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Exagero de cocaína e coração comprometido foram fatais para Chorão, dizem especialistas

Chorão se apresenta com o Charlie Brown Jr. em Balneário Camboriú, em janeiro de 2013 - Divulgação
Chorão se apresenta com o Charlie Brown Jr. em Balneário Camboriú, em janeiro de 2013 Imagem: Divulgação

Tiago Dias

do UOL, de São Paulo

05/04/2013 16h18

A quantidade de cocaína que causou a morte de Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr., no dia 6 de março, era exagerada e se enquadrava na zona letal, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

O laudo necroscópico do Instituto Médico Legal, divulgado na quinta-feira (4), apontou 4,714 microgramas da substância por mililitro de sangue no corpo de Chorão. Esta quantidade equivale a um consumo de aproximadamente 5 gramas de cocaína, segundo o médico psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Depentes Químicos da Unifesp). Essa quantidade varia para mais ou para menos dependendo do organismo de cada pessoa, mas é considerada, de qualquer forma, excessiva.

De acordo com o toxicologista Sergio Graffi, estudos dizem que a partir de 3,9 microgramas em cada mililitro de sangue, o quadro já oferece risco de morte.

A conclusão dos peritos é de que a morte foi causada por "intoxicação exógena devido à cocainemia". “Isso quer dizer que há uma concentração de cocaína, uma substância tóxica, no sangue. Embora o laudo aponte para isso como causa, ele pode ter sofrido um infarto, uma arritmia cardíaca. O que fica difícil atribuir como algo exclusivo só da droga, como o laudo dá a entender”, avalia Silveira.

O coração já fraco do cantor é considerado pelos especialistas como o fator agravante. De acordo com o laudo, o corpo de Chorão apresentava miocárdio hipertrófico (aumento do tamanho do músculo do coração) e coronarioesclerose grave (bloqueio das artérias coronárias por gordura).

“Um indivíduo com esses problemas faz com que o coração comprometido, cansado, trabalhe mais. Tudo isso faz com que o uso da cocaína seja letal, já que é uma substância cardiotóxica, que fecha as artérias”, explica Graffi.

“Com isso, você tem uma diminuição da circulação do sangue e o coração passa a bater com mais força e mais rápido para ultrapassar essa barreira que são as artérias fechadas. Você pode ter um derrame, um infarto agudo do miocárdio”, afirma o toxicologista.

Os peritos também apontaram que Chorão tinha nefroesclerose renal (alteração no tecido do rim), edema cerebral (aumento dos líquidos no sistema nervoso central) e esteatose hepática (excesso de gordura no fígado). 

Exame toxicológico ainda será divulgado
A possibilidade de Chorão ter ingerido, no mesmo dia, bebida alcoólica e medicamentos só aumentaria ainda mais o risco de morte.

“Essa quantidade de cocaína no sangue é alta, mas a cocaína e o álcool juntos criam uma molécula diferente e mais agressiva, chamada Cocaetanol. Há também vários medicamentos que podem potencializar o risco de morte de um usuário de cocaína. Um dos medicamentos que é letal é o antidepressivo, não sei se ele tomava. Mesmo sendo uma quantidade pequena no sangue, é fatal”, afirma Silveira.

Segundo a família de Chorão, o cantor estava com depressão por causa do término de seu casamento em 2012. No dia da morte, seu apartamento foi encontrado revirado, sujo, com garrafas vazias de bebidas alcoólicas, frascos do ansiolítico Lexotan e um pó branco que parecia cocaína.

O delegado Itagiba Franco, diretor da Divisão de Homicídios do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que cuida do caso, afirmou que informações mais precisas sobre a quantidade do medicamento e de bebida presentes no corpo do cantor serão divulgadas no exame toxicológico, que ainda será feito.

“Esse laudo divulgado é apenas necroscópico, para apontar a causa da morte. Posteriormente haverá um exame toxicológico para medir a presença de medicamento e álcool no sangue. É um exame que demora mais um pouco”, afirmou o delgado ao UOL, sem especificar o prazo para a divulgação dos resultados.

A suposta depressão, que chegou a ser negada por alguns amigos de Chorão, seria a causa do momento de surto que especula-se que o cantor tenha sofrido antes da morte – já que o local estava revirado, sujo e com marcas de sangue. “Isso é uma ação relacionada a depressão. As pessoas deprimidas têm mais risco de usar a cocaína para aliviar. Habitualmente não é uma ação típica de quem usa a droga”, afirmou o psicanalista Dartiu Xavier da Silveira.

Investigações
Chorão foi encontrado morto na madrugada do dia 6 de março em seu apartamento no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo.

As investigações começaram pelo exame do apartamento e depoimentos de vizinhos e funcionários do prédio onde Chorão morava, de Alexandre, filho de Chorão, e Thaís Lima, mãe do rapaz de 23 anos, e Graziela Gonçalves, ex-mulher de Chorão, e dos integrantes da banda Charlie Brown Jr.

No entanto, esperava-se desde o início que toxicológico e a necropsia seriam essenciais para a elucidação do caso.

Biografia

Chorão -- batizado de Alexandre Magno Abrão -- formou a banda Charlie Brown Jr. na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, na década de 1990. Ele era o único integrante que permaneceu durante todas as fases do grupo, lançando nove discos de estúdio, dois álbuns ao vivo e duas coletâneas. O grupo vendeu mais de 5 milhões de discos e, em 2009, ganhou um Grammy Latino com o álbum "Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva".

O último registro da banda é o disco ao vivo "Música Popular Caiçara", que saiu no ano passado e marcou a volta dos integrantes Marcão e Champignon à banda, que haviam deixado o grupo em 2005. A banda estava de férias e o retorno seria durante um show no próximo dia 22 em Campo Grande, no Rio de Janeiro. Um show no Credicard Hall, no dia 6 abril, em São Paulo também já estava marcado.

A vida pública de Chorão foi marcada por uma série de desentendimentos entre os integrantes da banda e com outros músicos, como a conhecida briga com Marcelo Camelo, integrante do Los Hermanos, em 2007. Chorão agrediu o cantor na sala de desembarque do Aeroporto de Fortaleza e foi detido pela Polícia Federal.

Além da carreira musical, Chorão também escreveu roteiros, como do filme "O Magnata" (2007), dirigido por Johnny Araújo, e do longa "O Cobrador", que ainda está em produção. Ele também era dono do Chorão Skate Park, em Santos, uma pista de skate indoor.

Casado há 15 anos com a estilista Graziela Gonçalves, Chorão havia se separado dela em meados de novembro de 2012, mas o casal ainda não tinham oficializado o divórcio. Ele deixa um filho, Alexandre, de 23 anos, fruto da relação com sua primeira mulher, Thais Lima.