GEORGE MICHAEL

Patience

Este é o primeiro disco em que George Michael fala abertamente sobre sua homossexualidade. Conhecido por seus mega-hits dançantes e sensuais dos anos 90, como "Too Funky" e "Freedom 90", o compositor, no entanto, parece ainda não ter encontrado o tom certo para suas músicas mais confessionais. Se ele consegue leveza ao falar sobre a perda de um parceiro e as dificuldades do recomeço, em "Please Send me Someone" (dedicada ao ex-namorado brasileiro do cantor, Anselmo Feleppa, morto em 93, de Aids), o caldo entorna nas letras confusas de "My Mother Had a Brother" e "Through" ou em "American Angle", em que os gêneros dor-de-cotovelo e canção de protesto se misturam num coquetel indigesto. Perdido entre reflexões rasas sobre a existência e a atual conjuntura política do mundo, George Michael troca o tom alto-astral de suas melhores músicas por uma certa amargura choramingosa e verborrágica que dá o tom do disco logo na sua primeira faixa, não por acaso a que dá nome ao CD, que enfia uma sucessão de imagens apocalípticas e persecutórias que beiram a demência. A exceção ao clima deprê do disco fica por conta de "Flawless (Go To The City)", que, perto das outras canções de "Patience", parece ótima. O último disco de composições inéditas de Michael foi "Older", de 96. Depois disso, o cantor lançou em 99 "Songs from the Last Century", um disco de covers de jazz e canções pop. Esse hiato cerca "Patience" de uma expectativa que faz com que o disco, o quinto de sua carreira solo, seja ainda mais frustrante. (Antonio Farinaci)