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Após pausa, Blur fecha Planeta Terra com status de "clássico" do britpop

Mariana Tramontina, Patrícia Colombo e Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

09/11/2013 23h44

"Boa noite", disse Damon Albarn no microfone, prestes a encerrar a edição 2013 do festival Planeta Terra, que aconteceu neste sábado (9) no Campo de Marte, em São Paulo. Ainda que a saudação tenha sido em português, o som que veio a seguir foi a mostra mais emblemática do britpop dos anos de 1990. De volta ao Brasil depois de duas apresentações pouco prestigiadas em 1999, o líder do Blur trouxe seus companheiros de banda para ter essa dívida redimida. E o público --ainda que aparentemente em menor quantidade do que na plateia de Lana Del Rey, atração anterior-- os recebeu com adoração e cantos a plenos pulmões.

O Blur nunca chegou de fato a estremecer as bases brasileiras como seus eternos "rivais" do Oasis. Os irmãos Gallaghers dominavam as paradas do país com inúmeros hits, enquanto Damon e o trio Graham Coxon (guitarra), Alex James (baixo) e Dave Rowntree (bateria) ficaram mais conhecidos por aqui como a banda do "woo hoo", refrão do hino pop "Song 2".

O hiato da banda por quase uma década e encerrado em 2012, no entanto, deu ao grupo o status de "clássico". Os shows de 1999 no Rio e em São Paulo reuniram, ao todo, 3.500 fãs, bem longe do total de 27 mil pessoas que passaram pelo Planeta Terra neste sábado (segundo informações da produção do evento), boa parte levadas pelo quarteto britânico.

No festival, a plateia vibrou com faixas obscuras e menos conhecidas, como "Trimm Trabb" e "Caramel", passando pelas baladas "To the End" e "To Tomorrow", e aos hits óbvios de 20 anos atrás, como "Coffee and TV" (do clipe que mostra o romance entre duas caixinhas de leite) e "Parklife" --que ganhou a participação do ator Phil Daniels, estrela do filme "Quadrophonia", do The Who, e que gravou os vocais originais da música no disco homônimo de 1994.

"Tivemos ótimas semanas na América Latina. No Peru, no Chile, Uruguai, Argentina, e estamos aqui no Brasil, o grande! Obrigado", disse Damon, em uma das poucas vezes em que deixou o violão de lado para falar com a plateia. Aos 45 anos e cheio de energia, o vocalista --feliz com seu dente de ouro no meio da boca-- se entregava em cada canção, como se fosse a última vez, embora o grupo já tenha sinalizado que ainda pode lançar um novo álbum.

Munidos de um naipe de metais e um coral de mulheres, a banda mostrou versões encorpadas até mesmo para as canções que passavam desapercebidas nos discos, como "This is Low", enquanto Coxon, herói do rock alternativo, entregava microfonias e solos marcantes. "Under the Westway", uma das músicas mais recentes da discografia da banda (lançada em 2012, após o retorno do Blur) não chegou às paradas, mas no Brasil ganhou balões coloridos que pulavam em meio a plateia.

O Blur deixou para último ato a canção mais conhecida deles no Brasil --e no mundo--, "Song 2", junto com a existencialista "The Universal". E, dessa vez, nem banda nem plateia ficaram no saldo devedor. 


Sol e rock and roll

O festival Planeta Terra ganhou, este ano, nova casa. O evento --que já passou pela Villa dos Galpões, pelo Playcenter e pelo Jockey Club-- foi realizado pela primeira vez no Campo de Marte, onde há poucas semanas também recebeu o show do Black Sabbath. A nova instalação beneficiou a locomoção do público, já que os tradicionais dois palcos do evento foram instalados bem próximos um ao outro. A vantagem, no entanto, encontrou problemas com o vazamento de som quando um show começava antes do outro terminar.

Com número de público inferior à edição passada (30 mil frente aos 27 mil desta noite), o que se viu neste ano foram filas relativamente menores em bares e banheiros em comparação aos anos anteriores, e fácil deslocamento no imenso terreno que serviu para a instalação. A carência de brinquedos e pontos de diversão, uma das principais marcas do Planeta Terra, não foi suprida: as poucas opções restringiram-se à uma roda-gigante e a um tobogã montado por um patrocinador. Nada que roubasse tanta as atenções do item principal, que foram os shows.

No palco principal, os destaques foram a atração mais veterana do festival, os ingleses do Blur, e a cantora nova-iorquina Lana Del Rey, uma it girl do pop que mostrou ter muito apelo com o público feminino. Por lá também passaram os escoceses do Travis, liderado pelo carismático vocalista Fran Healy; o rapper carioca e ex-Planeta Hemp BNegão e os Seletores de Frequência; o trio O Terno fazendo som com influências do rock sessentista; e os paulistas do Hatchets, que abriram o festival às 13h45 e tocaram uma versão de "Rhythm of the Night", da Corona, dedicada ao "Rei do Camarote", um dos personagens mais falados nas redes sociais na última semana.

No palco alternativo, as atenções se voltaram para a mistura de sons do californiano Beck, que mesclou o repertório com rock, blues, eletrônico e folk; e para o cultuado e elegante The Roots, banda fixa do programa "Late Night with Jimmy Fallon" e considerado um dos melhores grupos de hip-hop da história. Foi neste mesmo palco também que se viu o quarteto Palma Violets, que não teve um bom repertório para acompanhar a energia dos músicos; a multifacetada Clarice Falcão e suas canções tragicômicas; e os estreantes do The Muddy Brothers, banda do Espírito Santo que ganhou um concurso promovido pelo evento.

Com sol forte, o público sofreu com a ausência de sombra no Campo de Marte e improvisou com sombrinhas e panos na cabeça. Até às 13h45, ainda haviam ingressos disponíveis na bilheteria do local pelo valor de R$ 350 (inteira). Cambistas também oferecem ingressos abaixo do valor oficial, com preços que variavam de R$ 200 a inteira e R$ 150 a meia.