IGGY & THE STOOGES

"Live In Detroit"

"Nos dias de hoje na vida americana, há diferentes conceitos sobre o que realmente tem valor. Vocês têm valor mesmo quando são subestimados! As pessoas te viram as costas em um segundo e te tratam com um monte de merda. Uma vez que você acredita nisso, se torna isso", declara no palco Iggy Pop, aos 55, a mais uma nova geração de fãs.

Enquanto Nova York moldava preocupadamente o conceito do que viria a ser o movimento punk no final dos anos 60, em Detroit um grupo de desajustados apenas mandava tudo e todos para o inferno. Este perfil caótico do som dos Stooges fez deles os maiores especialistas na arte de fazer um som cru, tosco e, ao mesmo tempo, genial.

Este show de 2003, que marcou a reunião da banda desde o então último álbum oficial, de 1976, merecia um registro melhor, mas com os Stooges, nada impede o material de ser precário, e no entanto, ótimo. É o caso dos extras, que trazem um pocket show bem bacana, filmado com uma câmera só. Não há mais a festa de sangue misturado a pasta de amendoim, mas isso não importa. O que importa é reconhecer uma verdadeira banda de rock em ação.

"I Wanna Be Your Dog", "No Fun", "1969" e outras são tocadas em volume máximo, e apreciadas em delírio coletivo pela plateia. A invasão do palco, da mesma forma que há pouco aconteceu no show de Iggy em São Paulo, coroa a experiência até então inédita para muitos de ver os ídolos de perto. Com a morte do guitarrista Ron Asheton em janeiro do ano passado, cresceu o valor histórico destes shows de retorno da banda.

Seria difícil prever que os integrantes originais do grupo, que fizeram fama imersos num mar entorpecente de drogas e confusão, se apresentariam ao mundo como um grupo de vovôs roqueiros, com Iggy Pop berrando a plenos pulmões os mesmo refrões revoltados, e melhor, com a mesma revolta de décadas atrás. Que bom que isto aconteceu. (MARCO BRITTO)