Topo

Corpo de Chorão é velado sob bandeira do Santos e protestos de irmã contra ex-mulher

O guitarrista Marcão, do Charlie Brown Jr., se despede de Chorão em velório em Santos - Fábio Braga / Folhapress
O guitarrista Marcão, do Charlie Brown Jr., se despede de Chorão em velório em Santos Imagem: Fábio Braga / Folhapress

James Cimino e Eugenio Martins

Do UOL, em Santos*

06/03/2013 21h53Atualizada em 07/03/2013 13h23

Sob aplausos de fãs e protestos da irmã, o corpo do cantor Chorão começou a ser velado na noite desta quarta-feira (6), na cidade de Santos, com uma bandeira do Santos Futebol Clube cobrindo seu caixão.

O velório, que teve início às 23h20, ficou fechado por cerca de uma hora e meia apenas para a família e amigos próximos. Os integrantes do Charlie Brown Jr foram os primeiros a chegar ao local.

Ex-mulher do cantor causa tensão na família

A ida da ex-mulher do cantor, Graziela Gonçalves, ao velório causou tensão no local. A estilista chegou discretamente e ficou em um lugar separado, aproximando-se do caixão apenas por breves momentos.

Pouco antes da chegada de Graziela, a irmã de Chorão, Tania Wilma Abrão, acusava aos gritos de que a ex-mulher era a culpada pela morte de seu irmão. A família acredita que a separação foi a responsável pela depressão que levou Chorão a morte. Mais cedo, no IML de São Paulo, o irmão do vocalista, Ricardo Abrão, já havia se desentendido com Graziela.

Fontes próximas a Graziela dizem que as drogas levaram Chorão à morte, e não a separação, como alegam os familiares. Uma amiga da família contou que o apartamento do cantor, na zona oeste da capital paulista, seria o reduto de Chorão para o consumo de drogas, o que incomodava Graziela, casada com Chorão havia 15 anos. Eles estavam separados desde o final de 2012, mas ainda não tinham oficializado o divórcio.

Apesar da confusão com alguns familiares, Graziela foi recebida com carinho pelo filho de Chorão, Alexandre, e por amigos do cantor presentes na cerimônia.

Caixão foi coberto com a bandeira do Santos

No período em que o velório ficou aberto apenas para amigos e familiares, a mãe do vocalista, dona Nilda, estava muito abalada e precisou sair para se acalmar. O baixista Champignon ficou o tempo todo perto do caixão e se mostrou inconsolável. Outros amigos de Chorão, como os integrantes da banda NX Zero, o apresentador Marcos Mion, o ator Alexandre Frota e o skatista Sandro "Mineirinho" Dias também compareceram ao local para prestar a última homenagem ao músico.

O caixão foi aberto por pouco tempo, apenas para a família, deixando à mostra o rosto bem machucado do vocalista. Em seguida, o caixão foi fechado novamente e coberto com as bandeiras do Santos e do Brasil.

Cantor veste calça bege e camisa preta do Charlie Brown Jr

O corpo do cantor Chorão foi vestido para o velório com um calça bege e camisa preta com símbolo da banda Charlie Brown Jr. Quem escolheu a roupa para a celebração foi o irmão do cantor, Ricardo Abrão.

Após passagem pelo IML, o corpo foi levado às 16h57 em direção à Arena Santos. O espaço tem capacidade para 5.000 pessoas, segundo informações da Prefeitura de Santos, e a cerimônia será aberta ao público até as 15h desta quinta. 

De acordo com informações da empresária do grupo Charlie Brown Jr., Samantha Jesus, o sepultamento vai acontecer às 17h de quinta no Cemitério Memorial, em Santos.  O desejo do cantor de ter o corpo cremado só poderá ser realizado após liberação pela polícia.

Morte
Chorão foi encontrado morto na madrugada de quarta (6) em seu apartamento, que fica no oitavo andar de um prédio no bairro de Pinheiros, em São Paulo.

As circunstâncias da morte estão sob investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Segundo o delegado Itagiba Franco, da Polícia Divisionária do DHPP, o motorista e o segurança do músico chamaram o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) por volta das 4h30.

A equipe de socorro encontrou o corpo do músico de bruços no chão da cozinha, com as mãos machucadas e já sem vida, sozinho em casa. O apartamento estava revirado, sujo e havia bastante vestígio de sangue. Bebidas e pó branco também foram encontrados no local, mas o delegado não confirmou se era droga.

Em imagens feitas durante a perícia da Polícia no apartamento de Chorão, às quais o UOL teve acesso, o corpo do músico estava cercado por lascas que aparentam ser parte do enchimento de um saco de pancadas de boxe.

A lateral do abdome do corpo apresentava hematomas, e metade do rosto estava machucada e coberta por sangue. O dedo mínimo da mão direita também aparentava estar quebrado. No balcão da cozinha, próximo ao corpo, havia uma pequena quantidade de pó branco em cima de um catálogo de filme pornô, ao lado de um canudo feito com uma folha de cheque.

