MORRISSEY

Live at Earls Court

Morrissey nunca cantou tão bem. Os traços de uma eterna fragilidade em sua voz aparecem aqui contrastados com momentos de força e gravidade (na intenção e nas inflexões) que não existiam em seu canto nos Smiths e que foram encontrando lugar apenas com o amadurecimento de sua carreira solo. Isso já seria suficiente para fazer deste um dos seus melhores discos. Mas "Live" conta ainda com a sonoridade crua e os arranjos depurados pela banda ao longo de seis meses de turnê --o que cria um sentimento de "intimidade musical" que faz toda a diferença num disco gravado ao vivo. Apesar de estar concentrado em músicas mais recentes, de seu último CD de estúdio, "You Are the Quarry", o disco novo tem espaço também para antigos sucessos dos Smiths, como "Shoplifters of the World Unite" e "There Is a Light That Never Goes Out". Esses clássicos do rock oitentista surgem sem nenhum traço de saudosismo. Morrissey canta como quem reconhece o valor que eles têm, mas não se intimida ao tomar liberdades. Em "Bigmouth Strikes Again", por exemplo, o antológico walkman de Joana D'Arc é substituído por um iPod. "O passado é um lugar estranho", pondera o cantor. E, mais adiante no disco, reflete: "O tempo porá tudo à prova". Destaque para "I Like You", "Let me Kiss You" e "How Soon Is Now?". (Antonio Farinaci)