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor para registrarem esses encontros, com a intenção futura de gerar um filme que retratasse não apenas os bastidores de sua empreitada musical, mas algo muito mais precioso.

A idéia foi tomando forma e, dez anos depois, em 2008, o resultado surgiu nas telas de cinema com o documentário "O Mistério do Samba", dirigido por Lula e Carolina, e apresentado pela própria Marisa Monte, contando com o apoio de Paulinho da Viola e Zeca Pagodinho.

Cenas intercaladas de diferentes épocas, sem o compromisso linear do tempo, exploram os discursos naturais e semblantes dos nomes principais da Velha Guarda da Portela, como Jair do Cavaquinho, Argemiro do Patrocínio, Monarco e Casquinha, além de Tia Surica e Tia Eunice, entre outros bambas.

Cada um desses artistas tem seu perfil retratado durante os 88 minutos do filme, acerca de sua aproximação com a agremiação, as memórias de vida, de labor, de sobrevivência, de referências musicais e da aproximação com a comunidade da escola e do grupo de notáveis o qual naturalmente cada um viria um dia a se integrar e fazer parte de sua história.

Cenas como a dos bastidores das reuniões de Marisa e os sambistas discutindo o repertório a ser resgatado do embornal de composições intocadas são registradas, assim como momentos de rodas de samba embaladas pelo coro da Velha Guarda, entoando cânticos sincopados que contam o amor, o cotidiano e um sortilégio de realizações de uma obstinada comunidade que preserva por meio da música a sua essência.

Das 200 horas de material cinematográfico coletado, o formato no DVD oferece ao espectador algumas pérolas que não entraram no corte final, como novas crônicas narradas por Jair do Cavaquinho, Casquinha e Argemiro e até mesmo mais tricotagens do mulherio portelense com Marisa Monte, além de extras musicais, como "Tudo azul" (Ventura), "Corri para ver" (Monarco, Casquinha e Chico Santana), "A chuva cai" (Argemiro e Casquinha) e "Perdoa" (Paulinho da Viola).

A prece ritmada contida no samba "Quantas lágrimas" de Manacéa, um dos principais compositores da história da Portela, afirma: "se houvesse retrocesso na idade eu não teria saudade da minha mocidade". Depois de assistir a esse legado visual, o espectador se certificará, enfim, de que há outras formas de voltar ao tempo e vivenciar um pouco dessa terna mocidade. (ZÉ CARLOS CIPRIANO)

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