NANCY SINATRA

Nancy Sinatra

Nancy Sinatra, 64, tem uma trajetória surpreendente. Filha de um dos maiores cantores americanos, o velho Blue Eyes, Nancy se tornou uma lenda por causa de sucessos que podem ser contados em apenas uma das mãos --todos gravados no período entre 66 e 68--, o maior deles "These Boots Were Made for Walking". Sua música estava completamente fora de sintonia com o rock psicodélico em moda na época e fascinava mais pela estranheza da temática de algumas das letras. "Some Velvet Morning", por exemplo, regravada recentemente pelo Primal Scream, com Kate Moss no vocal, tem Fedra como protagonista. Nas décadas que se seguiram, a cantora praticamente abandonou a carreira. Hoje, quase quarenta anos depois, Nancy ressurge com um disco que, se não é o melhor de sua carreira, é provavelmente o mais coeso. Com composições de Morrissey, Jon Spencer, Jarvis Cocker, Bono Vox e outros fãs confessos, o disco mostra Nancy com a voz mais amadurecida, firme e se pode dizer até mais profunda. A maior parte das canções é romântica, fala de amores desfeitos e corações partidos, mas com humor e um viés irônico que fazem a diferença. A produção não deixa cair em nenhum momento: na balada quase western de "Burning Down the Spark", que abre o CD, na esquisitice soturna de "Momma's Boy", nos vocais distorcidos de "Bossman" ou na jazzística "Two Shots of Happy, One Shot of Sad", que fecha o disco e em que Nancy evoca algo de Mae West. Embora todo feito de gravações inéditas, o disco dá a estranha impressão de que se está ouvindo uma coletânea de greatest hits. Imperdível. (Antonio Farinaci)