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Heavy metal mostra seu lado mais teatral no encerramento do Monsters

Marco de Castro e Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

27/04/2015 05h50

O heavy metal mostrou seu lado mais teatral na segunda e última noite do festival Monsters of Rock, realizado neste final de semana em São Paulo.  Do "teatro farofa" dos californianos Steel Panther ao circo pirotécnico do KISS, passando pela apresentação com ares medievais do Manowar, os shows alternaram momentos catárticos com outros de puro riso, caretas, explosões e sangue cenográfico.

O dia teve início com a fraca performance da banda Dr. Pheabes, a única 100% nacional que se apresentou no evento. O show não empolgou ninguém, tanto pelo horário, pouco depois do meio-dia, quanto pela qualidade da atração.

Comandada pelo excêntrico vocalista Michael Starr, cópia de Dave Lee Roth, do Van Halen, a banda satírica Steel Panther veio em seguida para mudar o jogo e incorporar todos os clichês do glam metal de Los Angeles dos anos 1980 - das maquiagens carregadas e roupas justas ao festival de topless que conseguiu promover ao incentivar as garotas da plateia a levantarem suas blusas. Em um show de música e também de comédia, arrancou risos e muitos aplausos da plateia. Certamente um dos momentos mais divertidos do Monsters of Rock.
 
Já banda nova-iorquina Manowar, que diz ser a única tocar o "true metal" (o único metal "de verdade"), também se destacou com integrantes que parecem ter saído do desenho do He-Man. A apresentação, certamente a que levou os altos falantes do Anhembi a seus níveis mais altos de som, teve direito a discurso em português do baixista Joey DeMaio, que conclamou os fãs a xingarem seus detratores. Com seu simbolismo próprio e acompanhado por fãs fervorosos que "batiam" cabeça e faziam gestos característicos com os braços, o show teve jeito de missa maçônica
 
Nomes como o do guitarrista Yngwie Malmsteen e Unisonic trocaram a encenação pelo virtuosismo. Malmsteen subiu ao palco com seu show de heavy metal épico e erudito e, por pouco menos de uma hora, dedilhou o seu instrumento em solos intermináveis, acompanhado de uma banda competente. Recebido com certa frieza no início, Malmsteen foi aos poucos ganhando a plateia e acabou aplaudido, após despedaçar sua guitarra no chão - outro clichê manjado dos shows de rock pesado que voltaria a ser repetido no final apoteótico do show do KISS.

Supergrupo alemão formado por ex-integrantes de bandas como Helloween e Gamma Ray, o Unisonic também fez uma performance recheada de virtuosismo, vocais agudos e sonoridade épica, que satisfez os fãs de metal melódico. Mas o público só vibrou mesmo quando outra banda alemã, o Accept, deu início ao seu show no início da noite, com o Anhembi mais cheio. Formado nos anos 1970, o grupo tocou um clássico atrás do outro para uma plateia extremamente empolgada, que cantava os refrãos em coro e de punhos cerrados no ar. 
 
Única banda a tocar nos dois dias do festival, o Judas Priest foi a penúltima atração da noite, fazendo um show totalmente idêntico ao do dia anterior, com direito a diversas trocas de roupa e a entrada de uma moto Harley Davidson no palco. Nem a ordem das músicas nem as falas do vocalista Rob Halford - que elogiou os fãs brasileiros e lembrou que faz heavy metal há mais de 40 anos - foram alterados. O frontman, no entanto, mostrou que sua voz não sofreu nenhum prejuízo apesar de ter se esgoelado com toda força no sábado. No segundo show, ele soltou os mesmos gritos agudos, sem falhar.
 
O mesmo não se pode dizer de Paul Stanley, guitarrista e vocalista do KISS, atração que fechou o festival. Logo nas primeiras músicas, já era possível perceber que a voz de Stanley não conseguiria atingir as notas mais agudas. Mas a plateia, hipnotizada pelo setlist recheado de hits e principalmente pelo espetáculo visual que inclui roupas espalhafatosas, fogos de artifício e até momentos em que os músicos de caras pintadas "voam" por sobre o público, pareceu não ligar para isso. 

Devido aos atrasos que ocorreram durante todo o dia e, principalmente, no show do KISS - que só entrou para tocar 40 minutos após o previsto -, o Monsters acabou quase às 2h da manhã de segunda-feira. Difícil para os metaleiros que cantaram os versos de "Rock and Roll All Nite" até o fim diante de fogos de artifício e chuva de papel picado e terão de acordar cedo e cair na real depois de um final de semana desses.