O exame toxicológico, que vai apontar se havia cocaína ou outras substâncias no organismo de Chorão, será divulgado em duas semanas. Itagiba revelou ainda que foram encontrados, na casa, frascos do ansiolítico Lexotan e uma pasta de dentes usada para adormecer a gengiva --Chorão costumava morder a boca quando estava ansioso.

De acordo com Itagiba, Chorão estava morto desde, pelo menos, o meio-dia de terça-feira. O delegado contou que, na última semana, Chorão se hospedou em quatro hotéis diferentes da capital paulista. Na última hospedagem, ele se desentendeu com funcionários do local.

O delegado afirmou ainda que Chorão acreditava que estava sendo perseguido. "Ele chegava em casa quebrando tudo, por isso a bagunça [no apartamento]".

Para o delegado, a hipótese de suicídio deve ser descartada. "Chorão tinha planos, não tinha esse perfil", contou o delegado. Ele acredita que o caso foi uma fatalidade e relacionar com overdose de drogas, neste momento, também seria "leviano".

De acordo com uma amiga da família de Chorão, ele vivia uma "forte recaída" no vício em cocaína e teria se negado a procurar tratamento contra a dependência. Segundo a fonte ouvida pelo UOL, o cantor era viciado em cocaína há anos e intercalava períodos de sobriedade com recaídas.

Biografia

Chorão -- batizado de Alexandre Magno Abrão -- formou a banda Charlie Brown Jr. na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, na década de 1990. Ele era o único integrante que permaneceu durante todas as fases do grupo, lançando nove discos de estúdio, dois álbuns ao vivo e duas coletâneas. O grupo vendeu mais de 5 milhões de discos e, em 2009, ganhou um Grammy Latino com o álbum "Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva".

O último registro da banda é o disco ao vivo "Música Popular Caiçara", que saiu no ano passado e marcou a volta dos integrantes Marcão e Champignon à banda, que haviam deixado o grupo em 2005. A banda estava de férias e o retorno seria durante um show no próximo dia 22 em Campo Grande, no Rio de Janeiro. Um show no Credicard Hall, no dia 6 abril, em São Paulo também já estava marcado.

A vida pública de Chorão foi marcada por uma série de desentendimentos entre os integrantes da banda e com outros músicos, como a conhecida briga com Marcelo Camelo, integrante do Los Hermanos, em 2007. Chorão agrediu o cantor na sala de desembarque do Aeroporto de Fortaleza e foi detido pela Polícia Federal.

Além da carreira musical, Chorão também escreveu roteiros, como do filme "O Magnata" (2007), dirigido por Johnny Araújo, e do longa "O Cobrador", que ainda está em produção. Ele também era dono do Chorão Skate Park, em Santos, uma pista de skate indoor.

Casado há 15 anos com a estilista Graziela Gonçalves, Chorão havia se separado dela em meados de novembro de 2012, mas o casal ainda não tinham oficializado o divórcio. Ele deixa um filho, Alexandre, de 23 anos, fruto da relação com sua primeira mulher, Thais Lima.

Repercussão

Ao saber da morte de Chorão, amigos e colegas do universo musical lembraram de seus últimos contatos com ele, sempre destacando sua personalidade explosiva e obstinada. Champignon, baixista da banda Charlie Brown Jr., disse que, apesar das desavenças, ele e Chorão eram amigos. "A gente tinha uma relação profissional. Apesar das muitas brigas, éramos amigos há mais de 20 anos", falou.

"Chorão era um cara diferenciado. Era jovem por dentro, tinha essa rebeldia que o cara novo gosta", destacou o produtor Rick Bonadio, que lançou o álbum de estreia do Charlie Brown Jr. em 1997 e tinha voltado a falar com o músico recentemente para mostrar novas faixas.

O jornalista José Julio Espírito Santo, que trabalhava na gravadora Virgin na época do primeiro disco, lembrou que, apesar de ser "uma pessoa muito amável em certos momentos", o músico parecia sofrer de "um transtorno bipolar sério, e que talvez nunca tenha tratado". "Ele tinha uma relação de amor e ódio com Rick Bonadio e o resto da Virgin. Eu, por algum motivo, era excluído disso e ele sempre se fechava na minha sala para pedir conselhos ou só bater papo e ouvir uns discos."

Johnny Araújo, que dirigiu "O Magnata" e diversos clipes da banda, resumiu: "Ele tinha uma atitude rock'n'roll. Era polêmico por ser verdadeiro, amava música e sabia o que queria. Era preciso ter sensibilidade para entender o jeito dele".

Uma das últimas pessoas a ter contato com Chorão, o radialista Tatola da UOL 89 FM, recebeu uma visita surpresa do cantor no dia 28 de fevereiro, nos estúdios da rádio paulistana. Durante o programa "Quem Não Faz, Toma", o cantor levou uma música inédita, intitulada "Meu Novo Mundo". Fora do ar, ele contou que estava muito abalado por causa da separação. "O apartamento estava bagunçado porque ele estava reformando e vivia fazendo festas. Não tinha nada de briga. Ele estava triste e se enfiou onde não devia se enfiar."

Pelas redes sociais, diversas personalidades lamentaram a morte de Chorão, entre elas o apresentador Luciano Huck, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, a apresentadora Ana Hickmann e os ídolos da torcida do Santos Neymar e Robinho.